EDIÇÃO 35 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Informação e experiência

Um Papo Sobre Ranges de Mãos


Diógenes Malaquias

Colocar o adversário em uma mão ou em poucas variedades de mãos nos ajuda a tomar decisões mais precisas e, por isso mesmo, mais lucrativas no longo prazo. Assim, dando continuidade às nossas conversas sobre cash games online de micro e low limits, nesta edição trabalharemos um aspecto fundamental para nosso aprendizado: os ranges.

Há duas maneiras de colocar nossos adversários em um pequeno range: I – analisando as informações; e II – por experiência. Vamos a elas:

Analisando as Informações
Para os fins de nossa análise, as informações possíveis são: nossa imagem e a do adversário, nossas posições na mesa, a quantidade de fichas de cada um, o histórico entre ambos, as ações pré-flop e pós-flop de ambos, e as cartas na mesa. Para ficar mais claro, vamos a dois exemplos:

Exemplo A – Todos com 100 big blinds, jogador 1 entra de limp do UTG.

Leitura da situação: jogador fraco passivo; muitos limps e calls em raises pré-flop com mãos fracas; muitos calls pós-flop. Nossa imagem é de jogador sólido, mas esse tipo de adversário não dá atenção a isso. A mesa roda em fold, e nós aumentamos do button com KQ do mesmo naipe. Os blinds dão fold e o UTG paga, como previsto.

Range do adversário: praticamente quaisquer duas cartas. Fora do range, apenas mãos muito fracas como 8-2, J-3, Q-5 etc.
Flop: K-9-7 com flush draw de outro naipe.

Nosso adversário, fora de posição, pede mesa. Sendo passivo, ele vai pagar nossa aposta com um range consistente em qualquer par e qualquer draw. Assim, nosso top par e bom kicker está bem à frente do range dele, portanto, vamos apostar pelo valor. Reparem que definir um range para ele nos ajuda bastante a tomar a melhor decisão na hora de agir. Com esse range, podemos concluir que seria lucrativo apostar pelo valor com uma mão como A-9 ou Q-9, pois seu range de call é muito amplo.

Exemplo B – Todos com 100 big blinds, a mesa roda em fold até você, que dá raise com par de ases do cutoff. O button e o small blind largam, e o big blind volta reraise.

Leitura da situação: jogador maníaco que dá muito 3-bet;  muito agressivo, que gosta de pressionar e desiste fácil se pressionado. Nossa imagem é de que jogamos muitas mãos, mas somos bons. (Considero comum enfrentar jogadores com essas características).

Range do adversário: qualquer par na mão maior do que 5-5. Duas cartas altas. Algumas cartas baixas conectadas e do mesmo naipe, como 8 7.

Contra esse range, somado às características do adversário, podemos concluir que é mais lucrativo fazer slowplay pré-flop, apenas pagando o reraise. Afinal, estamos em posição e nossa mão é muito mais forte do que o range do adversário, que por sua vez é bastante agressivo e deve apostar no flop. Se voltarmos reraise pré-flop, ele deve desistir na maioria das vezes.

Por Experiência
Jogo poker há cinco anos. Devo ter disputado alguns milhões de mãos e já pude observar a mesma situação ocorrer diversas vezes. Algumas delas possuem uma característica peculiar: o adversário quase sempre tem o mesmo range. Com isso, podemos tirar proveito de já termos uma leitura precisa do range dele sem fazer esforço. Vejamos algumas dessas situações:

Limp-raise pré-flop
O limp-raise pré-flop sinaliza um adversário que quer montar uma armadilha com uma range de mãos muito Forte. Em geral, não enfrento um adversário que usa essa linha sem ter uma mão muito forte.

Sair apostando no flop (donk bet)
Uma donk bet acontece quando o adversário que só pagou o raise pré-flop sendo o primeiro a falar aposta no flop. Esse movimento é normalmente feito com a intenção de saber onde se está ou de roubar primeiro. Logo, o range do adversário é fraco. Desse modo, quando eu tenho uma mão fraca, sempre dou raise contra a donk bet.

Call pré-flop / Call no flop / Bet no turn
Essa linha em que o adversário só paga pré-flop e no flop, e sai apostando no turn, geralmente também indica um range de mãos fraco querendo levar o pote à força. Aqui, meu maior argumento é já ter vivido essa situação milhares de vezes e ter observado sempre um range fraco por parte dos adversários. Minha estratégia é dar raise forte no turn quando tenho uma mão fraca, e só pagar no turn com uma mão forte com a intenção de extrair mais fichas no river.

Call pré-flop / Call no flop/ Check-raise no turn
Quando o adversário apenas paga pré-flop e no flop, e depois aplica o check-raise no turn, ele tem um range muito forte. Na Internet existe um conceito bastante difundido, que se chama “Teorema do Baluga” e trata exatamente dessa linha. Ele diz: “Você deve fortemente reavaliar a força das suas mãos com um par quando enfrenta um aumento no turn”. Diante disso, não recomendo continuar na mão contra essa linha se não tivermos pelo menos dois pares bons.

Call pré-flop / Call no flop / Call no turn / Bet no river
Enfrentar essa linha em que o adversário paga passivamente desde antes do flop até o turn e sai apostando no river, equivale a encarar um range extremamente forte. Nós demonstramos força durante toda a mão, mas mesmo assim o adversário faz uma aposta no river. Pensando nisso, já vemos que ele pretende muito mais extrair valor do que blefar. Ainda há o fato de eu já ter observado essa linha várias vezes, em que o oponente praticamente sempre tem um range forte.

Quero ressaltar que alguns jogadores muito bons vão perceber que você conhece o range padrão dessas linhas de ação e vão jogar exatamente com o range contrário para lhe confundir. Fique tranquilo, pois esses oponentes são raros, e na primeira vez que eles usarem esse raciocínio você já estará “vacinado” para as próximas mãos.

Um último aviso é para vocês não ficarem confusos e entrarem num jogo de “ele sabe que eu sei que ele sabe...” Até que o adversário prove o contrário, tenha em mente que ninguém conhece essas linhas e que ninguém sabe que você as conhece. Até a próxima!




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