EDIÇÃO 34 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Poker S/A - "Staking" pode ser um bom negócio


Túlio Sá

Se você é jogador de torneios, sabe o quanto é caro disputar os eventos mais importantes ou mesmo a “a reta toda”. Para viabilizar esse investimento, surgiu dentro da comunidade do poker uma espécie de mecenato, um modelo de cotas que se parece com uma companhia S/A, o chamado “staking”.
Funciona da seguinte maneira: os jogadores separam uma grade de “X” torneios, normalmente variando de 50 a 150 eventos, somam os valores e dividem em cotas (geralmente 100), que são vendidas a investidores comuns ou a outros jogadores. O que eles ganham com isso? Ou melhor, o que o poker ganha com isso?

Na visão do investidor – que funciona como uma espécie de “mecenas do poker” – comprar uma cota de um grande jogador online, cujo retorno pressupõe-se ser mais garantido, possibilita, além de lucrar um valor interessante em poucos dias (geralmente um staking não dura mais do que um mês), ajudar no crescimento do poker nacional, criando um círculo virtuoso: mais jogadores disputarão os eventos maiores e os resultados expressivos terão destaque na mídia, podendo até gerar patrocínios, aumentando a visibilidade do nosso esporte da mente.

Da parte do jogador, não ter que suportar a grande variância provocada pelos inúmeros torneios já é um belo incentivo. Some-se a isso o fato de ele poder escolher os torneios certos em termos de buy-in (ou então as séries especiais, com boas prize pools), de field, além da atenção exclusiva à grade, e o jogador estará muito mais apto a executar seu melhor jogo.

O poker ganha muito com isso. O jogador disposto a expor sua imagem deve estar ciente de que precisa se manter sempre estudando e sendo exemplo de disciplina e determinação.  Dessa forma, mais e mais jogadores encararão o poker como profissão, aumentando o nível do poker nacional como um todo.

Entretanto, para a “abertura de capital” da Poker S/A, algumas consideracoes sao válidas: os jogadores devem ter consciência do seu nível de jogo, colocando em suas grades apenas torneios que estão habituados a jogar. Não adianta ser jogador de MTTs $22 e dar tiros em eventos de $1.000 só porque não estará tirando do seu bankroll. Eu até concordo com tiros esporádicos de $100 ou $200, por exemplo, pois, ainda que estejam relativamente longe de sua grade habitual, são interessantes para melhorar a qualidade do seu jogo e, claro, para o caso de bater algo.

Para o investidor, saber em quem aplicar seu dinheiro é fundamental. Existem sites que mostram o ROI (Return Of Investment), média de torneios ou de buy-ins por mês etc. Também é importante que esse novo “mecenas” saiba ter paciência, já que os resultados no poker vêm no longo prazo. Pode acontecer de o jogador não estar bem no início da série, e só no fim garantir o lucro, bem como o retorno pode não ser o esperado naquela oportunidade.

Atualmente, um modelo específico de staking tem chamado minha atenção. Por exemplo, vamos supor que a soma de todos os torneios totalize $50 mil. Dividindo isso por 100, cada cota custará $500. O objetivo inicial do jogador é quitar a divida com os cotistas, e o que vier depois disso – o famoso lucro – será dividido à razão de 0,5% para cada cota, mais o dinheiro investido de volta (ou seja, o jogador ficará com 50% dos lucros). Justo? Se levarmos em conta que o jogador é experiente, que está sempre estudando e se atualizando para poder encarar o field, sim, é justo. Até porque devemos considerar que, caso não gere lucro, ele terá jogado um mês inteiro e não terá acesso ao retorno obtido, conforme previsto neste modelo.

Acredito que o staking seja benéfico para o poker brasileiro, pois ajuda a levantar bankroll e a criar uma maior socialização, além de uma boa dose de torcida. Para encerrarmos nosso papo deste mês, gostaria de citar Benjamin Franklin, que afirmou que "Investir em conhecimento rende sempre os melhores juros".




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