EDIÇÃO 34 » COLUNA NACIONAL

"Call Superficial"

Mais uma jogada para o cash game


Felipe Mojave

Vocês já ouviram falar em “call superficial”? Não? Também pudera, esse foi um nome que eu inventei para uma jogada que aconteceu recentemente. Nesta coluna, vocês vão entender por que batizei-a assim.

O jogo era No-Limit Hold’em com blinds $5-$10. Depois de umas duas horas, aconteceu este embate entre mim (com $2.700) e um senhor bastante inteligente e experiente (com $2.400). Houve dois limpers em middle position e meu adversário aumentou para $50 no button. Eu tinha JJ e aumentei para $150 no big blind. Os limpers deram fold, mas ele pagou.

Detalhe: esse senhor é um jogador tight-aggressive e bem conhecido. Nesse momento, já eliminei totalmente a possibilidade de ele ter um par maior do que o meu, assim, defini mais facilmente o range dele devido ao flat-call no meu reraise. Grandes chances de ser AK ou um par médio. Não tinha como ser muito diferente disso, já que ele dificilmente tentava alguma armadilha (aliás, nunca vi nenhuma da sua parte), e com pares altos ele voltaria 100% das vezes com uma 4-bet.

O flop veio 2-3-3 com duas cartas de espadas. Saí apostando $250 e ele aumentou instantaneamente para $700. Apesar de ter um perfil tight-aggressive, era um jogador inteligente. Não acreditei aqui que ele teria feito essa jogada com uma trinca, então me sobrou o range dos pares médios para colocá-lo, sem contar que esse aumento no flop serve também para analisar se eu estou fazendo uma c-bet ou não (esse cara tinha sim um certo complexo de ser empurrado e às vezes ficava de saco cheio e tiltava, o que acabava numa jogada muito ruim).

Desse modo, dei somente call no reraise, e o turn foi uma carta excelente na minha visão: 7, que deixou o bordo com 2337. Pela minha teoria, agora ficou fácil definir com grande exatidão onde ele estava e, portanto, dei check para observar a sua ação. Se ele optasse pela carta grátis, eu acreditava que ele poderia ter duas overcards ou um par médio, conforme previmos. Se ele apostasse, eu já tinha definido que seria algo como overcards com flush draw, mas com uma enorme chance de ser um blefe. Sim, como eu disse, ele blefava quando estava meio tiltado.

Mal deu tempo de eu terminar de bater com a mão na mesa dando check para ele anunciar all-in. E não demorou muito para eu dar o call, pois meu raciocínio já estava formado. Ele abre A7, ou seja, realmente estava no flush draw e acertou um par no turn, e eu era favorito em 70% pra vencer a mão. Infelizmente, o river foi um 5 e, frente às reações de "Ohhh!"da mesa, perdi essa mão. Eu sabia exatamente onde eu estava e acho que joguei o melhor poker possível aqui.

Voltando ao termo “call superficial”, essa é uma jogada que eu batizei assim pelo fato de saber que, por mais que o call seja um tanto quanto marginal nessa situação, o range do meu adversário era curto e bem definido na minha cabeça, e 100% das mãos que eu coloquei no range dele perdiam para o meu JJ. Pois, superficialmente (ou seja, com qualquer par acima de 7), eu acreditava que meu call seria muito bom. Esse conceito também é bastante similar ao Relative Hand Strengh, que significa "valor da minha mão contra todo o potencial range de hands do meu adversário".

Espero que vocês tenham gostado do raciocínio dessa jogada, pois é infinitamente mais importante entendê-lo do que apenas observar como foi que eu joguei a mão, ou o resultado da ação propriamente dito.




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