EDIÇÃO 33 » ESPECIAIS

Donkeys Geniais: Kalil e Lanza estão de volta!

Eles apareceram de forma despretensiosa. Mineiramente, foram ganhando espaço na comunidade brasileira do poker. Com entrevistas antológicas, inteligência e bom-humor, eles fizeram do podcast um dos veículos mais inovadores e surpreendentes do poker brasileiro. E agora estão de volta, com um novo formato, novos projetos e a descontração de sempre. Há quem diga que eles são os donkeys mais geniais do poker brasileiro: fique a vontade para tirar suas conclusões. Com vocês, Guilherme Kalil e Marcelo Lanza, com exclusividade para os leitores da CardPlayer Brasil.


Bruno Nóbrega de Sousa

Bruno: Quem os conhece, sabe que vocês têm uma amizade realmente verdadeira. Eu gostaria que vocês contassem como surgiu essa amizade, que começou muito antes de tudo isso aqui.

Kalil:
Na verdade, o mais bizarro de tudo é que o poker é parte importante no começo da nossa amizade. Eu entrei para a faculdade de engenharia em 1996, e o Lanza, em 1999, ambos na FUMEC. Logo ele se torna o presidente do Diretório Acadêmico, onde a gente jogava totó, truco etc., e apresenta o five-card à galera. Até então eu não jogava poker, e foi aí que a gente se conheceu.

Lanza: É, foi assim mesmo. Salvo engano, a primeira vez que tomei uma cerveja com o Kalil foi depois de um show da banda dele, o Ramones Cover, no DA. Aliás, acho que as únicas coisas que fiz durante os dois anos de presidência do diretório foi dar cerveja grátis pra galera e apresentar o five-card ao pessoal [risos]. Outro ponto importante para nossa empatia é que somos atleticanos. Na época, a gente ia muito ver jogo e tal. Isso contribuiu para nossas conversas. Depois o Gui se formou, e passamos a ter menos contato.

Bruno: Entre a falta de contato com o término da faculdade e chegada do podcast há um hiato considerável. Como surgiu a ideia de criar o programa?

Lanza:
Algum tempo depois a gente se encontrou de novo, curiosamente, num jogo de poker. E então passamos a conversar sobre poker no Skype, e esses papos duravam horas. Foi quando descobri que o Gui – e isso é fato consumado – é um dos maiores estudiosos de poker do Brasil: pouquíssimas pessoas no país leram tantos livros e estudam tanto quanto ele. Daí essa necessidade de falar, de conversar sobre o assunto. E isso foi muito bom para ambos: nosso jogou melhorou muito com a discussão de mãos, até que um dia... Vou deixar você falar, que o projeto é seu [risos].
Kalil: Na verdade é nosso. E uma coisa que é importante dizer é o seguinte: sou um estudioso de poker porque quem não tem talento tem que estudar mesmo, não tem jeito [risos]. Já o Lanza é um cara que tem um feeling realmente diferenciado para jogo. Se eu, por um lado, li quarenta livros de poker até agora, o Lanza é aquele sujeito que tem a capacidade de pegar uma modalidade que nunca viu e, em dois minutos, estar jogando com lógica e com compreensão das nuances. Isso é muito fácil para ele.

Sobre como surgiu a ideia, bem, eu já ouvia vários podcasts internacionais: o Ante Up, o Hold’em Radio e mais uns três ou quatro, e decidi: “cara, vou fazer um podcast no Brasil”. E pensei em quem poderia fazer isso comigo, pois eu não teria a menor condição de fazer isso sozinho. Imediatamente, a única pessoa que me veio à cabeça foi o cara com quem eu discutia duas horas de poker todo dia. Liguei para o Lanza, ele deu insta-call. Então vim aqui na CardPlayer Brasil – eu já conhecia o Bruno e o Renato, tanto por comprar a revista e os livros, como porque eu já tinha publicado um artigo sobre razz na edição nº 5 – que também topou na hora. Foi assim que começou tudo isso.

Bruno: Depois de quase dois anos de podcast, vocês decidiram dar uma parada no programa. Os ouvintes e leitores devem estar curiosos para saber o porquê.

Kalil:
Na realidade foi o seguinte: a gente estava num momento em que começava a sentir que o Podcast tinha ganhado um peso muito grande dentro das nossas vidas. Fazer o programa dá um trabalho muito grande, sem falar na responsabilidade que é carregar o nome da CardPlayer Brasil. Era preciso parar e pensar como viabilizar a continuidade do programa, pois, junto com todas as coisas boas que ele trazia para nós, vinham também as responsabilidades: quando atrasava um programa, só eu sei o que virava meu Twitter e meu Orkut [risos]. Então, eu e o Lanza paramos e estudamos uma forma de fazer valer a pena, além do carinho que a gente recebe dos ouvintes, além de todo o trabalho que a gente tem, de todo o tempo que a gente deixa de passar com as famílias para poder fazer o programa. E com essas modificações, acho que encontramos uma solução bacana.

Bruno: Como vocês disseram, o podcast vem ocupando cada vez mais espaço nas suas vidas.  Como suas famílias lidam com toda essa dedicação que vocês têm ao poker em si?

Lanza:
Hoje não é tão difícil – já foi mais. Atualmente, o poker ocupa numa rotina que eu criei para mim. Como eu sou jogador de torneio, sento e não sei a hora que vai acabar. Isso sim é complicado. Tenho dois filhos, uma menina de nove anos e um menino de um ano. Eu os coloco para dormir às nove da noite, enquanto minha mulher está na faculdade, e depois me sento para jogar religiosamente naquela hora. Por isso, tento pegar torneios com field menor.

Kalil: Na verdade, sou jogador de cash games por conveniência. Tenho uma vida absolutamente tranquila com minha esposa, Manoela. Nosso relacionamento é de um respeito absurdo com relação a tempo, às atividades que cada um tem e tal. A gente não precisa estabelecer limites um para o outro – já sabemos muito bem quais são. Tem dias, por exemplo, que ela trabalha até as oito da noite, então, na hora que ela chega em casa, eu simplesmente desligo o computador, fecho minhas mesas e vou ficar com ela. Não por ser uma demanda dela, mas por ser algo que eu quero fazer. Por isso, mesmo adorando torneios, me considero jogador de cash games, SNG e SNG Turbo.

Bruno: Ao longo de um ano e meio de programa, de várias entrevistas e quadros, certamente houve momentos antológicos no programa. Quais passagens vocês consideram mais marcantes na história do podcast?

Lanza:
Para mim, são dois momentos. Um deles acho que foi no segundo programa, se não me engano, uma “mão da quinzena” em que eu pego o Guilherme. Eu conto a mão normalmente, uma bad beat na Internet em que um sujeito quebrava um par de ases, digo que é de um ouvinte e peço ao Gui para comentá-la. Só no final eu conto que a mão tinha sido jogada por ele mesmo, e que fui eu quem aplicou a bad beat nele. Aí foi aquela zoeira [risos].

Outro momento que eu considero dos mais importantes foi a entrevista com o CK. Primeiro, porque eu admiro muito a história dele, mas também por que ele era um cara, digamos, antipatizado. Injustamente, aliás. A entrevista que o Gui bolou, a forma ela foi conduzida, ganhou o carinho não só dos ouvintes, mas dos profissionais em geral com o programa, e acho que ajudou muito a imagem do CK. Acho que, dali em diante, nós ganhamos não só o carinho, mas também o respeito das pessoas.

Kalil: Quanto a essa pegadinha da mão, na hora em que o Lanza conta que a mão é minha, é como quando os meninos da Caverna do Dragão enfiam a cabeça no portal para outra dimensão e veem o parque de diversões, sabe? [risos] Foi realmente bizarro pensar que eu analisei a mão, e que em alguns momentos cheguei a falar que a jogada era errada e tal, e era eu que estava jogando ali e não sabia.
Dois momentos eu acho bem bacanas. Um deles, na hora da entrevista do Marcelo “Urubu”, um dos maiores talentos do cash game brasileiro, em que a entrevista toda estava sendo completamente social, e de repente eu pergunto para ele sobre tilt e ele solta: “Po**a, meu, tilt é uma mer**! Eu perco uma cara**ada de grana!” [risos] Ele chuta a lata do negócio. E eu praticamente nunca corto um entrevistado, sempre respeito o que o cara fala, com palavrões e tudo. Afinal, eu sempre soube que aquilo não era dirigido à rádio aberta e que tinha um público adulto. Engraçado é que, na semana seguinte, quando fui jogar um torneio em outra cidade, liguei para minha mãe e disse: “Mãe, já cheguei aqui no local do evento”, e ela respondeu, “Vê se não perde uma cara**ada de grana!” [risos]

Outro momento que eu não posso deixar de registrar – mesmo deixando claro que tenho muito carinho com todas as entrevistas – é a que a gente fez com o Christian Kruel. É daquelas que você vira para um garoto que quer começar a jogar poker e diz: “Escute isso aqui, para você entender o que deve e o que não deve fazer”. É uma aula de poker e de vida em todos os aspectos. Fez tanto sucesso que, mal colocamos a entrevista no ar, tivemos preparar uma segunda parte, de tão grande que foi a demanda. E o CK nos atendeu de novo, com o mesmo carinho de sempre.

Bruno: Na comunidade do poker, a expectativa pelo lançamento do novo podcast é grande. Quais novidades os ouvintes vão encontrar?

Kalil: São várias novidades, a primeira é que o programa agora se chama Pokercast. Teremos vários quadros novos, como o “quem faz pelo poker”, e a volta da “análise de mão”, que a galera tanto gosta. E, claro, vou continuar a espetar o Lanza o tempo todo [risos]. Outra grande novidade é a criação do nosso programa de rakeback, que a gente tá desenvolvendo junto com o Eduardo Roseira, publicitário de mão cheia, formado em cinema e jogador de poker dos bons. Com esse conhecimento, ele chegou chutando a porta, colocou tudo no chão e começou tudo de novo. Já a partir do primeiro programa dessa nova fase, o pessoal vai poder perceber o efeito da profissionalização do Pokercast, trazida pelo nosso amigo Roseira.

Lanza: Acho que o grande lance dessa pausa para o retorno é que o Roseira conseguiu transformar o pokercast em produto. Já era um programa bacana, agora, com o nosso portal de rakeback, temos o diferencial de que o ouvinte vai sempre ter a oportunidade de continuar ganhando. Falo isso porque existem muitos sites desse tipo que, quando acaba a promoção, o usuário não ganha mais nada. Na proposta do Pokercast, quando terminar a primeira promoção, nós vamos lançar uma nova para o mesmo ouvinte, que sempre vai ter oportunidade de ganhar alguma coisa. Vamos disponibilizar os mais variados produtos possíveis, desde assinaturas da CardPlayer Brasil, passando por livros da Editora Raise, Hold’em Manager e muito mais. Os ouvintes vão ter um leque de opções que eles vão poder recuperar – além do rake, claro. Sem falar que facilitamos a vida de quem quiser anunciar, pois os spots de propaganda agora estão bem definidos. Também tem a questão da periodicidade: serão três programas por mês, com intervalo de dez dias entre cada um. Assim, todo mundo vai saber com bastante antecedência quando cada programa irá ao ar.

Bruno: Além do Pokercast, no que vocês estão trabalhando dentro do poker? Quais são seus projetos paralelos?

Kalil:
Bem, o poker já é um projeto paralelo meu. Não sou um jogador profissional nem jornalista profissional, essas não são minhas atividades principais. Trabalho como engenheiro, e no ramo imobiliário. Como eu adoro a parte técnica e social do jogo, frequento fóruns de discussão e tal, recentemente recebi uma proposta incrível do Caio Brites e do Sketch, que me convidaram para fazer parte do time de torneios do 4bet, o fórum de poker que eles criaram. Sou usuário do fórum e tenho muito carinho pelo trabalho que eles vêm desenvolvendo.

Lanza: O poker está tomando uma dimensão cada vez maior na minha vida. Já não é mais um projeto paralelo apenas. Parte da minha jornada de trabalho eu passo com meu pai, no escritório de perícia dele. Há algum tempo, recebi um convite do poker4green, para ser um dos seus representantes no Brasil. É um site novo, filiado à rede Cake, e irá ao ar nos próximos dias. O poker4green tem esse nome exatamente pelo fato de que parte do rake gerado pelos jogadores será destinado a um projeto social em defesa da Amazônia. Quer dizer, os jogadores brasileiros vão poder fazer um pouquinho da sua parte.

Como estamos eu e o Mateus Pimenta no projeto, sempre trabalhando juntos, ele automaticamente está me dando coach de cinco a seis horas diárias. Então, estou num ponto de aprendizado e evolução muito surreal: estou remodelando toda minha ideia de poker na cabeça, me reinventando como jogador. Hoje, eu realmente já penso mais em seguir algo nessa linha mesmo. A partir da etapa de Curitiba, também devo disputar o BSOP pelo poker4green.

Bruno: Gostaria que deixassem uma mensagem para os ouvintes e leitores da CardPlayer Brasil, que tanto curtem o programa de vocês.

Kalil:
A mensagem que eu tenho para o pessoal da CardPlayer Brasil, tanto aos leitores e ouvintes do podcast quanto à equipe da CardPlayer Brasil é a mesma: muito obrigado. Muito obrigado aos nossos ouvintes pelo carinho, pela atenção, pelo barulho que fazem no Twitter, e no chat, quando estou jogando online. E à CardPlayer Brasil, muito obrigado pela confiança, pelo carinho e pela total liberdade como jornalista – isso é algo que, para mim, não tem preço. Obrigado especial também ao Bernardo, que é parte essencial de todo o processo com a gente.

Lanza: Eu quero agradecer a todo mundo mesmo, o carinho da equipe da CardPlayer Brasil – vocês são mesmo muito doidos. Chegaram uns malucos batendo na porta, dizendo: “A gente tem um Podcast, quer?” E vocês deram insta-call. Quero agradecer aos ouvintes do programa e aos leitores da revista pelo carinho. É uma coisa que não tem comparação, e que eu acho que nunca teria a oportunidade de sentir se não fosse através de vocês. Quando você chega num torneio e alguém lhe reconhece e lhe dá um abraço, é sensacional. Ou quando você está jogando online e os caras entram no chat e barbarizam. Ao Gui, só tenho a agradecer pelo companheirismo, pelo crescimento que tivemos juntos, ao longo desse processo – acho que a gente ainda vai alcançar grandes voos com tudo isso. Então, o que eu queria realmente era agradecer. Muito obrigado.




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