EDIÇÃO 33 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Convergir para Conquistar

Conhecimento de Outras Variantes Aplicado aos Torneios Multitable


Túlio Sá

Passei um bom tempo decidindo o que ser dentro do poker. Comecei jogando SNGs, depois fui para o Double-or-Nothing e agora estou me dedicando aos heads-ups. Também tenho estudado cash games de hold’em e, aqui e ali, arrisco um “cashzinho” de Omaha. Mas o que sempre achei mais prazeroso foi jogar torneios de fields grandes.

Neste meu artigo de estreia na CardPlayer Brasil, gostaria de entrar em um mérito pouco discutido, mas que influencia diretamente nossa qualidade como jogador de torneios: a importância de conhecer outros estilos e utilizar conceitos primordiais para o sucesso em cada um. Trocando em miúdos, o que cada modalidade me ensinou que eu posso utilizar em torneios?

Sit ’n Go

Jogando SNGs de mesa única, aprendemos a entender o funcionamento da mudança de blinds e a reação que devemos ter a isso. Quanto menores os blinds, menos eles afetarão seu stack; quanto maiores eles forem, mais importante se tornará para você ganhá-los e impedir que seus oponentes os ganhem, o que nos força a entrar com mais mãos iniciais. Jogando várias mesas ao mesmo tempo na Internet, aprendemos a controlar as mãos iniciais que, ao longo do tempo, se mostrarão mais lucrativas. Também passamos a compreender melhor conceitos como posição – o que me ajudou a pressionar os adversários nas horas certas –, sem falar que nos familiarizamos ainda com odds e com a parte matemática do jogo.

Double-Or-Nothing

Com os famosos “dobro-ou-nada” (mesa com dez pessoas em que os cinco primeiros levam o mesmo prêmio), aprendi que é preciso focar em sobreviver no começo. Isso me mostrou que jogar muitas mãos pode provocar uma eliminação precoce ou o ganho de poucas fichas. Quanto à reta final, essa modalidade nos ensina que agressividade gera medo, que, por sua vez, gera lucro – sabe aquele medo de pagar um all-in e ser eliminado? “Por que não deixar que outro jogador dê call?”, é o que muitos pensam. É bastante comum, quando restam seis jogadores, que um deles esteja com mais da metade das fichas da mesa, e três com poucos blinds apenas. E mesmo esses ainda dão fold com mãos de forca média. Sim, o medo gera lucro.

Heads-Up

Em heads-up, jogar o oponente talvez seja mais importante do que as cartas que você segura. Quem você prefere enfrentar? Um oponente agressivo? Tight? Passivo? Levando em conta que é preciso adotar uma estratégia diferente para cada tipo de adversário, isso mostra que seu estilo vai estar sempre posto à prova. Por exemplo, dar continuation-bets contra um oponente passivo é menos eficaz do que sobre um tight. Ou ainda, pagar um reraise de um jogador tight não é tão lucrativo quanto dar call no reraise de um maníaco (quando você tiver posição). Vale ressaltar um fator muito importante em torneios multitables se você ganha um HU de um torneio é o mesmo que você tivesse feito duas mesas finais deste torneio, pois a diferença em prêmios é gritante.

Cash Games

Também o cash game ensina importantes lições para jogadores de torneios. De vez em quando, pagamos apostas apenas com top pair e um bom kicker; às vezes nos deparamos com situações em que dois pares não são o suficiente, e por aí vai. O fato de jogarmos quase sempre com 100 big blinds nos deixa confortaveis para jogar melhores flops, turns e rivers – e o mesmo vale para as fases iniciais de torneios.

Até o cash game de Omaha pode ajudar em torneios de hold’em: como existem muitas combinações possíveis de duas cartas por estarmos com quatro cartas na mão (A-B-C-D, pode gerar combinações de A-B, A-C, A-D, B-C, B-D, C-D), o exercício de utilizar obrigatoriamente duas cartas para montar seu jogo acaba comprovando, no longo prazo, que determinadas mãos de hold’em são lucrativas.

Apenas a título de curiosidade, par de ases pré-flop no hold’em é bem diferente no Omaha, pois você, mesmo em heads-up, não jogará apenas contra outra mão, mas também, muito provavelmente, contra seis combinações, diminuindo sua porcentagem de vitória.  Por isso é tão importante jogar flop, turn e river nesta modalidade. No final das contas, isso aumenta bastante seu poder de leitura.



Convergência

Acredito que um jogador de MTT deva sempre jogar várias modalidades ou, mesmo dentro do próprio Texas Hold’em, vários estilos. Você é feito de suas experiências. Um jogador que tem mais detalhes em leituras e tipos de jogadas chegará mais longe em seu objetivo. Você deve ter seu norte, claro: se você é forte em heads-up e fraco em dobro-ou-nada, não convém fazer desta última variante sua prioridade como jogador. Porém, saiba que estudá-la ajudará em situações complexas em torneios, melhorando seu retorno do investimento.

Quanto mais situações você vivenciar, mais saberá como lidar com algo parecido, adquirindo, portanto, um poder de resposta mais preciso. É assim com qualquer coisa em que se utilize a habilidade.

Gostaria de agradecer ao Bestpoker por ter me convidado para participar do Bestpoker Team Pro, e à revista CardPlayer Brasil, por confiar em minhas palavras. Meu nick é “Tulio Sa” e hoje jogo mais em mesas de heads-up de $54 a $215.

Aproveito para deixar um pensamento do filósofo e escritor francês Albert Camus, que resume bem essa nossa primeira conversa: “Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela”. Até a próxima!




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×