EDIÇÃO 32 » ESPECIAIS

LAPT Punta del Este

Realizada em um dos destinos mais sofisticados da América Latina, a segunda etapa do Latin American Poker Tour tem recorde de brasileiros inscritos, com dois deles chegando à mesa final


Bruno Nóbrega de Sousa

O balneário uruguaio de Punta Del Este recebeu a primeira parada do LAPT em 2010, segunda da terceira temporada. A estrutura utilizada pelo PokerStars no Hotel Mantra ocupava dois salões, um no Cassino e outro no Centro de Convenções, onde foi montada a mesa da TV, palco de fortes emoções, inclusive para os brasileiros.

Dos 307 inscritos no Main Event, 68 carregavam as cores da bandeira verde e amarela, recorde de participação nacional no circuito. Destaque para a invasão de jogadores de Curitiba: além de Alexandre Gomes – curitibano mais famoso do poker mundial – feras como Rodrigo “Seijistar”, Paulo “Santiga” e Luan Estradiotto mostraram a técnica dos paranaenses. Outra participação ilustre foi a do apresentador Otávio Mesquita, que comandará o Poker das Estrelas na Band.

Uma pena que o field brasileiro tenha sofrido várias baixas entre seus medalhões já no primeiro dia. Foi o caso de Akkari, Gualtinho e Alê Gomes, que desfalcaram seriamente o Team Pro nacional, que seguiu adiante representado pela Maridu. Também não voltaram para o Dia 2 jogadores acostumados a dar alegrias à torcida, caso de Thiago “Decano”, Giovanni “Tr3cool” e Diego “vgreen22” Brunelli.

Ao todo, 24 brasileiros avançaram para o segundo dia de disputa. Entre os que começaram e não terminaram estavam Norson Saho, Rodrigo Lasmar e Felipe Mojave, que se despediu do torneio num confronto de A-7 vs. Q-J. Moja já estava short a essa altura, e ainda teve que ver uma dama no flop, seguido de um valete no turn. Caprichosamente, um ás apareceu no river, mas já era tarde.

O Dia 3 viu o estouro da bolha, e cinco brazucas permaneciam na briga: Hélio Chreem, Gil Morgensztern, Moisés Hasbani, Bernardo Dias e Daniela Zapiello. Esses dois últimos, aliás, iriam protagonizar a epopeia tupiniquim nos feltros do Uruguai.

Um rosto para o nick
Bernardo Dias. Pelo nome, pouca gente talvez saiba de quem se trata. Mas se alguém avisar que ele é o “bedias” da Internet, certamente um séquito de jogadores vai reconhecê-lo.

Bernardo possui expressivos resultados online, incluindo um 4º lugar no Sunday Million que lhe rendeu US$80 mil. E esse baiano radicado no Rio Grande do Sul trilhou seu caminho no LAPT de forma, digamos, curiosa: com o joelho lesionado, ele precisava da ajuda de muletas para se movimentar pelo Hotel Mantra, o que não foi empecilho para que ele impusesse seu melhor jogo e chegasse longe no torneio.

Ao longo dos quatro dias de disputa, “bedias” foi confrontado por adversários de altíssimo nível, dentre eles o jovem inglês Stephen “stevie444” Chidwick, que ganhou notoriedade ano passado por ter conquistado mais de cem vagas (isso mesmo!) para o Main Event da WSOP através de satélites no PokerStars. Stephen ainda não tem a idade mínima para jogar em Vegas, mas isso talvez seja um mero detalhe diante do fato de que cada uma dessas vagas vale cerca de $10 mil dólares.

Restando menos de 25 jogadores, acontece o embate entre “stevie444” e “bedias”: o brasileiro, então com poucas fichas, vai all-in do small blind. Stephen paga com A 3. O flop traz 5 5 8. No turn bate um 3, e no river, um 3. Stephen acerta um full house, mas “bedias” tem T 5 e acerta um full maior. O inglês sofre uma fatiada muito forte, e acaba caindo logo em seguida.

Bernardo aproveita o embalo e vai all-in de novo, agora contra o perigoso argentino José Ignácio “nacho” Barbero. Ás-dama contra rei-valete. Já no flop vem o ás do brasileiro, que sobe seu stack para mais de 500.000 fichas, colocando-se entre os líderes e sobrevivendo à montanha-russa do torneio para chegar à mesa final do evento.

Vivendo o Sonho
Do outro lado do salão, numa mesa qualquer, uma garota segue acumulando fichas. Até meados do segundo dia, Daniela Zapiello era apenas um nome na planilha de Excel que recebíamos da organização do evento. Mas, depois que sua estrela começou a brilhar, não parou mais.

Quando a imprensa se deu conta de que aquela paulistana ultra-agressiva estava triturando os adversários, não houve outro assunto que chamasse mais a atenção. Oponente após oponente, “zapiello” ia atropelando a todos que ousassem cruzar seu caminho. E como ela mesma tratou de eliminar Verônica Dabul, a outra representante do sexo feminino ainda na disputa, sobrou para os marmanjos ter que encarar os raises e reraises da moça. O uruguaio Pedro Komaromi que o diga: depois de Dani aumentar para 10K, ele e outro corajoso dão call. Os três pedem mesa depois do flop com A A 7. Daniela aposta 15K ao ver um T no turn. O outro vilão dá fold, mas Komaromi paga. No river, um 8. Daniella coloca todas as fichas no centro da mesa e o oponente dá call na mesma hora, mostrando TT e um full house. O que ninguém – muito menos o uruguaio – esperava é que a brasileira tivesse ás-oito, acertando um full maior. “Bolha” para Komaromi, fichas para Daniela. Com esse pote, ela vai para 485 mil e encerra o Dia 2 como vice-chip leader.

Daniela chegaria a assumir a liderança no dia seguinte, sendo a primeira a ultrapassar a barreira de 1 milhão de fichas. E assim, jogando um poker extremamente agressivo, também garantiria lugar na mesa final do LAPT Punta del Este.

Os Oito Últimos
Foram necessárias mais de oito horas de jogo até que o argentino Ernesto Panno caísse em 9º lugar. O responsável pela eliminação que definiu os finalistas foi o Team Pro Ignácio “nacho” Barbero, que entrou short stack na mesa final.

Ao contrário da etapa anterior do LAPT, na Costa Rica em novembro passado, a mesa final estava repleta de sul-americanos, comprovando a importância do “fator casa” também para os jogadores de poker. Confira os finalistas:

O primeiro a dar adeus foi Roman Suarez, eliminado por “nacho” Barbero, num confronto entre A-5 e A-7. Dominado, “baby face” ainda viu baterem dois setes no bordo – um argentino saía do jogo, mas outro ficava mais forte.

Em seguida, foi a vez de nós perdermos um soldado. Bernardo Dias vinha se movimentando bastante na mesa final, entrando em muitos potes, até se envolver numa mão contra o francês Nicolas Cardyn: Bernardo dá raise e Cardyn paga. O flop vem Q T 3. O francês dispara 120 mil e “bedias” dá call em um turn com 7. Depois do 4 no river, Cardyn aposta 267 mil e Bernardo paga, mas vê o oponente apresentar A J, um nut flush que lhe tirou muitas fichas. O brasileiro ainda conseguiria dobrar contra Barbero, num confronto entre ás-oito vs. dama-seis, mas apenas para cair pouco tempo depois: “bedias” vai all-in com ás-seis e toma call de Andres Korn, que tinha um par de setes na mão. Apesar de ter batido um seis no flop, a situação não se modificou, e Bernardo foi eliminado em 7º lugar, outro grande resultado para seu currículo.

Em seguida, foi a vez de Marcos Caicedo se levantar e ir embora, quando seu all-in de 350.000 foi pago pelo Team Pro “nacho” Barbero: ás-sete do colombiano contra rei-dama do argentino. O bordo final trouxe duas mulheres, uma no flop e outra no river, selando o destino de Caicedo, que ficou com o 6º lugar.

Restando cinco sobreviventes, todos com stack similar, um deal foi feito: US$125 mil para cada um, e mais US$60 mil para o primeiro lugar. Aplausos no salão pelo fechamento do acordo, e o jogo teve seguimento.


A Estrela Sem Troféu

Agora, a eliminação mais sentida por todos os presentes, a de Daniella Zapiello. Ela chegou a ficar com 1.430.000 fichas, quando venceu uma clássica situação de 60%-40% pré-flop contra Andres Korn. Daniela tinha A 8 e o argentino, Q 6. O clima ficou tenso quando o flop veio 9 4 3, dando a Korn 50% de chances de vencer a mão. Mas as duas últimas cartas, 2 e J, foram a redenção e a alegria de Daniella (momento cuja emoção você vê estampada na imagem de abertura do sumário desta edição).

Entretanto, algumas mãos depois, depois de uma batalha de raises e reraises contra Nicolas Cardyn, ela acabou perdendo um pote gigantesco, praticamente comprometendo seu futuro no torneio. Apesar do bordo com cartas altas e par virado, Daniela tinha um ás-valete que não acertou nada, e o insano francês, para a surpresa de todos no salão, mostrou um par de três na mão. Pouco depois, a brasileira vai all-in com Q 5 e recebe call do uruguaio Norbert Ludger, com A 8. No flop, Q J K. No turn, um 9. Mas o river dessa não ajudou, pois o T deu uma sequência ao oponente e deixou a 5ª colocação para Daniela Zapiello, grande estrela sem troféu do LAPT Punta del Este, e mulher mais bem colocada na história do LAPT. Parabéns, Daniela!

França vs. Argentina
O próximo a cair foi o responsável pela eliminação da brasileira – Norbert Ludger, do Uruguai. Ele foi vítima do insano Nicolas Cardyn, num coinflip entre par de cincos e dama-dez do francês, que acertou top pair logo no flop. Em terceiro lugar ficou Andres Korn, eliminado pelo compatriota “nacho” Barbero. Num duelo entre K-T e K-J, o Team Pro levou a melhor num bordo em que não bateu carta nenhuma para ninguém. Estava definido o heads-up final.

Em um duelo marcado pela técnica e pela agressividade de ambos os lados, José Ignácio Barbero, argentino do Poker Stars Tem Pro, mostrou competência e um pouco de sorte para escrever sua história no torneio. Quando Nicolas Cardyn conseguiu empatar o confronto, Barbero ganhou um all-in que lhe deu uma vantagem muito grande em fichas. Na mão decisiva, o francês vai all-in com A-K e recebe call do argentino, que tinha A-T. No river, um dez milagroso dá a vitória a Ignácio “Nacho” Barbero, que se sagra campeão do LAPT Punta Del Este.

Novamente, o PokerStars realizou um evento primoroso: foram cinco dias de uma intensa experiência de Texas Hold’em. Infelizmente, o Brasil bateu na trave novamente e deixou o troféu escapar por pouco. Mas uma coisa é certa, com o crescente número de bons jogadores brasileiros participando do LAPT, a vitória verde e amarela é apenas uma questão de tempo. Quem sabe na próxima etapa, em Lima, Peru? Até lá!

Entre as brasileiras, apenas duas: Maria "Maridu" Mayrinck e Juliana Bernardini.


ANDRÉ AKKARI FICA EM 3º NO SECOND CHANCE
Brasileiro do PokerStars Team Pro faz um apanhado geral do torneio

Card Player Brasil: Akkari, fale um pouco sobre o torneio.

André Akkari: Cara, acho ontem foi um dos melhores dias que tive em um torneio live: tomei 100% das atitudes corretas, não perdi nenhuma oportunidade, coloquei pressão na hora que tinha que colocar. Na bolha, comecei 110.000 fichas. Quando estourou, eu estava com 157.000. Foi tudo perfeito. Quando começou hoje, restavam 16 jogadores. Já tirei um cara logo no comecinho, fui para 170K e continuei subindo. Não tive muita ação nem potes muitos grandes. Até tentei jogar em posição com uns caras que tinham muitas fichas também, só que acabei não tendo muita ação também. Fui crescendo aos pouquinhos até a mesa final.

CPB: Algum momento de destaque na final table?

AA: Na mesa final, acabei eliminando o Alexandre de Ponta Porã. Logo depois, faltando três caras, eu estava no button e recebi J-J. Subi, o cara pagou, bateu Q-2-3. Ele pediu mesa e eu dei check behind. Turn 8. Ele check, eu 30K, ele all-in. No bordo tinha duas de espadas e duas de paus. Achei que ele estivesse blefando, então resolvi dar call. Só que ele tinha K-Q, top pair. Acabei caindo em terceiro lugar, mas valeu pelo resultado.


DANIELA ZAPIELLO

Ela chegou ao LAPT sem fazer alarde. De repente, estava entre os líderes em fichas, com fama de ultra-agressiva, e já havia conquistado o respeito de todos nas mesas em que passava.

Daniela foi uma estrela que brilhou forte no torneio de Punta del Este. Conheça um pouco melhor esta promessa do poker brasileiro.

Card Player Brasil: Daniela, gostaria que você se apresentasse e contasse um pouco da sua história.

Daniela Zapiello: Bem, meu nome é Daniela Zapiello, meu nick é “zapiello”. Já trabalhei no Carrefour, como fiscal de caixa com patins – que eu amava. Fui atendente de telemarketing, vendedora de calçados, trabalhei bastante em comércio. Antes do poker, eu não sabia nenhum jogo de baralho. Depois eu conheci uma turma que era dealer e eles me disseram que eu tinha o perfil. Fiquei dois anos como dealer, foi quando comecei a jogar. Eu jogava muito mal, então conheci o Sérgio Penha – que é meu pai do poker –, e ele me ensinou tudo o que precisava aprender.

CPB: Você mostrou desenvoltura à mesa ao longo desses dias. Como jogadora, qual era sua experiência live antes desse LAPT?

DZ: Na verdade, joguei vários torneios com o Penha – tenho até alguns troféus em casa [risos]. Já joguei CPH, BSOP. Faz mais ou menos um ano que eu jogo. Tenho alguma experiência live sim.

CPB: Quando se referiam a você, seus oponentes eram quase unânimes em considerá-la ultra-agressiva. Que linha estratégica você usou no torneio?

DZ: Primeiro, estudei como cada um jogava. Depois, procurei ver quem estava com medo de cair: contra esses, eu era muito mais agressiva – ia all-in porque sabia que não iam pagar. Se eu sentisse que a pessoa estava com medo, eu ia “pro pano” sem nada. E se a pessoa não pagava porque tinha medo de cair, eu acumulava fichas. Agressividade sempre.

CPB: E agora, que o título está tão perto, qual sua expectativa para mesa final?

DZ: Bem, estou um pouco preocupada agora. Durante os três primeiros dias, fiquei bastante tranquila porque eu estava muito bem de fichas. Agora estou um pouco apertada durante os blinds e por causa da quantidade de ficha dos oponentes. Mas vou procurar manter a tranquilidade para a mesa final, esperar a hora e seja o que Deus quiser.

CPB: A propósito, ontem você tinha me dito que achava que Deus vinha desempenhando um papel importante a seu favor nesse torneio. Essa é uma declaração curiosa. Você acredita que haja algum tipo de “influência divina” nos resultados?

DZ: Acredito. Sou muito crente em Deus. Embora eu não vá à igreja, acredito que Deus esteja na cabeça de cada um. Algumas pessoas dizem – minha avó, que é testemunha de Jeová, é uma delas – que Deus não gosta de vícios. Mas Ele não gosta daquilo lhe faz mal: Ele não quer que eu fume, realmente é prejudicial. Mas Ele quer que eu jogue. Não vou mais parar.




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