EDIÇÃO 32 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Escalando a montanha

Bankroll Management e Variação


Diego Brunelli

Durante nossa evolução como jogadores de poker, muitas vezes nos encontramos diante de alguns dilemas: Devo subir de stakes ou não? Quanto é necessário para subir?  Qual momento adequado?  Essas e outras questões são resolvidas através do “gerenciamento de bankroll”, uma ferramenta fundamental para os jogadores de hoje. E muitos não dão a devida importância a esse controle, por absoluto desconhecimento de outro aspecto elementar do poker – a variação.

Mas antes de conversarmos sobre esses assuntos tão importantes, gostaria de me apresentar a vocês: sou Diego “vgreen22” Brunelli, gaúcho de Porto Alegre, tenho 28 anos e jogo poker profissionalmente desde outubro de 2007. No final do ano passado, fui chamado para fazer parte do PokerStars Team Online. Agora, aceitei com imenso prazer o convite para ser colunista do seleto time da CardPlayer Brasil.
Meu primeiro contato com o poker ocorreu em 2004, num casino no interior da Califórnia: eu havia trancado a faculdade de Direito e tinha ido morar por um ano nos EUA. Eu não tinha noção nenhuma das regras, mas achei muito interessante a dinâmica da mesa, a competição entre os jogadores e o fato de não ser contra a banca, mas uns contra os outros.

Quando voltei ao Brasil, tive notícias de que um amigo dos tempos de colégio estava jogando poker online e tendo algum sucesso. Então eu peguei com ele referências de sites de regras e estratégias, e comecei a jogar play money. Esse colega, desde a infância, sempre gostou de jogos de estratégia: ele era muito bom em xadrez, o que não me fez duvidar por nem um segundo que o poker era um jogo de habilidade. Isso me deixou fascinado para estudar e aprender. Eu já estava de volta às aulas, e na primeira semana que entrei em contato com o poker, li mais sobre estratégias na internet do que estudei o semestre inteiro na faculdade. Porém, até a conclusão do curso, aquilo era apenas uma diversão. Quando me formei, resolvi arriscar e tentar transformar meu hobby em profissão. Felizmente estou aqui hoje: sou jogador profissional de poker. Sem dúvida, tudo isso só foi possível graças a muitas horas de estudo e dedicação. Mesmo assim, acredito que meu principal mérito nessa caminhada tenha sido a seriedade com a qual sempre encarei o jogo, dentro e fora das mesas.

Comecei no cash game, nas mesas $0,01-$0,02 do PokerStars. Naquela época, ainda não existia NL5, então passei direto para NL10. Assim fui indo até NL50, quando descobri os sit-n-go. Comecei jogando SNG de $6 (single table) e os famosos “sitzões” de $4,40 (180 pessoas). Então resolvi focar no sit-n-go. Aos poucos fui me dando conta de que o importante nesse formato é o “volume”. Assim, dei muito mais importância em ir aos poucos aumentando o número de mesas ao invés de me preocupar em subir de stakes. Elevei os valores naturalmente. Apesar de ter me especializado em sit-n-go, sempre reservei atenção para o cash game, jogando e estudando – considero o aprimoramento do jogo tanto deep quanto short stack igualmente importantes.

Como vocês podem ver, meus focos sempre foram SNG ou cash game. Eu acredito serem essas as duas melhores formas de se construir um bankroll e de se viver profissionalmente do poker. Usando as ferramentas e softwares disponíveis, é possível analisar seu jogo e seus resultados, fazer estimativas e traçar metas, como em qualquer outra profissão. Já nos torneios multitable, as variáveis são muito maiores, e acho quase impossível ter esse tipo de planejamento analítico. Isso não quer dizer que não seja possível ser profissional de MTTs – no Brasil, inclusive, temos alguns bons exemplos de sucesso, mas considero imprescindível que, antes, se construa um bankroll sólido para suportar a variação dos torneios.

A variação talvez seja um dos aspectos mais desconhecidos e ignorados até mesmo por muitos profissionais. É por isso que, muitas vezes quando perguntados, jogadores experientes sempre mencionam o bankroll management (brm) como sendo um atributo imprescindível ao sucesso profissional de um jogador. Os dois conceitos estão intimamente ligados, e só quem conhece os perigos da variação reconhece a importância de um bom “brm”.

No poker, experiência não significa mais ter anos de vivência no feltro. A velocidade dos jogos online, juntamente com a possibilidade de se jogar muitas mesas ao mesmo tempo, tem transformado jogadores jovens em experts extremamente capacitados. Não à toa, alguns dos melhores do mundo hoje têm menos de 25 anos de idade e já acumulam uma bagagem de milhões de mãos jogadas. Arrisco dizer que, sentados à mesa, eles são tão experientes quanto Doyle Brunson. Ou alguém duvida da experiência do “Durrrr”? Ou do “Nanonoko”, que em 2009, por exemplo, jogou mais de 2 milhões de mãos.

Para ilustrar quão severa pode ser a variação do poker, vamos observar o gráfico ao lado. Ele representa as últimas 500 mil mãos disputadas por “WizardOfAhhs”, um dos melhores shortstackers da atualidade. Além de ser um excelente jogador, ele é o segundo que mais acumulou VPPs em 2010 no PokerStars. A linha verde representa o lucro dele; a amarela (all-in EV), quanto deveria ser o lucro dele não fossem as bad beats contra ou a favor. Isto é, ele está lucrando $10.025 quando na verdade deveria estar recebendo $38.200.  Em outras palavras, ele está $28.175 negativo em EV. Que nome se dá a isso? Variação! Normalmente, ela é mais perceptível em casos como esse, quando é negativa.  No caso específico dos shortstackers, outro fator também ajuda a acentuar a variação: a frequência de showdowns. Quanto maior o número de showdowns, maior a variância.

Agora, e se ele fosse um jogador break even, que ficasse no zero a zero, com 20K de bankroll, e se aventurasse nas mesas de mid-high stakes cash game? Teria quebrado. Isso apenas demonstra como fatores alheios à habilidade nas mesas, como controle de bankroll e equilíbrio emocional para lidar com o tilt, são aspectos fundamentais que devem ser observados na evolução enquanto jogador de poker.

Na próxima edição, veremos como fazer um gerenciamento de bankroll adequado, de acordo com o tipo de jogo, como se prevenir de quebrar, e o mais importante, sentir-se confortável dentro dos limites escolhidos. Também conversaremos um pouco mais sobre variância, e a importância de manter a confiança quando esse fator estiver contra nós.

Diego Brunelli é um dos principais jogadores de sit-n-go do país e membro do PokerStars Team Online. Ele também pode ser encontrado no seu blog vgreen22.net.




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