EDIÇÃO 31 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Tática

Variações sobre o tema


Steve Zolotow

O poker tem algo em comum com o futebol, o basquete, o xadrez, o bridge e muitas outras modalidades de competição, inclusive a guerra. Via de regra, em um jogo ou esporte, um jogador ou time desenvolve um novo conceito que inicialmente pega os oponentes de surpresa. Com o tempo, contudo, eles se ajustam à novidade e desenvolvem defesas e contra-ataques adequados. Eu vou discutir uma tática comum, bem como algumas variações e contra-ataques menos corriqueiras.

Punição aos limpers: Um jogador que entra de limp depois do big blind geralmente tem algum tipo de draw, como suited connectors ou um par baixo. Um limper frequentemente dá início a uma reação em cadeia, pois vários outros fazem a mesma coisa depois dele. Um jogador com uma boa mão em posição final, ou mesmo em um dos blinds, vai dar raise e tentar levar o pote. A tática de punir os limpers pode consistir em dar raise como semiblefe com uma mão moderada ou mesmo sem ter absolutamente nada. A jogada geralmente é feita colocando um aumento maior do que a quantia normal e, às vezes, substancialmente maior, o que coloca pressão extra sobre os limpers.



Squeeze: Essa jogada é similar à punição aos limpers, com a exceção de que o primeiro jogador foi quem aumentou. O raise dele foi seguido por um ou mais calls. Um reraise muito grande “espreme” o raiser inicial, que fica preso entre uma mão de reraise aparentemente alta e um ou mais callers, que também podem ter mãos altas. Essa é uma jogada obviamente mais perigosa que a primeira. Aqui, tanto o raiser quanto o caller mostraram força. O reraise blefando é mais caro do que um blefe simples. Tanto o squeeze quanto a punição aos limpers têm o objetivo de roubar potes.

Countra-ataques: O contra-ataque óbvio para essas duas jogadas é entrar de limp com mãos altas. Portanto, se algum oponente agressivo demais tentar roubar o pote por meio da punição aos limpers ou de um squeeze, sua mão alta pode dar a volta por cima. Tornou-se bastante comum os jogadores darem “float”, que é o termo moderno do flat-call. O float é um call sem ter nada na mão, com a intenção de blefar mais tarde ou, nesse caso, com uma grande mão, na esperança de pegar alguém que tente dar squeeze.
Falsa punição aos limpers e falso squeeze: Nesse caso, o reraiser tem uma mão de verdade e, quando aumenta, espera pegar o raiser inicial ou quaisquer limpers que tenham concluído que ele está apenas tentando uma dessas jogadas. É importante que seu reraise seja condizente com o reraise que você daria blefando. Como esse valor em geral é maior do que um raise normal — uma vez e meia o tamanho do pote, digamos — certifique-se de fazer um aumento volumoso com suas boas mãos.

Antes de chegar à variação final, quero descrever algumas mãos que ocorreram no evento de no-limit hold’em de $40.000 da World Series of Poker. Na noite do dia 2, eu tinha ganhado um grande pote com A J. Dei raise de posição intermediária e meu oponente, Alec Torelli, decidiu dar flat-call com K K. Eu não sei por que ele fez isso, mas sei que ele não teria dado fold diante de um reraise forte. É muito provável que ele estivesse querendo pegar um dos jogadores remanescentes. Talvez alguém que fosse tentar dar squeeze e reraise, caindo em sua armadilha. Talvez eu estivesse cometendo um erro no flop, achando que ele não estava tão forte, e tomasse uma grande fatiada em um bordo como J-7-2. Por sorte, a manobra dele deu errado quando o flop veio A J 4. Eu fui all-in com os dois pares mais altos e ele deu call com o nut flush draw. Nada de ruim aconteceu e, de repente, eu era um dos chip leaders com mais de 800.000 em fichas.

Cerca de 30 minutos mais tarde, nós estávamos jogando com ante de 2.000 e blinds de 8.000-16.000. Neil Chriss deu raise de under the gun para 35.000. Greg Raymer deu call. Ele é um jogador de no-limit hold’em bastante criativo, e frequentemente faz jogadas pouco usuais que colocam seus oponentes sob muita pressão. Eu estava em posição final e dei raise para 135.000. Eu estava dando um squeeze contra o raise e call fracos? Não, eu tinha damas. Chriss, que obviamente tinha algo marginal, pensou durante um longo período e finalmente deu call. Nesse momento, eu me lembro de ter achado que ele provavelmente tinha A-Q ou A-J suited. Greg, então chip leader, pensou durante alguns segundos e foi all-in! Agora eu fiquei pensativo, e refleti durante muito tempo. Se eu desse fold, ainda teria quase 700.000 e ficaria razoavelmente bem, mas, se ganhasse, eu me tornaria o líder em fichas disparado e teria grandes chances de chegar à mesa final.

Agora eu precisava descobrir o que Raymer pretendia. Ele obviamente poderia ter decidido dar float com par de ases ou de ou reis, como Alec tinha feito na mão anterior. Eu achei que aquela mão tinha acabado tão mal para Alec que talvez Greg quisesse evitar um acidente similar e, portanto teria dado reraise em Neil imediatamente. Também achei que poderia tribetar um pouco menos com ases. Por que tentar matar a ação? Será que Greg achava que eu ainda me lembrava do float de Alec e acharia que ele estava fazendo a mesma jogada? Se esse fosse o raciocínio dele, ele poderia ter qualquer mão de call. As mais prováveis que eu cogitei que ele teria eram pares baixos e ases fortes. Eu era um grande favorito contra essas mãos, exceto A-K, contra a qual eu era modestamente favorito, e já havia muito dinheiro no pote. Eu dei call!

Greg mostrou A-K, e fomos à luta. Fiquei feliz ao ver que ele não tinha A-A ou K-K, mas não fiquei exatamente extasiado por brigar contra A-K. Neil provavelmente tinha dado fold com um dos ases de que Greg precisava. O flop foi seguro, mas no turn bateu um rei.



Fui eliminado depois, pouco antes da bolha do dinheiro, e Greg tinha uma enorme liderança em fichas em relação ao field: 2,3 milhões.

Para sintetizar as variações sobre o tema, a ideia criativa de Greg foi um falso limp com uma grande mão, na esperança de pegar alguém dando squeeze semiblefando. Perceba dois componentes chave dessa jogada: (1) um flat-call com A-K e (2) um enorme reraise semiblefando, representando um call com par de ases ou de reis. Eu poderia ter dado fold com valetes ou damas contra sua jogada, e mesmo quando pagasse, ele estaria atrás em apenas 6-5, com muito dinheiro morto no pote.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×