EDIÇÃO 31 » COLUNA NACIONAL

Resultados, expectativas e uma breve análise conceitual

Qual a real motivação da aposta “por proteção”?


Christian Kruel

Na minha carreira, 2009 ficará marcado pelo sentimento de ter amadurecido muito como pessoa e como jogador. Os longos – e algumas vezes difíceis – anos de caminhada no poker geraram um retorno positivo, com certeza. Especialmente nos últimos doze meses eu estudei muito, mas muito mesmo: fiz coaching em quase todas as áreas que você possa imaginar e tentei, com todo capricho, passar para vocês alguns conceitos importantes. Espero, sinceramente, ter conseguido.
 
Aproveitando este espaço, vou responder uma pergunta muito comum que recebo quando estou jogando no Full Tilt: muitos me perguntam se tenho blog, Twitter, vídeos etc. A maneira que achei para passar uma mensagem e o local onde encontrei mais afinidade de uns tempos para cá tem sido através destes artigos, que acredito terem evoluído em termos de qualidade em 2009, pois os tenho escrito com ainda mais cuidado, na intenção sincera de agregar valor aos leitores.

Blog, Twitter e afins atualmente não se encaixam no meu perfil de vida, pela necessidade de atualizações constantes.Também acho importante manter um pouco da privacidade (não por arrogância ou coisa parecida, apenas acho que todos têm o direito de escolher seu estilo de vida). De qualquer forma, isso é o que se passa agora, e como nada é para sempre, quem sabe um dia eu não volto com um blog no próprio FTP ou algo do tipo. Atualmente, o importante para mim é: se for para fazer, faça bem feito! Acredito que vocês concordam comigo nesse ponto.
 
O fato de a gente se encontrar na vida, fora da profissão ou dentro dela, acaba se refletindo no jogo. Por isso é tão importante saber literalmente controlar seus limites, sua rotina, disciplina, estudos etc. Prova disso é que no final do ano passado eu obtive resultados que fizeram valer a pena as milhares de horas dedicados à minha profissão! Cravei o Super Tuesday, fiz uma mesa final do mini-FTOPS 6-max com quase 17.000 jogadores, fui 1º no $100+R do UB, e ainda tive diversos outros resultados relevantes em outros 100+R, tudo isso apenas em dezembro. E não foi mera coincidência, pois aquele foi o mês em que me dediquei de forma absolutamente concentrada, diminuindo meu número de telas, visando fechar o ano com chave de ouro mesmo, como havia feito em 2008. Estou tocando nesse assunto para fortalecer a crença de que cada um tem que encontrar sua rotina ideal, saber quando é hora de relaxar, ir ao cinema, jantar fora, praticar um esporte etc. E saber que estudar continuamente o jogo é uma obrigação hoje em dia, pois a mente dos top players se ajusta diuturnamente.
 
Mas vamos ao que interessa: nos nossos artigos anteriores, abordei, várias vezes e sob diversos aspectos, o blefe e a aposta pelo valor. Vimos que nossas decisões, salvo raras exceções, estarão sempre nesse limite, ou seja, ou apostamos para tomar call de uma mão pior ou fold de uma mão melhor, e essa deveria ser sempre a motivação por trás das nossas apostas. Porém, ao procurarmos em fóruns e artigos de poker, frequentemente nos deparamos com mais um tipo de aposta: a aposta “por proteção”. Aqui, vamos ver como ela é descrita, como é utilizada, e se realmente é um tipo distinto da aposta pelo valor e do blefe.
 
Teoricamente, a aposta “por proteção” ocorre quando você tem uma mão boa, com bom valor de showdown, mas está diante de um bordo perigoso. Vejamos:
 
Situação 1: Você está no cutoff com QQ e dá raise pré-flop, pago pelo jogador no button. O flop vem QT9 e você é o primeiro a falar.

Situação 2: Vilão 1 entra de limp, vilão 2 aumenta 4x big blind no cutoff. Você paga do button com TT. Vilão 1 também da call, e o flop traz 626. Os dois vilões pedem mesa.
 
As duas situações diferem um pouco, mas são casos em que apostas “por proteção” são utilizadas. No primeiro, você só está perdendo para um K-J, e várias cartas ruins podem aparecer no turn, diminuindo drasticamente o valor da sua mão. Já na segunda hipótese, ao deixar de apostar num flop duro contra dois oponentes num pote já de bom tamanho, o raiser inicial deixa a entender que grande parte do seu range é composto por duas cartas não pareadas. Você tem uma situação em que já há um bom pote e que quatro cartas (J, Q, K e A) podem matar sua mão no turn, assim como no primeiro exemplo. Ao meu ver, essa é uma ótica válida para se analisar ambos os casos. Porém, apesar de válida, não acho que seja a mais prudente. Vamos olhar novamente a situação, por outro prisma:
 
Na situação 1, pelas posições da mesa em que se deu a ação, você tem um jogo extremamente forte contra um oponente no button cuja a mão possa ter sido beneficiada, em parte, pelo flop. Ao apostar aqui, há uma série de mãos piores do que a sua, principalmente as formadas por draws e combinações de draws, que não são favoritas e têm grande probabilidade de dar call ou raise.

Na situação 2, pelos mesmos motivos que na situação anterior e dada a ação pré-flop, tem-se um range um pouco menor de pares que podem pagar sua aposta. Eventualmente, você vai receber calls que chamamos de “float” de mãos como A-K, A-Q ou K-Q.
 
Sob essa perspectiva, percebemos que, tanto na hipótese 1 quanto na 2, estamos diante de uma situação em que a motivação principal da nossa aposta é tomar call de uma mão pior. Logo, ela claramente é uma aposta pelo valor e não “por proteção”! Por esse prisma, a proteção torna-se meramente uma consequência da aposta, e não o seu motivo principal.
 
Suponhamos que você tenha 77 num bordo com KT4, num pote em que você abriu raise pré-flop em middle position, e seu oponente loose tenha pagado do button. Sua continuation bet nesse flop teria um fator “proteção” muito mais evidente do que o da aposta pelo valor, apesar de você poder tomar call e raise de mãos que estejam perdendo. Contra AQ ou AJ, por exemplo, apesar de estar ganhando, você não é o favorito: é ligeiramente favorito contra qualquer AX. Ao contrário dos exemplos anteriores, você não tem uma boa mão, apesar de supostamente ter motivos para defendê-la.
 
É possível concluir, então, que o fator proteção não é uma característica da aposta, mas sim uma consequência da mesma. Não é um motivo pelo qual nós devemos fazê-la, mas uma das consequências de uma aposta pelo valor bem feita. Ainda, se o fator proteção de uma aposta estiver se sobressaindo em relação aos demais numa determinada situação, devemos repensar a necessidade dessa aposta.
 
Bem, agora vou seguir o circuito, que já começou com bons ares em 2010 no PCA das Bahamas. Sinto que algo grande está por vir e conto sempre com a torcida de vocês, pois só assim, e aos poucos, seremos 100% respeitados! E claro, desejo muita paz, saúde e sucesso nesse ano que começa, e também muita luz no nosso "xadrez" favorito!




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