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Caio Pimenta - Jogador do Ano - Bicampeão

Pela segunda temporada consecutiva, Caio Pimenta leva o título de Jogador do Ano da CardPlayer Brasil. Com mais essa conquista, ele sedimenta sua condição de ídolo do poker nacional e justifica ainda mais toda a admiração e respeito que desperta entre os jogadores. Nesta matéria especial, você confere um bate-papo entre Caio Pimenta e Guilherme Kalil, e aprende um pouco mais sobre a trajetória e a mentalidade desse garoto que vem sendo chamado – com razão – de “fenômeno”.


Bruno Nóbrega de Sousa e Guilherme Kalil

Guilherme Kalil: Quais são suas perspectivas quanto ao jogo live em 2010?
Caio Pimenta:
Para este ano, eu optei por abdicar de algumas etapas do LAPT para jogar todas as etapas do BSOP. E de acordo com a minha evolução no ranking Pocket Fives, eu vou tentar jogar tudo que puder na Europa. Vou para San Remo e Monte Carlo agora no começo do ano, e também a WSOP Europe. Devem entrar também mais uns três EPTs nessa lista. Vou jogar o LAPT do Brasil, se tiver. E, no final do ano, Conrad de novo, não é?

G.K.: De um ano para cá, como você vê a evolução do field que lhe enfrenta? E quanto à você mesmo, consegue perceber evolução?
C.P.:
Cara, a evolução do meu jogo foi absurda. Eu descobri que, para poder jogar meu a-game, preciso estar muito concentrado, então dediquei todas as minhas forças para estar sempre muito focado. Assim fica mais fácil reavaliar cada jogada e refletir sobre o jogo com inteligência. Acredito que meu jogo tenha evoluído mais do que o do field. O $100 com rebuy está mais duro do que o do ano passado, mas, como eu acho que a minha evolução foi maior que a do field, estou me sentindo mais tranquilo para jogar os MTTs de qualquer buy-in. Estou mais confiante no meu jogo. É aquele pensamento “acabou o treino, agora é jogo”, e não tem que pagar para ver.

G.K.: Você já cogitou ou foi convidado para dar coaching ou participar de vídeos em sites de treinamento?
C.P.:
É o seguinte: para chegar ao nível de jogo a que eu cheguei, demandou muito tempo; foi preciso apanhar muito, chorar muito e me matar de trabalhar. Eu dou coaching, mas ninguém quer pagar o preço que meu coaching vale, então eu não faço, porque todo mundo acha um absurdo o preço que eu cobro, mas é o preço que eu sei que vale. Eu provo ao cara por A + B que, se ele pagar o preço, vai ser recompensado. Quanto a vídeos de aula, o preço que eles pagam não compensa para eu passar a quantidade de informações que eu passaria num vídeo de, sei lá, 10 ou 20 minutos. Então eu não faço, porque acho que meu trabalho não seria remunerado como deveria.

G.K.: Você tem alguma preocupação de revelar segredos? Quer dizer, além de gastar seu tempo, mesmo que lhe pagassem adequadamente por uma hora de vídeo, você estaria abrindo seu jogo, e isso evidentemente afetaria seu ROI. Você tem alguma preocupação quanto a isso?
C.P.:
Se eu fosse remunerado na proporção que acho correta, não teria problema algum.

G.K.: Você nem completou 20 anos ainda, mas já tem um patrimônio considerável. Como é que você faz para conciliar pouca idade com um patrimônio volumoso, levando em conta principalmente que você está no começo da sua carreira no poker?
C.P.:
Eu estabeleço um “salário” para mim, que é o dinheiro que gasto por mês. O que passa disso, o excedente, vai tudo para a mão da minha mãe, e ela investe da forma que achar que deve. Eu conheço a minha mãe, sei que ela é mais segura com dinheiro e sei que ela não vai fazer besteira. Eu tenho chance de fazer bobagem, então tiro o que acho que dá para o meu supérfluo, para as minhas festas, e o que sobra a minha mãe administra.

G.K.: Você já fez alguma extravagância, pensando “eu mereço muito ter isso”, então foi lá e comprou? Algo totalmente supérfluo, mas que foi como um pagamento pelas horas todas de sofrimento que você passa na frente do computador?
C.P.:
Acho que nunca fiz isso, nunca comprei algo supérfluo. A grana que eu gasto é na noite. Sou um cara que realmente gosta de estar na noite nos dias de folga. Uma vez por semana eu gasto a minha grana com alguma balada bacana. No mais, nós conseguimos comprar um apartamento bacana, porque sempre moramos de aluguel. Mas é isso, nada de extravagante. Mas eu tenho um plano extravagante para o final do ano, que, se bater a meta, eu vou arriscar nele.

G.K.: Pode dizer o que é?
C.P.:
Se eu conseguir o que estou buscando esse ano de profit, no final do ano eu vou comprar um carro importado, uma BMW. Acho justo também.

G.K.: Como é que você organiza seu horário de trabalho ao longo da semana? Como é sua agenda?
C.P.:
Como eu sou jogador de multitable, tenho que me submeter aos horários da grade. Portanto, se a grade diz que sábado, domingo, segunda, terça e quarta são os melhores dias para jogar, são esses os dias em que trabalho. Domingo não tem nada mais na minha vida: acordo, como e já fico sozinho para me concentrar na sessão. É igual a futebol – acordar, almoçar e ir para a concentração. No sábado e no domingo a sessão começa um pouco mais cedo, então não tenho malhação nesses dias. Não sobra espaço para nada durante o dia. Na segunda, na terça e na quarta, a sessão começa às 18h no $153 no Full Tilt e termina num major, como um Nightly Hundred ou em algum Super Tuesday ou Quarter Million. Então a sessão começa às 18h e termina às 23h me registrando, e eu jogo até terminarem os torneios. Nesses dias, eu basicamente acordo, malho, almoço e jogo. Quinta e sexta são as minhas folgas, senão ninguém aguenta, não é? (risos)


G.K.: Você já teve algum suck out daqueles de jogar o laptop na parede, dar soco na mesa ou ou alguma coisa do tipo?
C.P.:
Cara, não. Eu choro. Às vezes eu choro... Quando o suck out é muito forte, eu choro. Hoje em dia menos, mas no começo, naqueles $3 com rebuy de oito horas de jogo, faltando 12 caras, o primeiro ganharia $6K; você está ganhando $85, aí toma aquele A-Q contra A-J, bate o valete no turn e você não tem nem força para pedir a dama no river. Aí eu choro, não adianta. Eu estou 100% ali envolvido e não consigo. (risos)

G.K.: Jogador de torneios de poker é uma das únicas profissões do mundo em que todos sabem quanto você ganha. Qualquer um que entre no officialpokerrankings.com ou no pokerprolabs.com e digite “Caio Pimenta” vai saber seus resultados. Isso lhe incomoda muito?
C.P.:
É complicado, cara, mas faz parte. Não tem como eu deixar de lidar com isso. O que mais me incomoda é a questão da segurança mesmo, porque tem coisas limitam você um pouco. Mas não tem como ser de outra forma: até mesmo para conseguir um patrocínio, precisa exibir essas informações.

G.K.: Falando nisso, com relação ao novo patrocínio, como está a expectativa, como é ver o avatar nas mesas do Full Tilt? (risos) Como é que isso lhe ajuda e o que é que muda?
C.P.:
Estou extremamente feliz. É um sonho realizado. No começo, meu sonho era esse, minha busca era essa: jogar para me destacar e conseguir um patrocínio. E defender uma empresa que está crescendo como o Full Tilt, nessa proporção, é algo fora de série. Não tenho palavras para descrever. É um sonho realizado.

G.K.: É provável que você seja um dos maiores ícones dessa nova geração do poker. Mas e você, tem ídolos no poker?
C.P.:
Na época em que comecei, lendo os artigos do Clube do Poker, a maior referência que a gente tinha era o CK. Eu assistia aos vídeos do cara e até o imitava no chip trick. Ele era o cara que eu olhava e falava: “Olha o nome do cara: Christian Kruel. Esse cara deve ser sinistro mesmo” [risos]. E ele até hoje está aí provando que é um monstro.

Outro é o Thiago Decano. Depois que conheci seu trabalho, pude perceber o tanto que ele é ídolo mesmo. Ele é o maior exemplo de sucesso, trabalho e determinação jogando poker online, porque consegue fazer coisas que não existem: ele acorda às 9h da manhã para jogar um turbo todo dia. E fazia isso com disciplina numa época em que ninguém tinha tanto acesso a informação. Decano acreditava no que pensava, seguia aquilo e funcionava. Para mim não tem comparação.

G.K.: Em relação à turma gringa que a gente vê nos nosebleed stakes do Full Tilt, que movimentam centenas de milhares de dólares numa sessão ou mesmo num pote, como Patrik Antonius, Tom Dwan ou “Isildur1”, o que é que você pensa desses jogadores?
C.P.:
Eu acho que o lucro que você tem está diretamente ligado à dificuldade do que você faz e ao quanto você se expõe. Esses caras trabalham num nível absurdo e se expõem absurdamente. Então eles são totalmente merecedores da grana toda que ganham. Cada centavo que o Ivey ganha, que o Antonius ganha, é totalmente justo.

G.K.: Tem algum deles em particular que você gostaria de enfrentar?
C.P.: E eu tenho uma coisa na cabeça, que é jogar um heads-up com o Dario Minieri. Eu acho que isso ainda vai acontecer, num futuro próximo, nem que seja na final de algum torneio, mas acho que vai acontecer.

G.K.: Algum razão especial para escolher o Minieri?
C.P.:
O estilo dele. Eu sempre me identifiquei muito com o jeito de jogar do cara, sempre fui um grande admirador do estilo dele. Na mesa, não é? Porque aquele cachecol não me pega, não [risos].


G.K.: Com relação a cash games, quando vamos ver Caio jogando cash? Ou não vamos ver?
C.P.:
Eu tenho planos para o cash game. Mas mais no âmbito de desafio, não no de querer ganhar dinheiro. Tem o High Stakes Poker, onde estão os maiores jogadores do planeta. Se eu estiver numa situação financeira em que consiga fazer o buy-in do High Stakes sem quebrar, talvez encare isso como um desafio. Como existem grandes mentes brilhantes jogando lá, eu penso em jogar com eles para tentar aprender alguma coisa, não para tentar ganhar dinheiro ali. Eu quero ganhar dinheiro jogando torneios, que é o que eu sei fazer.

G.K.: Então, se você fosse convidado para participar do High Stakes, iria?
C.P.:
Se o buy-in fosse de $200K a $300K e eu tivesse $600K no bankroll, iria.


G.K.: Eu gostaria que você deixasse uma mensagem para os milhares de leitores da CardPlayer Brasil que realmente vão curtir demais essa entrevista.
C.P.:
Eu queria agradecer a força de todo mundo, o respeito de todo mundo. Tem uma galera que admira meu trabalho e que eu às vezes não tenho oportunidade de falar, mas, à noite, na hora de dormir, eu me sinto orgulhoso pensando que alguém para durante o dia para me ver jogar. Você começa a ter noção de que aquilo realmente tem uma proporção grande. Então eu preciso agradecer mesmo por tudo, por minha família que também entendeu o tamanho de tudo e me dá um apoio incondicional. E é isso. Não vou deixar cair e 2010 promete.

G.K.: Então o recado é mandar um abraço para a galera do Brasil e dizer: “pode contar com Caio Pimenta para o que der e vier no poker”?
C.P.:
Pode contar, porque, no que depender de mim, é daqui para mais.


CONTEÚDO EXCLUSIVO CARDPLAYER.COM

De um ano para cá, como você vê a evolução do field que lhe enfrenta? E quanto à você mesmo, consegue perceber evolução? 

Depois que entendi que tenho que estar concentrado, a concentração para mim agora é 100%. Então, o que é importante para você ser um grande jogador? Paciência, coragem e principalmente concentração, que eu tenho certeza de que é mais o importante do que tudo. Então, para estar concentrado, você tem que estar motivado. Bom, por que é que nem sempre o melhor time de futebol ganha? Porque o outro time está mais motivado, está mais concentrado, então vai jogar melhor. Portanto, eu descobri que, se estiver concentrado o tempo inteiro, vou conseguir fazer 100% de ROI na Internet. Então eu acho que a minha maior evolução foi nesse ponto de me conscientizar sobre o que eu preciso fazer para manter meu a-game.

G.K.: Seus pais jogam, sua irmã também. No almoço de domingo na sua casa, a discussão é sobre mãos de poker, sobre o futuro como jogador? Eu viajei com eles para o Conrad e vi que eles jogam, que gostam, que têm um carinho pelo poker. Como é que funciona isso na sua casa?
C.P.:
Sentou um e meio, a discussão é sobre poker (risos). Tipo, eu me olho no espelho e já falo: “Pô, cara, por que você deu aquele call?” Não adianta, sentamos lá em casa para almoçar, falamos sobre isso. Minha mãe joga – ela até terminou no top 10 do ranking da CardPlayer Brasil, pode conferir lá. Ela é profitable jogando poker. Meu pai não. Meu pai, infelizmente, está na parte mais administrativa e tal (risos). Minha irmã tem potencial, mas não quer, não adianta. Ela está fazendo faculdade, vai ser psicóloga.

G.K.: Você tem alguma superstição antes de começar uma sessão?
C.P.:
Sempre tem uma música que dá uma liga um pouco melhor, então geralmente rola uma Maria Rita, um Titãs, isso costuma dar uma bela de uma liga na reta final. Tipo, já que está funcionando não custa deixar.

G.K.: Solteiro, 20 anos de idade, profissional de poker do primeiro time do mundo do Full Tilt. A mulherada deve estar barbarizando, não é?
C.P.:
Isso é uma coisa complicadíssima. Eu tenho alguns exemplos práticos. É difícil, mas eu acho que, sinceramente, é complicado, acho que não dá para conciliar. Pelo menos para jogadores de poker profissionais na minha linha de ação, que jogam multitables online, grindam e se dedicam, porque dedicação tem que ser total. É igual ao cara que joga bola: tem que treinar, tem que se concentrar, tem tudo. Então não sobra tempo. Que mulher vai querer namorar você só na quinta-feira? Nos outros dias da semana alguém vai ter que vir fazer o serviço [risos]. Eu tomei uma decisão árdua de, por enquanto, me manter de fora desse lado. Cada escolha que a gente faz é uma renúncia. Eu infelizmente precisei optar pela minha carreira. Nesse momento, não tem como eu tomar uma atitude diferente.

G.K.: O que você acha que mudou no seu jogo, do primeiro título de Jogador do Ano para o segundo?
C.P.:
Ah, a linha é a mesma. O amadurecimento traz novos horizontes sim, mas é uma coisa pessoal: você começa a ver as coisas de forma diferente, mas a linha de ação é a mesma. Eu sou assim, sou sincero mesmo, falo a verdade. É o caminho da verdade; é mais fácil, é suave, não tem volta. E é o que eu vou fazer: seguir a linha que estou seguindo, a linha da verdade.




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