EDIÇÃO 30 » COLUNA NACIONAL

Sit and Go Heads-up - Parte I


Raul Oliveira

Vou começar os artigos de 2010 com o que acho que mais interessa a todos: análises de jogadas. Como eu já havia dito em na edição anterior, este ano pretendo jogar bastante snt-and-go heads-up, em que cada jogador começa com 1.500 fichas e os blinds sobem de 3 em 3 minutos até que alguém leve todas as fichas e receba o dobro do valor do buy-in.

Para mim, essa é a melhor modalidade sobre a qual escrever, pois, ao contrário de algumas outras, ela não tem uma cartilha – aqui se pode tudo. E o estilo do oponente influencia muito na forma como se deve jogar para vencê-lo. Adaptar-se rápido ao modo de jogar do adversário é fundamental para ser bem sucedido nos heads-ups, e isso acaba fazendo com que seu jogo esteja em constante mutação, sua criatividade cresça, sua leitura melhore e seu faro se apure.

Já que este ano pretendo jogar bastante HU, farei uma série de artigos contando algumas mãos, abordando o raciocínio adotado para jogar de determinada forma, e de que outras maneiras a mão poderia ter sido jogada.

A primeira que vou contar aconteceu num HU de $200 com blinds ainda em 15-30. Na posição estava “Ioveyou”, com 1.515 em fichas; na posição 2 estava eu, com 1.485. Recebi AK, e meu adversário, como é de praxe, deu raise puro na mão, ou seja, colocou 60. Voltei 180 no total, já que não vale a pena fazer slowplay numa situação dessas, até porque, caso o flop seja ruim para você, dando só call você estará entregando a mão mesmo, que esteja na frente. Fora isso, dando reraise você aumenta o tamanho do pote caso ele pague, já que está com uma mão fortíssima – além, é claro, de possibilitar que ele volte outro reraise ou até mesmo um all-in que você certamente pagaria com tranquilidade. Mas, nessa mão em questão, meu adversário apenas pagou meu reraise.

O flop veio 548 e, sabendo que ele era um jogador bem agressivo, preferi controlar o pote dando check. Mas, mesmo tendo pedido mesa, eu gostaria de dizer que, em situações em que eu volto reraise pré-flop, eu aposto em 90% dos flops (mas nesse caso não me senti bem para sair apostando e preferi dar check). Creio que a melhor jogada aqui seria apostar, e não pedir mesa, já que as chances de ele não ter acertado nada eram grandes e, caso ele apostasse, minha leitura ficaria muito complicada. Ele acabou dando check também. No turn apareceu um 3, e nesse momento eu tive 95% de certeza de que segurava a melhor mão. As únicas mãos com que ele daria check no flop ganhando de mim seriam 7-6 ou uma trinca, que ainda assim não seria tão provável. Fora isso, teria um cooler, que seria um A-2s.

Então, saí disparando $180, metade do pote: uma aposta padrão para o meu estilo de jogo, que ele pagou. No river surge o 8 e eu continuei com a minha convicção de que tinha a melhor mão. Só que agora sair apostando não fazia muito sentido, já que meu valor aqui era pequeno. Talvez um ace high me pagasse, mas com certeza eu não conseguiria muitas fichas.

Pensando nisso e voltando ao flop (no qual, em retrospecto, não gostei muito do meu check), imaginei que a melhor forma de maximizar a mão seria pedindo mesa e esperando que ele tentasse blefar, já que, pela forma passiva com que eu joguei a mão, um blefe aqui por parte dele parecia ser algo bem plausível. Então, pensando nisso, dei check. Ele pediu tempo e voltou all-in – agora foi minha vez de parar pra pensar...

Com esse all-in, rapidamente vislumbrei apenas duas possibilidades: ele com o nuts ou praticamente o nuts, ou blefando. Só que, das mãos em que ele estaria praticamente com o nuts (5-5, 4-4, 3-3), eu não o vejo dando raise com nenhuma diante de uma aposta de $180 no turn, já que o bordo não pedia um slowplay. A partir disso, só sobraram duas mãos para me bater: 7-6 ou A-2. Porém, das duas, só um 7-6s justificaria um call pré-flop. Portanto, as chances de ele estar blefando nessa mão eram gigantes e, devido a essa linha de raciocínio, resolvi pagar o all-in... Para minha alegria, a leitura estava certa: ele estava blefando. A surpresa foi ele ter mostrado T-6o.
 
Assim como essa jogada, há várias outras sobre as quais pretendo compartilhar minhas opiniões aqui com vocês. Espero que curtam as minhas colunas em 2010. Um grande abraço e um ótimo ano novo!




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