EDIÇÃO 30 » COLUNA NACIONAL

Informação, a nova alma do negócio

A Importância das Ferramentas para um Poker Vencedor


Leo Bello

Há mais ou menos um ano, comprei um MacBook para substituir o meu antigo laptop. Eu estava realmente farto do Windows Vista e de todas as vezes que ele travava. E não me arrependi. Nesse tempo todo com o Mac ele não travou uma única vez, sempre carregando os programas bem rápido e com uma bateria que chega a durar sete horas.

Obviamente, este artigo não é uma propaganda de computadores ou de marcas. Então, qual a relação dessa informação com o poker? A dúvida que muitos tem de migrar! Os programas de poker funcionam bem nos computadores Mac? Será que essa transição é difícil? Bem, os principais sites em que jogo já têm versões de seus softwares para Mac, e eu acho que na maioria das vezes são até mais leves, e com todas as funções dos softwares pra PC.

O Poker Stars, o Full Tilt, o Bestpoker e o Ultimate Bet têm versões de seus softwares para Mac. O Party Poker tem uma versão de instant play que você joga no próprio browser e também é fácil de usar, embora o Felipe Mojave tenha me dito que a versão full sairá em breve.

Só que esbarrei em um problema inicialmente: não havia versões boas para softwares que fazem o tracking do histórico das mãos jogadas, como o Poker Tracker e o Hold’em Manager. Existia o Poker Co-pilot, mas eu fui um pouco resistente a usá-lo. Da mesma forma, não havia boas versões de calculadores de ICM e do Poker Stove, ferramentas que eu utilizava constantemente para estudar. (Por um lado foi bom, pois tornei a jogar sem usar essas ferramentas e, assim, tive que voltar a confiar no meu feeling e em leituras, diminuindo a importância que eu dava para os números.)

Mas o Natal trouxe um presente de Papai Noel: uma versão fresquinha do Poker Tracker para Mac. E, é claro, desde então eu comecei a usar novamente o programa, que está funcionando muito bem, sem travar nenhuma vez – até melhor do que acontecia no PC, que a toda hora emperrava.

E quais são as minhas conclusões sobre esse período sem os softwares de auxílio e com os softwares? Como foi essa experiência de jogar sem os HUDs? Tenho certeza de que muitos leitores nunca usaram esse tipo de programa, e muitos profissionais vencedores também não usam. Por outro lado, os jogadores que costumam “grindar” (jogar várias mesas ao mesmo tempo durante horas) e que participam de fóruns de discussão consideram indispensáveis essas estatísticas sobre os adversários e sobre si mesmos.

Vou começar com uma afirmação: a concorrência hoje é muito melhor do que há 5 anos, quando comecei a praticar poker.

Onde quero chegar? Naquela época, poucos estudavam e usavam programas de auxílio. Não existiam sites de vídeos que ensinavam teoria e estratégias, como PokerXfactor, Deuces Cracked, Cardrunners e o próprio TVPokerPro (site brasileiro do Akkari, Alê Gomes e Gualter Salles).  Ou seja, poucos eram os jogadores que estudavam o jogo a fundo. Assim, um jogador com essas ferramentas estava muito à frente da concorrência, e isso era uma vantagem enorme. Portanto, usar os HUDs era uma maneira de ganhar mais que os adversários, conhecer os padrões e identificar os fishes.

Passei os últimos 12 meses sem usar o HUD e percebi que 2009 foi o ano mais difícil em termos de lucratividade de toda a minha carreira. Em vários jogos de cash game, eu passava por períodos do mês muito bons, depois entrava em fases ruins e a lucratividade diminuía. É claro que não atribuí isso à ausência dos programas – eu precisava readaptar meu jogo e estudar mais. Precisava também ser realista (e humilde) para voltar a jogar em um nível abaixo, de modo a poder analisar os adversários e ganhar confiança para bater consistentemente os jogos.  Porém, voltando a usar o Poker Tracker, percebi que, agora, usar esses softwares não é mais uma questão de ter vantagem sobre os adversários, mas sim de não se colocar em desvantagem contra eles.

Os jogadores regulares de cash games (imagino que quase que a totalidade deles), principalmente os estrangeiros, estão usando essas ferramentas. Portanto, eles estão lendo o nosso jogo com perfeição – ou pelo menos com mais precisão.

A questão agora não é mais termos a vantagem por usar essas ferramentas, mas que a maioria dos nossos adversários regulares está usando e analisando nossos padrões. Eles percebem pelos números se estamos dando 3-bets demais ou se largamos mãos quando tomamos raises no flop, no turn ou no river. Percebem sutilezas como o range de mãos que jogamos e que damos raise. Classificam nossas jogadas e analisam qual a melhor opção contra nosso estilo de jogo.

Por isso, está mais difícil conseguir o stack inteiro de um adversário. O problema é que, sem HUD, fica difícil até entender quem são esses jogadores regulares. Imagina você lembrar 15 dias depois se já jogou contra algum dos oponentes que está na sua mesa. Bom, os regulares se lembram de você e sabem exatamente quantas mãos já jogaram contra, o quanto você ganhou ou perdeu nas sessões e o seu estilo de jogo, mesmo que passe dois meses até eles lhe encontrarem de novo nas mesas. Pior ainda: certos sites vendem enormes bancos de dados de mãos, e os adversários não precisam nem mesmo já ter jogado contra você pra ter dados sobre o seu tipo de jogo. Eles conseguem comprar, por exemplo, um milhão de mãos jogadas no PokerStars, e recebem informações sobre todos os jogadores que participaram daquelas mãos. Então, o jogador que você tem certeza que nunca jogou contra pode estar com o histórico de como você jogou naquele site ao longo do último mês. Ele sabe se você está em fase boa ou ruim, se anda perdendo ou ganhando e como tem sido sua estratégia.

Como impedir isso? Não tem como.

Informação é a mola mestra desse mundo, e em todos os esportes isso acontece. No vôlei, a seleção brasileira (e todas as outras) estuda a fundo cada número das estatísticas dos adversários: para onde o levantador manda a bola com mais frequência, quem erra mais recepções, para que lado o atacante costuma cortar a bola etc. No futebol, o goleiro sabe em qual canto o atacante costuma cobrar o pênalti, qual lado o time usa mais pra atacar, e qual o jogador mais faltoso para poder cavar infrações.

O que acontece é que ou você se adapta e usa as mesmas ferramentas ou fica para trás. Você tem que ser competitivo e aprender a usar essas informações. E este não é um artigo que visa ensinar a mexer nesses softwares. Você deve ir além e fuçar sozinho todas as possibilidades, estudar e tirar suas próprias conclusões. Deve revisar seus jogos arduamente e marcar os jogadores que têm tendência a perder dinheiro. Precisa aprender quem são os oponentes regulares e com os quais você deve evitar embates. Deve perceber quais foram seus erros nas mãos que jogou.

Estou usando o Poker Tracker novamente, e consigo ter uma noção mais fidedigna de como estou jogando. Sei exatamente quanto de rake eu paguei, quantas mãos joguei, os adversários para quem mais perdi. Comecei a ver as mãos com as quais não está valendo a pena jogar. Vi que estava fazendo poucas continuation-bets, que estava perdendo muito com pares baixos, e que mãos como A-T e A-J não estão sendo lucrativas. Marquei todos os jogadores que jogam mais de 30% das mãos e são perdedores. Percebi que quando jogo no início da noite e aos finais de semana sou mais lucrativo do que nas madrugadas e pela manhã e à tarde (isso tem relação com o tipo de adversário presente nos sites nesses horários).

O recado para os leitores é: quem estiver começando, deve se esforçar primeiro em aprender o jogo e estudar muito. Seus adversários estão estudando. Quem já for mais experiente, não pode se acomodar. Não confie apenas no seu talento de leitura dos adversários. Procure o “algo a mais”. A tecnologia e a informação podem levar o seu jogo a um nível mais alto e torná-lo mais competitivo.

BRAZILIAN SERIES OF POKER 2010

Eu gostaria de encerrar o artigo falando sobre o BSOP. No artigo da última edição, fiz uma retrospectiva de 2009 e falei que acreditava que 2010 seria o ano que o poker no Brasil atingiria as grandes massas e decolaria de vez. Quando essa edição da CardPlayer Brasil chegar aos leitores, as novidades do BSOP 2010 já serão conhecidas por todos.

O BSOP chegou à TV!
Em 2010, a ESPN e o Full Tilt irão filmar todas as etapas do BSOP e colocá-las em programas semanais ao longo do ano. A expectativa é termos audiências de milhões de espectadores. Não mais somente programas de poker enlatados. O Brasil poderá ver brasileiros disputando um torneio nacional. Novos ídolos serão criados e as pessoas poderão acompanhar a disputa pelo título nacional de poker. Você que está lendo este artigo poderá ser uma das estrelas de um dos torneios e aparecer para o país inteiro.

O que isso vai representar para o poker no Brasil? Só o tempo dirá. A atenção da mídia e das autoridades vai ser voltada para o nosso esporte. Cada passo será mais intenso e espero que os jogadores prestigiem essa iniciativa. Quero ver o BSOP lotado em todas as etapas. Chegou a hora de dar as mãos e fazer o nosso esporte ter a visibilidade que merece.

É claro que temos muitas outras novidades que passam pelos locais dos eventos (resorts e hoteis top de linha, com atividades para as famílias dos jogadores), estrutura renovada (20 mil fichas de stack inicial, novos blinds), freerolls de acesso as etapas (pelo menos 8 vagas dadas pelo Full Tilt a cada etapa), mais satélites, premiações e inscrições com fichas no Full Tilt, transmissão pela web ao vivo pela TVMebeliska em todas as etapas, site remodelado, presença da CBTH reconhecendo como campeonato brasileiro oficial, novo formato de ranking, braceletes para os campeões de todas as etapas e premiações extras aos melhores do ano, incluindo o Main Event da WSOP ao campeão brasileiro de 2010.

Que minha profecia se concretize e 2010 seja o ano do poker no Brasil!




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