EDIÇÃO 30 » COLUNA INTERNACIONAL

Aulas Para Jeff Shulman — Parte I

O plano


Phil Hellmuth

No oitavo dia do main event da World Series of Poker — no dia 15 de julho — o torneio foi suspenso, quando o field chegou aos últimos nove jogadores. As fichas foram ensacadas, os jogadores foram entrevistados pela ESPN, a imprensa do mundo inteiro deixou o local e os jogadores foram mandados para casa até o dia 7 de novembro. Naquele dia, os jogadores conhecidos como os “November Nine” retornariam para jogar até que restassem os últimos dois, e então no dia 9 de novembro eles jogariam até que o campeão mundial de poker de 2009 fosse determinado.

Com quatro meses entre a definição da mesa final e o jogo propriamente dito, muito poderia ser feito para melhorar as chances de alguém ganhar. Com isso em mente, alguns jogadores procuraram “técnicos de poker” para ajudá-los a aprimorar suas estratégias gerais ou mudar totalmente seus jogos. Jeff Shulman me procurou, e eu prontamente concordei em treiná-lo. Primeiramente, eu estava presente na mesa final do main event da WSOP em 2000, fazendo uma cobertura “ao vivo pela Internet”, quando Shulman teve o incrível azar de acabar na sétima posição, e eu me senti mal pelo que aconteceu com ele naquele ano. Com sete jogadores restantes e uma liderança em fichas enorme, Shulman colocou Chris “Jesus” Ferguson all-in com 7-7 contra 6-6 de Ferguson. Se a mão de Shulman tivesse se mantido, ele teria ficado com 3,2 milhões em fichas, o que teria sido ótimo com o segundo lugar tendo apenas cerca de 500.000. Em vez disso, ele perdeu, recebeu K-K algumas mãos mais tarde e se deparou com A-A de Ferguson, tendo sido eliminado. No dia seguinte, eu mantive o nome de Shulman vivo na transmissão, pois ele merecia mais do que obteve.

A segunda razão por que concordei em ajudar Shulman é porque somos parceiros de negócios: eu sou o terceiro maior acionista da revista Card Player. Uma terceira razão é que eu realmente acreditava ser capaz de ajudar Shulman taticamente, muito embora nossos estilos sejam similares. Quer dizer, meu currículo no hold’em é muito bom. Eu tenho mais de 30 mesas finais na WSOP em hold’em (nº 1 até agora) e 11 vitórias (nº 1 até agora), e ganhei o main event de 1989. Eu acredito que o ajudei, e agora que o torneio terminou, posso revelar meu “plano de aulas”.

Primeiramente, nós tínhamos um grupo de pessoas que incluía Adam Schoenfeld, ex-jogador do Orel Hershiser, o ganhador de bracelete da WSOP Diego Cordovez e o pai de Shulman, Barry — campeão do main event da WSOP Europe — que jogava mãos e discutia táticas. Em segundo lugar, nós imprimimos toda mão que cada um dos outros membros dos November Nine tinham jogado ao longo da WSOP, um pacote de 50 páginas, e lemos todas elas. Terceiro, nós assistimos a todos os moves de cada jogador na cobertura da ESPN.

Como Shulman começaria com cerca de 20 milhões em fichas e os blinds eram de 120.000-240.000, nós sabíamos que havia muito tempo disponível para ele “trabalhar suas fichas”. Com a meta de chegar ao top 3 da maneira mais fácil possível, eu recomendei a Shulman que empregasse uma estratégia bastante segura e tight, especialmente quando ainda restassem nove e oito participantes. Jeff gostou e Barry apoiou, pois ele tinha vencido a WSOPE empregando uma estratégia similar na mesa final. Depois de quebrar minha cabeça durante um mês, recomendei que Shulman abrisse potes com apostas quatro ou cinco vezes o tamanho do big blind. Então, com blinds de 120.000-240.000, eu pedi que ele abrisse com pelo menos um milhão. Por quê? Bem, eu não achava que os outros jogadores da mesa veriam flops com pares baixos ou suited connectors com um preço tão alto, nem que voltariam por cima de alguém que estava jogando de forma extremamente tight e abrindo com aquela quantia com uma mão de blefe. Portanto, achei que essas grandes apostas iniciais forçariam todo mundo a dar fold com mãos mais fracas, reduzindo o número de blefes exagerados que Shulman precisaria fazer e, portanto, possibilitando que ele levasse alguns pequenos potes sem briga. Além disso, caso Shulman tivesse uma mão como 10-10 e alguém desse reraise, seria bem mais fácil para ele dar fold, pois seu oponente provavelmente teria um overpair ou A-K.

Ao desencorajar seus oponentes a tentar flopar uma trinca ou blefar, ao levar potes pequenos e ao simplesmente manter seu estoque inicial, eu esperava que ele durasse muito tempo com pressão zero. Também esperava que os outros oito jogadores se atacassem sem necessidade, como fizeram os November Nive 2008. Portanto, minha primeira lição para Shulman foi jogar de forma extremamente tight e abrir com pelo menos quatro vezes o big blind até que isso parasse de funcionar, ou até que eles restassem cinco jogadores.




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