EDIÇÃO 29 » MISCELÂNEA

Capture a Bandeira: Joe Cada


Kristy Arnett

Joe Cada é o profissional de poker que tirou de Peter Eastgate os títulos de atual campeão mundial e de mais jovem vencedor do Main Event da World Series of Poker, ao ganhar o maior evento do poker do mundo no começo do mês de novembro. Mas antes de ficar famoso como jogador de torneios, Cada ganhava a vida nos cash games.

Kristy Arnett: Quantos anos você tinha quando começou a jogar cash games?
Joe Cada:
Comecei quanto tinha 15 anos; nós jogávamos um pouco antes do “boom Moneymaker”, e foi a partir daí que o jogo começou a ficar bastante popular na minha escola. Nós começamos a jogar na casa de vários amigos. Nós jogávamos 25¢-50¢ com buy-in de $25 ou $50. Eu logo percebi que o jogo era bastante complexo, e tinha vários amigos mais velhos que jogavam profissionalmente na época, então eu pedia dicas a eles.

KA: Você obteve sucesso de imediato?
JC:
Eu na verdade ganhei muito nos jogos caseiros, e foi por isso que, durante meu último ano, eu tentei jogar online. Depositei $50 e, na época, eu não tinha um gerenciamento de bankroll muito bom. Eu jogava 25¢-50¢ com dois buy-ins de $25 e tentava subir. Eu sacava o dinheiro ou perdia tudo. Depois de um tempo, simplesmente deixei o dinheiro online e subi para $2-$4, que joguei durante cerca de um ano, quando eles [os sites] disponibilizaram limites maiores. Eu eventualmente subi para $10-$20.

Quando o PartyPoker impediu o acesso dos jogadores norte-americanos, decidi colocar algum dinheiro no UltimateBet. Depositei só $600 para fazer um teste, e consegui acumular $300.000, jogando heads-up, em apenas dois meses. Passei por uma má fase e saquei muito dinheiro. Eu passava por muitos altos e baixos naquela época. Perdi uns $100.000, e tinha 19 anos, então era isso muita coisa.

KA: Qual você acha que é a sua vantagem no heads-up?
JC:
É fácil se mexer no heads-up, especialmente no UB [UltimateBet], porque o software era bem rápido. Você perdia alguns buy-ins e começava a tiltar muito. Notei que muitas pessoas não conseguiam se controlar. Foi quando eu ganhei a maior parte do meu dinheiro — quando as pessoas tiltavam. Acho que esse é o aspecto mais forte do meu jogo. Eu não tilto de jeito nenhum. Consigo permanecer calmo e, caso perca alguns buy-ins, eu simplesmente me levanto, enquanto outras pessoas perdem muito dinheiro de uma só vez.

KA: Antes do Main Event desse ano, em que jogos e limites você jogava no dia a dia?
JC:
Bem, eu estava numa fase péssima antes do Main Event. Eu ganhei $150.000 em torneios no mês de outubro, então, ao longo dos meses seguintes, eu perdi $150.000 jogando PLO [pot-limit Omaha] de $25-$50, heads-up, six-max e torneios. Fui para as Bahamas e joguei no torneio de lá. Joguei na Costa Rica, e em eventos de $5.000 no FTOPS [Full Tilt Online Poker Series]. A variação nos torneios é muito grande, então isso tudo aconteceu muito depressa. Desci para $5-$10 antes de entrar na mesa final da WSOP.

KA: Você subiu de limites depois de ter garantido o prêmio mínimo de $1,2 milhões por ter entrado na mesa final?
JC:
Houve um momento em que eu ganhava regularmente nas mesas de $25-$50. Eu não conseguia ganhar na $50-$100, que são muito mais difíceis hoje em dia, então jogava apenas na $25-$50. Eu vinha subindo e descendo de níveis. E não tinha muita variação, não ganhava nem perdia. Então eu jogava nessa e na $10-$20, e não sentia a necessidade de subir, pois os altos e baixos são muito grandes.

KA: O que você prefere: torneios ou cash games?
JC:
Eu acho que gosto mais de torneio, pelo menos dos de maior buy-in. Tenho jogado na $25-$50, e são muito difíceis. Não há muito dinheiro morto. Torneios são bem mais relaxantes. Você pode perder apenas seu buy-in. Em cash games, houve dias em que eu perdi $60.000 ou $70.000.

KA: Que ajustes jogadores de torneio geralmente deixam de fazer quando passam a jogar cash games?
JC:
Acho que muitos jogadores de torneio têm dificuldade em cash games porque os estoques são muito maiores. Há mais jogo pós-flop. Em torneios, boa parte do jogo é pré-flop, pois você joga com 20, 30 ou 40 big blinds. Sua seleção de mãos em torneios é bem menor também. Quando você joga cash games com grandes estoques e shorthanded, precisa ampliar a gama de suas mãos, e você é colocado em muitas situações diferentes nas quais normalmente não se encontraria em torneios. No poker, o importante é ter experiência e ser capaz de se ajustar.

KA: Que tipo de ajustes você faz quando joga um cash game particularmente agressivo pré-flop? E como você sabe quando combater agressividade com mais agressividade ou usar uma abordagem mais tight?
JC:
Há muitas maneiras de se ajustar. Se alguém estiver tribetando com frequência ao longo de determinado número de mãos, você vai precisar dar mais 4-bets. Isso também depende da frequência com que essa pessoa revida uma 4-bet. Depois de ter jogado muitas mãos com determinada pessoa, é bem mais fácil saber exatamente como se ajustar. Você vai saber se ele vai empurrar tudo com uma 5-bet com algumas de suas mãos ou dar fold diante de uma 4-bet. Ou, caso alguém esteja tribetando demais, você pode abrir com menos frequência. E você pode dar open-fold com mãos que não jogam bem pós-flop, como K-J e K-10.

Se alguém estiver dando muitos calls em suas 3-bets, você deve tribetar com mãos que têm bom valor, como A-Q, K-Q e 9-8 suited. Muitas pessoas apenas dão 4-bet ou fold diante de uma 3-bet: nesse caso, não importa com que tipo de mão você está tribetando, então você realmente precisa fazer isso com A-J ou A-Q, pois, se você não está planejando dar call diante de uma 4-bet ou 5-bet empurrando da parte deles, não há por que tribetar com essas mãos, já que você deve jogar com elas pelo valor.

KA: O que você achar de um jogador entrar de limp com uma mão forte como ases ou reis de under the gun, com a intenção de dar back-raise (reaumentar caso alguém aumente)?
JC:
Eu não gosto de dar limp-raise com muita frequência. Se você for entrar de limp com uma mão forte, também deve equilibrar sua gama. Se estiver entrando de limp apenas com suas mãos fortes, vai se mostrar muito óbvio, e não vai receber muita ação. Isso significa que você vai precisar dar limp com outras mãos também, de modo a fazer isso do UTG e as pessoas darem raise. Eu prefiro simplesmente abrir raise. Compreendo que é uma boa jogada se você estiver em uma mesa em que muitas pessoas paguem raises, e, se você entrar de limp, há boas chances de outro alguém aumentar. Dessa maneira, você pode conseguir muitas bets.

KA: Segundo o mesmo raciocínio, como você equilibra sua gama de abertura em posição inicial?
JC:
Eu gosto de abrir raise com muitas mãos, mas é claro que depende da mesa. Gosto com suited connectors — como 7-6, 9-8, 10-9 — e minhas grandes mãos — ases, A-K, reis, damas. Mas dou fold com A-J e A-10 quando estou no UTG, pois, se eu aumentar com essas mãos, um ás pior vai dar call pré-flop. Com muitas mãos, como K-J e Q-J, eu simplesmente dou fold, mas abro raise com os suited connectors menores, que não são necessariamente dominados por jogadores que pagam um raise under the gun. Entro com mãos que jogam bem pós-flop, para variar minha gama.

KA: Que conselho você daria a outros jovens players que queiram jogar cash games profissionalmente?
JC:
A primeira coisa que eu diria é: tenha um bom gerenciamento de bankroll. Dessa maneira, quando você perder, não vai ser afetado, pois você tem bankroll para o jogo. Isso lhe dá uma grande vantagem.




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