EDIÇÃO 28 » COLUNA NACIONAL

Problemas com apostas futuras

Odds e Metagame sinalizam o caminho correto


Christian Kruel

Vamos a mais uma discussão que vale à pena:
 
Uma das situações mais difíceis que enfrentamos em No-Limit Hold’em é aquela em estamos diante de uma aposta de um jogador que está representando uma mão melhor que a nossa, tendo ainda rounds de apostas pela frente.
 
O problema fica um pouco menos complexo se tivermos alguns draws para bater a mão que nosso vilão está representando, mas e se esses draws não existirem? E se o call for realmente muito difícil e ainda tivermos que levar em consideração uma ou duas apostas pela frente?
 
Um cenário bem típico para esse tipo de situação: seu oponente deu raise pré-flop, você pagou com par de valetes. O flop abre 963, seu oponente aposta metade do pote e você paga. O turn traz um 2 e ele sai apostando metade do pote novamente. Contra esse vilão, você estima que suas chances de ter a melhor mão estão em torno de 30%. Se você der um raise aqui, ele provavelmente vai pagar com as mãos que lhe derrotam e jogar fora que não ganham de você. Logo, seria errado aumentar nesse instante. Mas o que dizer do call?


 
Se vocês já estiverem comprometidos com o pote ou muito perto disso, o call aqui é bem simples e fácil, mas vamos supor que ainda temos muitas fichas para trás. Digamos que o pote esteja em $100 e que o vilão aposte $50. Com pot-odds de 150-para-50 você só precisa estar 25% favorito para que o call seja correto. Nesse momento, temos 34% de chances se considerarmos ainda os dois valetes que sobram no baralho, probabilidade essa que, a princípio, vamos ignorar, assim como a de o vilão lhe tirar do pote no river, para efeito de simplificação dos cálculos.
 
O problema aqui, como dissemos anteriormente, é que você e ele ainda têm muitas fichas para trás e não estão próximos de ir all-in. Além disso, é provável que o vilão também aposte no river. Isso muda as coisas? Claro que sim. Por exemplo, se você soubesse que ele sempre apostaria meio pote no river com todas as mãos com que ele apostou no turn, deveria dar fold diante da aposta dele no turn. As pot odds atuais que estariam sendo oferecidas a você, cerca de 250-para-150, requereriam aproximadamente 37,5% de favoritismo. Se você fizer o call no turn nessa situação, será obrigado a pagar no river, uma vez que terá, nessa street, odds de 300-para-100. É por isso que suas pot odds reais no turn são de 250-para-150.
 
Um call no turn poderia ser um erro ainda maior se você tiver alguma anotação sobre seu oponente que mostre que ele pedirá mesa no river com a parte mais fraca do seu range que não bate nosso par de valetes. Isso reduziria suas pot odds para 240-para-150, pois você ainda perderá $150 quando for derrotado, mas só lucrará $240 caso leve o pote.
 
Por causa desse tipo de raciocínio, muitos jogadores são rápidos ao se livrar de mãos como essa no turn. Porém, em alguns casos, eles podem estar cometendo pequenos erros, e aqui entra um pouco de metagame. Calma, vou tentar explicar...


 
Nem sempre jogamos contra oponentes desconhecidos. Aliás, especialmente nas fases finais de torneios ou em mesas de cash game, enfrentamos oponentes regulares em muitos potes. A maioria dos jogadores regulares que veem que o oponente deles pagou uma aposta no flop e no turn num bordo sem draws, vai supor que ele não está perseguindo um draw e que provavelmente tem uma mão feita e pagará também uma aposta no river. Logo, em muitos casos, eles estarão bem mais dispostos a pedir mesa do que a apostar na última street. Se você souber que o vilão se encaixa nessa definição, o raciocínio muda. Nesse caso, você vai pagar a aposta de $50 no turn e perder apenas ela quando não levar o showdown, ou ganhará $150 quando levar o pote, fazendo com que o call no turn seja correto.
 
Vamos mudar um pouco a situação... O que fazer se soubermos que o vilão, por exemplo, apostará no river em 10% dos 30% das vezes em que nós estivermos ganhando? Supondo que as apostas sejam de metade do pote, o call no turn vai se justificar porque você terá 150-para-50 e ele apostará em 73% das vezes, o que lhe deixará precisando de um tiro de 27%, valor OK até mesmo se não contássemos com os dois valetes extras.
 
Claro que, nesse exemplo em particular, se nós disséssemos que o vilão apostaria no river com cerca de metade as mãos que perdem, assim como com todas as mãos que ganham, teríamos que dar fold no turn novamente. De qualquer maneira, em situações como essa, os jogadores deveriam levar em consideração a possibilidade de pagar o turn com a intenção de dar fold diante de uma terceira aposta no river. Conhecer o oponente é a melhor maneira de determinar quando isso vai ser correto.




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