EDIÇÃO 28 » MISCELÂNEA

Captue a Bandeira: Eugene Katchalov


Kristy Arnett

Eugene Katchalov tem quase $4 milhões ganhos em torneios, mas tem obtido grandes lucros em cash games ao longo de sua carreira no poker. Depois de ter se formado na New York University com um diploma em comércio e finanças internacionais em 2003, Katchalov se tornou um jogador assíduo na cena underground do jogo em New York City, e cresceu consistentemente desde então. Hoje, ele joga high-stakes tanto live quanto online, sob o nick “MyRabbiFoo”.

Kristy Arnett: Quando começou a jogar no-limit hold’em low-stakes nos clubes de Nova York, você obteve sucesso imediatamente?
Eugene Katchalov:
Não, eu acho que não ganhava [rindo]. Eu me lembro de jogar de forma muito tight. Eu esperava por algumas pessoas no jogo que davam muita ação.

KA: Como você aprendeu a se tornar um jogador vencedor?
EK:
Além da experiência, eu melhorei meu cash game observando muitos cash games high-stakes online. Você não pode ver as cartas deles na maioria das vezes, mas de vez em quando as mãos iam até o showdown. Eu sempre vasculhava o histórico de mãos e via como eles tinham jogado suas mãos. Depois eu tentava entender por que eles tinham feito o que tinham feito e tentava compreender por quê. Depois de um tempo fazendo isso, comecei a pegar certas ideias sobre como jogar.

Eu incorporava o que tinha visto ao meu próprio jogo e fazia experimentos. No começo eu não era muito bem sucedido, mas continuei tentando e, em determinado momento, começou a funcionar. Foi difícil descobrir que estilo funcionaria para mim em cash games. Como eu disse, eu era tight no começo, e depois tentei um estilo superagressivo, que também não funcionou. Perdi dinheiro. Eu então ia e vinha, tentando encontrar um meio termo. Eu simplesmente não tinha uma boa compreensão do que significava um tight bom e um agressivo bom. Há tight ruim e agressivo ruim, e tight bom e agressivo bom. Tudo era questão de encontrar um equilíbrio.

KA: É um erro permanecer em um estilo com o qual você se sente confortável quando há maneiras mais lucrativas de jogar?
EK:
Eu com certeza acho muito importante tentar todos os estilos diferentes e ver o que funciona e em que situações. Primeiramente, você nem sempre pode jogar um estilo. Essa é uma das coisas mais importantes que aprendi. Você precisa ser capaz de ajustar seu jogo com base no seu oponente. Esteja você num heads-up ou contra a mesa inteira, precisa entender como seus oponentes estão jogando. Em geral, a maneira correta de jogar é a oposta àquela como sua mesa está jogando. Mesmo que você seja um jogador agressivo, se todos os outros na mesa forem maníacos, você deve jogar tight. Se todos na mesa forem tight, você deve jogar de maneira bastante agressiva. Saber como fazer isso é outra história.

KA: Há pouco você mencionou “agressivo ruim”. Pode me dar um exemplo de como um jogador pode usar a agressividade de forma errada?
EK:
As pessoas tentam blefar contra os jogadores errados. Você não pode tentar blefar contra todo mundo de maneira aleatória. Um jogador muito tight, que não tem colocado dinheiro a não ser que tenha grandes mãos, entra no pote e um jogador insano e agressivo tenta assustá-lo ou afastá-lo por meio de um blefe enorme. Ele acha que porque o oponente tight não jogou uma mão há algum tempo, ele vai desistir, mas ele provavelmente estava esperando para fazer slowplay com uma grande mão.

É preciso ser capaz de colocar seus oponentes em uma determinada gama de mãos, e um bom jogador agressivo vai limitar esse range e jogar de acordo, em vez de simplesmente forçar a ação. Por exemplo, em um flop baixo, muitas vezes se um jogador tight estiver lhe dando muita ação, ele pode estar preparando uma armadilha para você com uma trinca. Se houver cartas altas, ele pode ter top pair. A gama dele é bastante limitada, então um bom jogador agressivo vai saber disso e geralmente não vai perder muito blefando contra esse oponente tight.

KA: O que você joga hoje em dia?
EK:
Live, no Bellagio, eu geralmente jogo $25-$50 com ante de $100 no button. Se houver mesa de $50-$100 ou $100-$200, eu jogo se for somente no-limit [hold’em]. Às vezes eles misturam com PLO [pot-limit Omaha], e eu não sou um grande fã dessa variante. Não me acho muito bom nele. Online, eu jogo $25-$50. Começei a jogar mais na Internet tem pouco tempo, pois preferia jogar live. Eu jogo six-max ou heads-up, e geralmente apenas com estoques grandes. No Full Tilt, há mesas de 200 big blinds. Há muito mais poker para se jogar quando os estoques são altos. É muito mais complexo. Há mais poker envolvido, e as cartas importam menos. O que se torna mais importante é o ritmo do jogo, sua imagem, as imagens de seus oponentes, o que eles acham de você e o que você acha deles. Se você tiver poucas fichas, não há muita ação no turn e no river. Tudo acontece pré-flop e no flop, e você fica basicamente comprometido.

KA: Que ajuste é importante fazer quando se faz a transição de um poker com 100 big blinds para um com 200?
EK:
Eu diria que você precisa perceber que deve tribetar mais e pagar apostas tribetadas com uma gama mais ampla de mãos. Você precisa expandir seu jogo, pois não ficará comprometido em potes tribetados. Você pode ver flops e jogar turns com muito dinheiro extra para ganhar ou perder.

KA: O que você acha de executar grandes blefes em cash games?
EK:
Acho que eles são necessários e lucrativos, mas não devem ser executados com muita frequência. Penso que devam ser usados apenas em situações específicas. Eu cogitaria fazer um grande blefe apenas se eu tivesse um histórico com meu oponente e tivesse uma boa leitura da mão ou do que estivesse acontecendo. Digamos que eu tivesse jogado com meu oponente algumas vezes antes e que, em situações similares, ele deu call e viu que eu tinha uma grande mão ambas as vezes. Se eu puder saber o que ele acha que eu tenho em determinada situação, posso tentar um blefe. Você precisa ser capaz de vender a mão com a qual está apostando, e isso tem que ser feito contra um oponente inteligente. Contra bons jogadores, você tem certeza de que eles estão prestando atenção a tudo que está acontecendo.

É necessário blefar de vez em quando, pois se você jamais mostrar um grande blefe, seus oponentes vão perceber isso em determinado momento e jamais vão jogar grandes potes com você, a não ser que eles mesmos tenham uma grande mão. Se acharem que você e capaz de blefar, você vai receber um call com um par quando estiver all-in, pois você poderia estar blefando. É realmente importante fazer isso nos momentos certos.

KA: De modo a se certificar de que seus oponentes sabem que você é capaz de executar um grande blefe, você advogaria mostrar as cartas após um bem blefe sucedido, ou você deve sempre fazer com que eles paguem para ver?
EK:
Essa é uma questão interessante. Eu pessoalmente acho que depende da situação. Já mostrei blefes algumas vezes, mas em geral tenho um plano se for mostrar minhas cartas. Se eu mostrar uma grande mão, talvez seja porque eu queria que as pessoas recuassem, de modo que eu pudesse blefar contra elas mais tarde. Ou, caso eu mostrasse um blefe, talvez eu não blefasse mais tão cedo.

KA: Obviamente, em cash games, não há como vencer toda sessão, então é preciso formular um sistema para saber quando parar?
EK:
Isso costumava ser um grande problema para mim, e eu acho que com muitas pessoas o que acontece é que, quando elas começam a ganhar, ficam mais dispostas a sair do que quando estão perdendo. Faz parte da natureza humana. Isso é ruim porque, quando você está ganhando, provavelmente está confiante e jogando seu melhor, e o oposto quando se está perdendo. Se eu estiver perdendo, me pergunto: “Eu estou me sentindo confiante? Eu sinto que sei o que está acontecendo? Eu estou perdendo porque estou tendo azar ou porque os outros estão jogando melhor do que eu?” Se eu achar que ainda sou um favorito no jogo, continuo a jogar.

KA: Qual é o maior conselho que você daria a jogadores iniciantes de cash games?
EK:
Aprenda a não jogar de forma tão automática, não importa seu estilo. Tenha a capacidade de jogar uma mão de três maneiras diferentes na mesma situação.




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