EDIÇÃO 27 » FIQUE POR DENTRO

Filosofia do Poker: Não se apaixone


David Apostolico

A mão inicial mais forte possível parece trazer uma discussão infinita sobre o jogo pré-flop. Questione 10 jogadores de poker diferentes e você obterá 10 opiniões diversas sobre como se deve jogar com um par de ases. Obviamente, não há só uma resposta adequada, e, como tudo mais no poker, a resposta correta para como jogar com essa mão é: “Depende”.

Depende das incontáveis situações em que você possivelmente pode se encontrar quando olha para baixo e descobre que recebeu dois gloriosos ases. Discutir todas as situações potenciais vai além do escopo desta coluna. Em vez disso, eu gostaria de me concentrar em um aspecto preocupante dessa mão que vejo com bastante frequência: muitos jogadores se apaixonam por pares de ases.

É fácil compreender por que isso acontece. Eles vão receber aquela mão apenas uma vez a cada 220 rodadas. Há um acréscimo de adrenalina à primeira vista. O pensamento inicial que atravessa sua mente não é se você vai ganhar a mão, mas quanto você vai ganhar. Você então começa a flertar. Há uma tendência a negligenciar falhas óbvias e evidentes nesse estágio inicial de torpor. Você fica enfatuado, e esquece as consequências no longo prazo. Estar apaixonado entra em conflito com ser racional, objetivo e, o mais importante, emocionalmente distante, qualidades críticas para se alcançar o sucesso no feltro. Quando perdemos nossa objetividade, nossos corações — e ases — são esmagados.

Eu conheço um jogador de poker de sangue frio que joga um poker fundamentalmente sólido. Ele é um jogador pós-flop muito bom que sabe quando atacar, quando recuar e como cobrar para que os jogadores persigam draws. Você raramente o vê tentando acertar uma mão quando não tem as odds corretas, e poucas vezes ele dá ao oponente a oportunidade de tentar um draw por um valor justo. Ainda assim, ele insiste em fazer slowplay com ases pré-flop. Ele sempre entra de limp, independentemente da situação. Seu raciocínio é que, como pares de ases são muito raros, ele quer maximizar o valor quando recebe essa mão. A coisa mais importante para ele é conseguir ação e se segurar ao objeto de sua afeição durante um pouco mais de tempo.
Bem, eis o problema. Com raras exceções, a ideia é colocar dinheiro no pote quando você tem a melhor mão e forçar os jogadores a pagar caso queiram tentar um draw. Com um par de ases, você tem a melhor mão pré-flop. É válido o argumento sobre disfarçar a força da sua mão, mas se não houver aumentos pré-flop, vai ser difícil para você também determinar o que seus oponentes têm. Quase qualquer flop é um perigo potencial para você.

Agora, nosso amigo que gosta de fazer slowplay com um par de ases pré-flop sempre aposta com força com os ases pós-flop. Isso se adequa a seu padrão normal de ser agressivo com mãos boas e não dar cartas grátis aos oponentes. Vamos analisar isso. Nosso amigo entende completamente o conceito de cobrar para os jogadores tentarem draws pós-flop. Ele os faz pagar um preço premium no flop e no turn para ver mais uma carta. Mesmo assim, com um par de ases, ele não se preocupa em fazer com que seus oponentes paguem pré-flop. Na verdade, ele os encoraja a ver três cartas sem pagar por isso.

O amor geralmente é cego. Em vez de permanecer objetivo e emocionalmente distante daqueles ases, nosso amigo se apaixona e se prepara para subir em direção ao altar não importa o que aconteça depois daquele sentimento inicial.

David Apostolico é autor de vários livros de poker, inclusive Torneios de Poker e A Arte da Guerra. Ele está disponível para aulas, e você pode contatá-lo no endereço thepokerwriter@aol.com.




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