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História (bastante) concisa das coberturas online no Brasil


Daniel Tevez Cantera

Em 2006, assisti pela primeira vez a uma cobertura online de um grande torneio de poker.

E achei que isso poderia ser feito no Brasil. Demorou um ano até que alguém acreditasse nisso e, como sempre, quem comprou a ideia foi o Robigol. Ele achou bacana a ideia e lá fomos nós dar início ao que hoje é indispensável para qualquer torneio no país: uma cobertura ao vivo.

No começo, era tudo muito engraçado, porque todos queriam ser mencionados e nós tínhamos uma dificuldade enorme para postar as fotos, então eu decidi que a solução seria incluir apenas as mãos de destaque, o que também era complicado, pois havia sempre alguém questionando ou contestando, ou perguntando por que eu tinha postado a baralhada dele quando o Mifune estava aprontando coisa pior nesse dia juntamente com o Gabriel Otranto.

Como agradar a todos então? De um lado, certas pessoas reclamavam que nunca tinham colocado uma foto delas, de outro, alguns diziam que suas jogadas sensacionais não tinham sido sequer citadas. Isso sem mencionar os parentes dos jogadores que pressionavam para que fossem postadas fotos deles.

E quanto àqueles que não podiam aparecer, por razões diversas? Teve até o caso de um cara que foi até lá, pediu para ser fotografado e colocado no chip count até determinado horário, embora ele não fosse jogar. Em vez disso, ele iria para a gandaia, mas sua esposa iria conferir a participação dele pelo Pokernews. Era realmente difícil.

Resolvi então fazer vídeos, mas demorava horas para se fazer o upload, e eles tinham limite de tempo. Mas as coisas foram fluindo e as ferramentas aparecendo.
 
Fazer sozinho era difícil, então passamos a cobrar para poder pagar funcionários. Hoje, já não cobramos mais para fazer as coberturas, pois movimentamos nosso site e nossos patrocinadores ganham com isso, e descobrimos que uma equipe onera demais os custos do organizador. Nós perdimos apenas uma estrutura decente de tomadas, uma cadeira confortável, uma mesa e (obviamente) uma conexão à Internet satisfatória.

Chegamos então a dominar as técnicas de fazer uma cobertura de padrão internacional, bonitinha, fotos boas, vídeos corretos, entrevistas... Mas tava muito careta esse negócio... Então na Costa Rica eu vi uma gata de parar o trânsito... Preciso mostrar à galera! Foi aí que apareceu o tal do “capilé” do Tevez. Hoje tem mulher que vem produzida de casa, só pra aparecer na cobertura. (risos)

Existem alguns truques para se fazer uma boa cobertura. Por exemplo, se você ficar grudado no Alexandre Gomes, você certamente vai postar altas emoções, com a vantagem de que após a jogada ele sempre se levanta, pergunta se eu vi o que aconteceu e comenta a respeito do que acabou de fazer. Se ficar perto do “Rádio”, sempre vai ter um vídeo muito engraçado para mostrar. Ficando junto do Federal, terá sempre uma bad beat para postar, e junto daquela dealer do Zahle você sempre terá umas belas pernas para fotografar (risos). Quando se tem XT, Salim, Vavá e Risada com azar, a gente forra em conteúdo.

O fato de fazer a cobertura nos impede de pensar em engatar no torneio, o que gera uma certa frustração. Às vezes dá para jogar o torneio do dia anterior ou o second chance, pedindo ao resto da equipe para assumir o trabalho. Forrei o Luis lá no navio, o Mamute lá no Zahle e o Forrer em Floripa. Acho que só o Guazzelli nunca forrou, mas ele merece: é palmeirense. (brincadeira, Guazza!)

Costumam dizer que nós temos a vida que pedimos a Deus, que fazer cobertura é um barato. Pura falácia. Em Las Vegas, dormi apenas cinco horas por dia durante mais de um mês, perdi cinco quilos e ainda quebrei. (risos)

Las Vegas foi o maior sucesso da minha vida: tivemos 300.000 cliques num site que tinha 60 dias de existência. Mas quando me perguntam qual foi a melhor cobertura de todas, eu sempre respondo: “A próxima”.

Queria ter 30 anos em vez de 50. Eu faria tanta coisa boa, porque, no final das contas, se tem algo que eu adoro é o meu trabalho. Vamo que todavia!




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