EDIÇÃO 26 » COLUNA INTERNACIONAL

Agarrando A-Q Offsuit

É fácil ficar emocionalmente envolvido com sua mão


Roy Cooke

Não há como jogar consistentemente com lixo e ganhar de um field inteligente. Você abre mão de algo quando joga com uma mão inferior. Contudo, se seu jogo em streets posteriores for melhor que o de seus oponentes, é possível compensar sua desvantagem inicial pré-flop superando-os depois do flop. Muitos jogadores novatos e medianos supervalorizam a seleção de mãos, achando que, se jogarem apenas com mãos boas, vão acabar ganhando ao longo do tempo. Eles tendem a jogar poucas mãos, mas as levam ao extremo, pagando com exagerada frequência quando as odds desaconselham. Aplicam seus recursos de paciência e disciplina na espera de conseguir uma mão grande e, em um nível emocional, não querem se desfazer dela! Essa reação emocional acarreta a perda de muito valor.

Eu estava suando em um jogo de limit hold’em de $30-$60. Um turista sólido deu raise para abrir o pote a duas posições do button. O button tribetou e o small blind, um jogador local amigo meu, pagou as três bets com A Q. O que havia aberto o pote pagou a bet adicional.

As duas mãos jogadas com maior exagero, e que provavelmente custam mais dinheiro a jogadores medianos ao longo da vida do que qualquer outra, são A-K e A-Q offsuit. A-Q offsuit é uma boa mão, mas ela tem mais beleza do que funcionalidade. E geralmente não se dá tão bem quando se depara com um aumento e um reaumento pré-flop. O modo como eu jogo com A-Q offsuit quando alguém tribeta depende da situação — assim como todo o resto! Nesse caso, com o primeiro que aumentou estando em posição final e o que deu reraise sendo um jogador agressivo no button, a gama de mãos de aumento deles deve ser ampla, o que fortalece o call do meu amigo. Além disso, o call dele tinha um desconto de $20, devido ao fato de ele estar no small blind. Em situação idêntica, eu teria pagado as três bets. Mas eu não teria adorado esse cenário, estando na pior posição com aquela que poderia muito bem ser a pior mão.



O flop veio 9 8 5. Tanto o jogador local quanto o que abriu deram check até o button, que atirou $30. O jogador local pagou e o que colocou o primeiro aumento deu check-raise. O button deu fold e o jogador local jogou mais $30. Parte do problema quando se joga com A-Q diante de um reraise é que essa mão se sai muito mal contra as mãos premium com que geralmente se depara numa situação de tribet. Caso nenhum oponente tivesse A-A, K-K, Q-Q, A-K, 9-9 ou 8-8 nessa situação, meu amigo teria um número limitado de outs.

Outra grande falha do jogador mediano é tentar ver o turn com overcards, especialmente quando há possibilidade de raise depois dele. Com muito mais frequência do que se imagina, eles têm uma queda quase morta. É uma jogada irresponsável, em que se espera que os deuses do poker lhe salvem. Mas o pote na verdade estava dando odds de mais de 14-1, e certa ameaça valia algum risco diante de tamanha recompensa. Diante disso, eu não gostei da situação do jogador local. Ele tinha colocado $60 e, mesmo que acertasse sua mão, havia milhões de maneiras de perder. Eu não teria dado o primeiro call, mas estando comprometido, teria colocado mais $30.

O turn foi o 6. O jogador local deu check, o que abriu o pote apostou e o jogador local deu call. O local me disse depois que colocou seu oponente em 10-10 ou J-J, sentia que ele tinha seis outs, tinha apenas 8-1 do pote e poderia obter valor caso acertasse. Mas não havia nada na ação que indicasse 10-10 ou J-J sobre outras mãos que teriam derrotado o jogador local. O que ele na verdade quis dizer é que ele esperava que seu oponente tivesse 10-10 ou J-J.

Mesmo que ele estivesse 100% certo sobre a gama de mãos de seu oponente, o preço do pote era marginal, e ele ignorou totalmente o fato de que seu oponente poderia achar que ele tinha um draw muito ruim ou mesmo uma queda morta. Embora 10-10 e J-J fossem mãos que o jogador que abriu o pote poderia ter, e o local estivesse com um draw possível, 9-9, 8-8, 5-5, A-9 suited, A-8 suited e 7-7 também eram plausíveis, e teriam deixado o jogador local em grandes apuros. Algumas dessas mãos eram mais prováveis que outras, mas todas tinham algum potencial. Se o local tivesse levado em conta toda a gama de seu oponente, ele teria percebido que estava errado em dar call.



Ao ler mãos, você precisa computar seu preço com base na possível gama de seu oponente. O jogador local emocionalmente queria pagar, e colocou seu oponente em uma gama de mãos limitada para poder justificar o call. Com muita frequência eu vejo jogadores que deveriam ser mais conscientes colocando seus oponentes em mãos que eles esperam que seus oponentes larguem, em vez de considerar a verdadeira gama de possibilidades.

Depois de ver o local jogar o turn, eu quase engasguei ao ver como ele jogou o river. Veio o 7, colocando um straight no bordo. O jogador local atirou uma bet no pote. Seu oponente aumentou. O local pagou e viu 10-10 de seu oponente, que deu ao que abriu o pote um straight maior do que o que estava no bordo.

Quando houver uma sequência virada no bordo, blefes em heads-up só funcionam contra quem economiza apostas ou contra jogadores que não leram bem o bordo. Esse com certeza não foi o caso aqui. E você sempre corre o risco de sofrer um reaumento, seja de um “reblefe” ou de uma mão melhor, de modo que em geral você arrisca duas bets para talvez ganhar metade do pote ou até mesmo perdê-lo. Apostar deu ao jogador local uma situação em que não houve ganho de valor.

Essa mão é um bom exemplo de como é fácil se envolver emocionalmente com sua esperança de ganhar o pote, o que leva a cometer erros mentais. Meu amigo local é um jogador muito melhor do que essa mão indica. Mesmo assim, ele jogou de forma péssima. Possuir conhecimento de poker não é suficiente. Ser capaz de utilizar esse conhecimento no momento da decisão é o que conta. E lembre sempre que não importa quão boa uma mão seja no início — pois você joga essa mão de onde estiver no momento.




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