EDIÇÃO 25 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Par de Reis na Mão e um Ás no Flop... Como lidar com isso


Ed Miller

Isso acontece com todos nós mais vezes do que gostaríamos. Construímos um ótimo pote com um par de reis na mão e então vem o flop... bum! Aparece um ás. O modo como você lida com isso depende muito de seus oponentes, dos tamanhos dos estoques e de mais fatores. Vamos analisar uma mão enviada por um leitor:

Estávamos na mesa final de um torneio ao vivo de no-limit hold’em; restavam nove jogadores, e seis ficariam in the money. Eu tinha um estoque de cerca de 14 big blinds, que era acima da média, quando recebi K-K no big blind. Havia dois limpers antes de mim, e eu aumentei para um total de cinco big blinds. Um dos limpers pagou. Ele era um pagador, e parecia pagar qualquer raise quando entrasse de limp. Ele tinha chegado até aqui essencialmente porque acertava suas mãos. Depois do call, meu estoque remanescente era quase do tamanho do pote, e o dele era cerca de três big blinds menos que o meu. O flop veio A-x-x e eu estava fora de posição. O que fazer?

Como meu oponente já tinha pagado raises pré-flop com mãos como suited connectors médios, não consegui dimensionar a probabilidade de ele ter um ás. Eu também já o tinha visto apostar com draws fracos, então se eu pedir mesa e ele apostar, ainda não estarei convencido de que estou derrotado. Uma pequena aposta quase certamente seria paga, e também me comprometeria.

O que aconteceu foi que eu empurrei e ele pagou, mostrando A-2 offsuit. Contra outro jogador, eu teria pensado mais seriamente em recuar depois do flop e salvar meu...

Meu leitor não escreveu a última palavra, mas acho que todos nós podemos preencher o espaço em branco. Torneios exigem um nível extra de análise de poker, assim como também exigem um nível extra de psicologia do poker.

Analiticamente, torneios são diferentes de cash games porque você não está tentando ganhar fichas, mas ficar o mais alto que conseguir no ranking final. O modo como você joga diversas situações pode variar imensamente a depender da estrutura de prêmios. Se os seis primeiros lugares forem premiados, mas o campeão ganhar 50%, com frequência vale à pena correr riscos e tentar ganhar. Porém, se as colocações forem premiadas de forma mais ou menos equivalente, em geral é melhor ser cauteloso e tentar garantir para si um lugar em uma das melhores colocações. Você não especificou a estrutura de prêmios, mas teria sido bem extraordinário justificar não jogar com seu par de reis.

Psicologicamente, torneios multiplicam os altos e baixos naturais do poker. Você não perde apenas alguns big blinds em uma mão, você é eliminado! Você não ganha apenas alguns trocados, você ganha o primeiro lugar! Essa faceta psicológica faz com que as pessoas se questionem até mesmo em relação às situações mais mundanas.

Matematicamente, porém, esses altos e baixos extraordinários não são tão grandes. Se você for eliminado de um torneio, pode sentir que perdeu o primeiro prêmio, mas na realidade você perdeu apenas uma percentagem de chance de ganhar esse prêmio (e em regra essa percentagem é pequena). Grande parte dos altos e baixos de um torneio acontece apenas na sua cabeça.

Vamos falar sobre a mão. Restavam nove jogadores, dois loose entraram de limp e você tinha um par de reis. Seu estoque era de 14 big blinds, que estava um pouco acima da média. Os seis primeiros ficariam in the money. Você não está nem perto de uma situação de “bolha” para cogitar não jogar com seus reis (supondo que a sexta colocação pague apenas uma pequena quantia de dinheiro). Esse é o tipo de mão que transforma um estoque acima da média em chip leader.

Então você aumenta para cinco big blinds e um limper loose paga. No flop bate um ás, e você é o primeiro a falar. Seu oponente tem cerca de seis big blinds restantes. Eu gosto de empurrar. O pote é muito grande (em comparação aos estoques) para largar. Como ele é um pagador, seu oponente certamente não é um favorito para ter um ás. Se você apostar, ele pode pagar com um número de mãos ruins contra o qual você tem uma grande vantagem. Pedir mesa ou apostar sem ir all-in também têm seus méritos. Pedir mesa em favor de um oponente agressivo pode fazer sentido, mas nem tanto contra esse “calling station”. Apostar sem ir all-in pode ser bom, desde que isso deixe o pagador tentado a “ir até o fim” com mãos que não têm nenhuma chance contra a sua, como duas undercards em relação a seu par. Mas, em geral, esse pote é grande, você tem uma mão decente e seu oponente é um pagador. Eu não vislumbro uma razão convincente para ser criativo. Apenas empurre e espere que ele pague com uma mão mais fraca.

Eu acredito que a maioria das pessoas dá muito valor à sobrevivência em torneios. Sim, é verdade que você pode vencer um torneio apenas com uma ficha e uma cadeira, mas você não vai conseguir com muita frequência. O valor monetário de uma ficha e uma cadeira varia consideravelmente com base no estágio do torneio, na estrutura de prêmios e assim por diante. Mas, na maioria dos casos, não vale muita coisa.
Ao longo dos anos, vi jogadores darem folds incríveis em nome da sobrevivência. Mais de uma vez, vi um jogador apostar literalmente todas as fichas menos uma, e depois dar fold. Todas as vezes, os jogadores na mesa não acreditaram no que viram. E, cada uma das vezes, o jogador que deu fold disse com orgulho: “Uma ficha e um cadeira”. Na maioria dos casos, eu acho que é melhor tentar a grande vitória e arriscar a eliminação do que garantir uma grande perda. Mesmo uma chance relativamente pequena de ganhar pode, em última análise, ser mais valiosa que uma única ficha e uma cadeira.

Há muitos riscos em um torneio, em especial quando os tamanhos dos estoques ficam tão pequenos quanto estavam nessa mão. Quando há tanto dinheiro assim no pote, em regra não há uma maneira boa de “sair de sua mão”. Eu acho que esse leitor jogou bem.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×