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Mesa Redonda: Decisões Complicadas ou Coolers?


Felipe Mojave

Vira e mexe, eu escuto a seguinte frase saindo da boca de algum profissional de poker: “Joguei o torneio fora”. E aí quando você se encontra numa situação importante que vale sua vida no torneio, você pensa: “Não vou deixar isso acontecer comigo, vou tomar a melhor decisão aqui”.

Em alguns torneios recentes, acredito ter tomado algumas decisões bem duvidosas e questionáveis, mas também não vou ser tão duro comigo (risos), pois sei que eram situações muito difíceis mesmo. Pra ser sincero, eu mesmo não sabia se aquelas decisões seriam certas para o momento, mas acreditava que elas possivelmente poderiam ser boas. Vou apresentá-las aqui para vocês, amigos leitores da CardPlayer Brasil, juntamente com a opinião de alguns colegas profissionais.

JOGADA #1
Evento: Bellagio Cup V – Side Event
Jogadores Inscritos: 169
Buy-In: $5.000
Primeiro prêmio: $244.000
Colocação: 17º lugar
Blinds: 6.000-12.000 com antes 2.000
Jogadores Restantes 17
Mojave: 77 (112.000)
Oponente: KK (280.000)

As últimas duas mesas do torneio tinham acabado de ser sorteadas e formadas, e eu não estava em uma posição muito confortável em fichas. É a primeira mão sendo da mesa semifinal, e eu estou no UTG com 77. Abro raise para 27k e um jogador desconhecido reaumenta do meio da mesa para 70k. Fiquei com 83k para trás e ia ser o big blind na próxima mão por 12k, fora os antes de 2.000 que estavam apertando muito. Ainda que eu tivesse consciência de que ia ser bem difícil encontrar meu oponente com um par menor que o meu, havia uma boa possibilidade de achá-lo com AK ou AQ, mas fui pago instantaneamente por KK quando decidi colocar o resto das minhas fichas no meio. Mesmo correndo grandes riscos de encontrar um par maior, achei que a jogada era correta para o cenário. Na verdade, acho que eu deveria ter ido direto all-in do UTG com o meu par de setes e meus nove big blinds. Pensando bem, não era uma linha muito tênue assim, e eu poderia ter dado fold, mas meu stack não me deixou fazer isso – eu estava muito incomodado e caçando mesmo um coinflip, pois já estava ITM. Acho que não foi a melhor decisão para o meu torneio.

JOGADA #2
Evento: Bellagio Cup V – Dia 2 do Main Event
Jogadores Inscritos: 268
Buy-In: $15.400
Primeiro prêmio: $1.187.670
Blinds 600-1.200 com antes de 100
Jogadores Restantes: 189
Mojave: QQ (26.400)
Eric Seidel: AA (105.000)

Um fator importante para entender essa mão: eu tinha ido para o Dia 2 com 13.100 fichas, com blinds em 400-800. Depois de empurrar all-in várias vezes e nunca ser pago, eu estava com o mesmo stack que tinha começado o dia e mais uma vez fui all-in do UTG, com AK. Fui pago pelo button com AT e dobrei para 26.400, exatamente quando os blinds subiram para 600-1.200. Na próxima mão eu fui o big blind, e Eric Seidel abriu raise no UTG para 3.200. A ação chegou à mim, olhei minhas cartas e vi par de damas. Eu sei que Seidel joga bem duro, e sei também que se eu desse call e o flop não o ajudasse, dificilmente eu conseguiria extrair fichas dele. Foi então que decidi ir all-in – ele me pagou na hora, mostrando AA. O bordo veio 9-5-4 rainbow, o que me fez acreditar que eu perderia todas as minhas fichas naquele flop também, mas a questão aqui é outra: Será que eu não poderia ter dado fold pré-flop? Ou ao menos ter dado call para jogar pelo valor da trinca (set-value)? Eu sei que é um pensamento muito medíocre, mas valia a pena analisar naquela situação. Na minha análise, o range de Seidel do UTG é 99+, AQ+, e com muita sorte eu tomaria call ali com JJ ou AK. Acredito que ele possivelmente daria fold em 99, TT e AQ, e obviamente pagaria com QQ, KK, AA e AK. Do range de call, dentre as quatro opções, estou perdendo para duas (AA, KK), empatando na outra e flipando na última. Então eu não posso achar que tomei uma boa decisão, mas o que me influenciou muito a voltar all-in era o tamanho do meu stack, que continha apenas 22 big blinds (apesar de ter dobrado na mão anterior) e estava bem longe da média, que era de 85k.

LEANDRO BRASA

Jogada #1

Com um stack inferior a 10 big blinds, eu realmente teria jogado diferente. Eu iria all-in pré-flop, na esperança de forçar o fold de uma mão melhor do que a minha (os blinds e antes nesta altura já estariam muito bons). Na eventualidade de ser pago, eu ainda poderia estar num coinflip contra KQ+ ou mesmo dominando um par menor. Para este caso, entretanto, o resultado teria sido igual ao seu, eliminação por KK. Mesmo assim, não gosto do raise pré-flop, pois um reraise poderia me fazer largar contra uma mão igual ou pior. E se eu não vou dar fold e ficar com 5 a 7 BB, prefiro a pressão total pré-flop.

Jogada #2

Não acho a decisão tão ruim se analisarmos que no pote já havia quase 6k em fichas (1/5 do seu stack) e o fold do Seidel era provável para 70% do range dele. Mesmo assim, não gosto do all-in. Prefiro um light reraise (7.500 fichas). Vejamos: sendo o Seidel tight, um reraise all-in dele significaria AA ou KK. Neste caso, se a minha leitura fosse igual a sua, seria até possível largar meu QQ e seguir com 19.000 (15 BB), vivo para dar all-in em outro spot. Mas, sinceramente, ainda assim eu dificilmente daria fold, e meu resultado de novo seria igual ao seu: eliminação.

 

GABRIEL OTRANTO

Jogada #1
Em qualquer momento de um torneio, com menos de 13 BBs (seu caso), não podemos mais nos dar ao luxo de abrir um pote e dar fold diante de um raise posterior. Jogando dessa forma, não há como ser vencedor no longo prazo. Acho  que a única decisão relevante nessa mão seria a de jogá-la ou não, pois a partir do momento em que se abre raise com esse tipo de stack, não tem mais volta. Quanto a decisão de abrir o pote ou não, com esse stack, você esta esperando o quê? Tem que ser feito. Na próxima mão os blinds vão passar de novo, complicando sua situação. Pelo stack do seu oponente, ele também se estava numa situação bastante difícil, geralmente fazendo com que o range para ‘’reship’’ (voltar all-in em um raise) seja bem mais suave do que em um cenário diferente – às vezes, você pode estar numa situação mais favorável do que imagina. Mas, de novo, essa era a decisão aqui, pois você já tinha aberto raise. Quanto à opção de entrar all-in direto, acho que essa seria a forma de eliminar definitivamente qualquer chance de tomar volta de mãos como A6s ou 66, e não é isso que queremos aqui, certo? Geralmente, ao sermos eliminados de um torneio, especialmente quando estamos perto do dinheiro grande, ficamos caçando falhas na mão derradeira, porém, na grande maioria das vezes, não foi a última mão que nos tirou da disputa, e acredito que esse seja o caso nesse evento.

Jogada #2
Considero esse stack (entre 13 e 23 big blinds) adequado para o ‘’reship’,’ porque possui a quantidade de fichas ideal para colocar pressão máxima no oponente e obrigá-lo a tomar decisões extremamente difíceis e comprometedoras. Com esse stack, não devemos abrir raise sem estarmos preparados para a volta, pois é extremamente prejudicial para a saúde do seu torneio abrir um raise com essa quantidade de fichas e ter que largar para um reraise – acho que esse seja um dos erros mais comuns, cometido inclusive por jogadores bem experientes. Como eu disse, essa parecia a situação perfeita para o ‘’reship’’, visto que o range para fazer esse move poderia ser muito mais amplo do que o apresentado, principalmente se você achasse que só seria pago por mãos premium. Entranto, eu discordo da hipótese de que só tomaria call de AA, KK, QQ e AK – basta lembrar da descrição da sua imagem na mesa: quantos all-ins você já tinha dado mesmo? Você realmente acha que ele largaria 9-9 nessa situação? Duvido! Além do fato de estar com o ‘’reship’’ stack, e estar bem soltinho na mesa, a quantidade de fichas do seu all-in não era realmente uma ameaça para o estoque de Seidel, e tenho certeza de que o range para o call nessa situação estava muito mais light do que você esta imaginando. De novo, não consigo ver outra saída para essa situação: o que aconteceu foi o famoso cooler.

 

JASON MERCIER

Jogada #1

Eu acho que você deveria apenas sair de all-in com os seus 9 big blinds com par de setes, não vejo nenhuma razão para dar fold, nem para dar raise cogitando dar fold.

Jogada #2

Nessa situação, acho que você está dando uma imagem tight demais para o Seidel. Ele joga bem duro mesmo, mas certamente é capaz de estar mixando o jogo. Eu acredito que ele pagaria com TT+ e AK, e talvez AQ e 99, dependendo muito da sua imagem, mas acho também que ele está abrindo raise com uma gama muito grande, o que torna o shove lucrativo.




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