EDIÇÃO 25 » COLUNA INTERNACIONAL

Jovem e com Volume de Jogo

A impressão positiva de um garoto


Roy Cooke

Trinta anos atrás, quando eu era um garoto punk, o poker era um jogo de homens mais velhos. Aos 15, 17 e 21 anos, eu jogava contra oponentes que tinham 30-75 anos, em sua maioria. Havia poucos livros, e a maioria deles não era muito boa. E não havia poker na internet — nem sites de treinamento! O jogo era ilegal na maioria dos estados, e as mesas eram difíceis de encontrar. Boas informações e experiência eram difíceis de ser adquiridas. As coisas certamente mudaram!

Hoje em dia, com as multitables online, você pode jogar mais mãos em um mês do que os jogadores de outrora costumavam jogar em uma década. E as informações disponíveis são fantásticas. Grandes mentes estudaram o jogo e categorizaram as informações em livros e programas de computador. Isso criou muitos bons jovens jogadores com habilidades incríveis. Eu me tornei um veterano astuto, e não deixo de me impressionar com o quanto os garotos de vinte e poucos anos sabem.

É a época da World Series of Poker, e eu estou em uma mesa de limit hold’em de $30-$60. Tom, um bom jogador do Arizona, sentou-se atrás de uma montanha de fichas imediatamente a minha direita: ele estava jogando agressivamente e se dando bem. Vários jogadores muito loose entraram de limp, e Tom completou o small blind. Eu olhei para K K no big blind e aumentei. Todo mundo pagou, e seis de nós esperamos o flop.

O flop foi um promissor 964 – nenhum ás a e nenhum flush draw. Tom pediu mesa, e eu apostei. Vários jogadores pagaram, e Tom deu check-raise. Jogador agressivo que é, ele tinha uma ampla gama de mãos: top pair, qualquer straight draw e mãos de dois pares (eu achei que ele jogaria com todas as mãos suited sob essas circunstâncias) e uma trincas de seis ou quatros. Também achei que ele teria aumentado com um par de noves pré-flop. Eu reaumentei, sabendo que poderia estar derrotado, na esperança de fazer desistir quem estivesse atrás de mim. Eu não quis dar aos pagadores uma carta barata caso minha mão fosse boa, pois ela era levemente vulnerável. Um jogador largou, mas os outros dois, ambos loose, pagaram, assim como Tom.

A carta do turn foi o 2. Tom pediu mesa, e eu apostei $60. Ambos os jogadores loose pagaram, e Tom deu um check-raise em mim. Devido às várias horas que eu já tinha jogado com ele, sabia certas coisas sobre seu estilo. Ele acelerava às vezes, mas lia mãos bem e se ajustava bem às tendências de seus oponentes. Tom sabia que eu era um jogador sólido, e que eu jogaria essa situação em particular — posição inicial com loose callers — de forma agressiva apenas quando tivesse uma mão. Ele não tinha razão para achar que eu desistiria, além disso, eu acreditava que ele sabia que pelo menos um dos jogadores loose iria pagar. Tom lê mãos muito bem para não ter ciência disso. Tais fatos sinalizaram para mim que ele tinha uma mão de verdade, que poderia derrotar a que eu estava representando e, na verdade, segurando. Tom não estava tentando comprar o pote aqui, pois sabia que não estava à venda. Ele estava tentando conseguir aumentar o bolo.

Então, o que fazer agora? O pote me dava $990-$60, mais de 16-1, e iria só crescer. Eu tinha chances de 22-1 de conseguir um rei, mas, ainda assim, poderia perder caso ele tivesse 5-3 e aquela mão suited estivesse em sua gama. Dito isso, ele também poderia ter dois pares, e eu poderia ser capaz de conseguir uma carta que superasse essa gama se eu não fosse bloqueado por nenhum dos outros jogadores. Misturando todas essas possibilidades, achei que um call era uma decisão difícil porém favorável, levando em conta o tamanho do pote. Paguei, assim como ambos os jogadores loose.

O river trouxe a Q. Não bateu. Tom apostou, e eu joguei minha mão no monte. Em grandes potes, é preciso tomar muito cuidado ao largar mãos substanciais. Você não precisa estar certo com muita frequência para dar o call correto, e eu não tenho o hábito de dar grandes folds em grandes potes. Mas, nesse caso, o fato de eu saber que Tom sabia que seria pago tornou um blefe praticamente impossível. Nessas situações, você economiza uma aposta, e essas apostas economizadas podem somar uma boa quantia em dinheiro ao final do ano.

Um dos jogadores loose pagou, e Tom revelou 5 3, tendo acertado o nut straight no turn. Eu estava com uma queda morta. Algumas pessoas poderiam automaticamente achar que eu cometi um erro ao pagar no turn, mas estariam erradas. Sim, eu estava com uma queda morta e, se soubesse disso, obviamente teria desistido. Mas Tom estava no topo de sua gama e por acaso segurava a única mão que me deixava sem chances. Em relação a todo o resto da gama dele, eu poderia conseguir um draw que o derrotasse, e em relação à maioria da gama dele, eu teria uma cobertura do pote para o draw.

Quanto a Tom, gostei de como ele jogou. Ele leu bem, mudou bem de marchas e possuiu o conhecimento de muitas jogadas. Também gostei bastante do comportamento que ele demonstrou à mesa. Ele jogou com classe, mostrou humildade e respeito a seus oponentes e se esforçou para tornar o jogo agradável. Essa é uma fórmula vencedora, tanto pessoal quanto profissionalmente. Joguei apenas uma sessão com ele, e foi uma na qual ele se deu bem. Ainda preciso vê-lo lidando com adversidades — o verdadeiro teste para garotos que vão vencer no mundo do poker. Mas tenho a impressão de que, quando o baralho o derrotar, como inevitavelmente vai acontecer, ele vai manter a cabeça erguida e lutar.




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