EDIÇÃO 25 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

De bate-pronto


Sérgio Prado

No mês passado, dividi minha coluna em pequenos tópicos para falar da World Series Of Poker 2009. A recepção foi tão bacana (com elogios do meu editor e da galera no Twitter), que resolvi continuar no mesmo esquema: escrever sobre vários temas, de maneira curta e incisiva, sem muita enrolação. Estes são alguns pensamentos que passaram pela minha cabeça no último mês:

Mais uma façanha de Alexandre Gomes
Ele foi o primeiro brasileiro a conseguir um bracelete da World Series Of Poker. A maioria comemorou, mas teve gente que pensou diferente... “Algum dia um brasileiro tinha que ganhar. Ele teve sorte de ter sido o primeiro!”. Na sequência, duas mesas finais em torneios importantes: um quarto lugar no LAPT Punta Del Este e outra quarta colocação no PokerStars Caribbean Adventure – uma das etapas do European Poker Tour. E teve gente que disse: “Tá vendo só, se fosse bom mesmo, tinha ficado em primeiro! A sorte foi embora!”.

Agora em julho, Alexandre Gomes ficou com o prêmio máximo da Bellagio Cup V, válida pelo World Poker Tour, batendo um field dificílimo e levando um prêmio milionário. Será que alguém vai ter coragem de falar alguma coisa? Das outras vezes achei que era pura inveja. Mas se alguém criticar agora, é sinal de ignorância! Ainda bem que o Alexandre tem sorte... Sorte de ter a cabeça no lugar e não se deixar influenciar pelos comentários de uma minoria.

Na minha cabeça não existe dúvida: Alexandre Gomes é hoje o melhor jogador de multi-table do país, e um dos melhores do mundo. Não é questão de opinião, mas sim uma simples interpretação dos resultados.

November Nine
O Main Event da World Series chegou a seu momento decisivo. O grande destaque entre os nove finalistas é a presença de um dos maiores profissionais do mundo, Phil Ivey. Outro jogador conhecido é Jeff Shulman, editor da CardPlayer americana. Essa foi a grande “salvação” da mesa final, que dessa vez não tem a presença de muitos jogadores de carisma, fora esses dois. Tomara que eu esteja errado, mas acho que esta geração do “November Nine” não vai deixar um grande legado para o poker, como aconteceu com os nove do ano passado.

Em 2008 tivemos Peter Eastgate (campeão e agora estrela de TV, jogando “High Stakes” com as grandes feras), Ivan Demidov (que fez história ficando em terceiro no Main Event da WSOP Europa no mesmo ano), Dennis Phillips (que fez um excelente Main Event pela segunda vez consecutiva, provando que veio para ficar), David “Chino” Rheem (que na sequência venceu o WPT Doyle Brunson Five Diamond Classic) e Ylon Schwartz (que já tem 14 cashes em eventos da WSOP).

Quem sabe as transmissões da ESPN não sirvam para mudar um pouco a minha opinião sobre o November Nine 2009... Por enquanto, acho que falta brilho nesta turma (tirando o Ivey e o Shulman, lógico). Meu palpite para o grande vencedor desta mesa final? Eric Buchman, que vai começar como o segundo colocado em fichas.

Quem foi o “Jogador do Ano” da World Series?
Em anos anteriores, o Main Event não contava pontos para a disputa de “Jogador do Ano” da WSOP. Isso mudou em 2009, quando o comissário Jeffrey Pollack anunciou que o principal torneio passava a valer na briga pelo título. Mesmo assim, a organização resolveu revelar o nome do premiado antes mesmo da formação do November Nine. Claro, parecia barbada a indicação de Jeff Lisandro, que conquistou três braceletes no mesmo ano e uma quantidade suficiente de pontos para ficar com a honra.

Mas, e agora? Phil Ivey já tinha dois braceletes e pode ganhar o terceiro (e mais cobiçado). Mesmo se não vencer, Ivey chegou entre os nove finalistas do Evento Principal, chegando muito longe no gigantesco field de quase 6.500 jogadores. Então fica a dúvida: será que as regras para a escolha do “Jogador do Ano” não têm que ser alteradas?

Poker na Rússia e na Itália
Em 2007, os russos tomaram uma decisão sensata: decidiram que o poker era um esporte, e não uma contravenção. Ótimo! Tudo ia bem até que eles resolveram voltar atrás... Na briga do governo contra os cassinos, quem levou a pior foi o poker. A primeira etapa do European Poker Tour teve sua sede alterada, e passou de Moscou para a capital ucraniana, Kiev. E o país, que era uma das potências emergentes, agora pode passar por um retrocesso gigante. Pena...

Na Itália, as restrições aumentaram: os jogadores do país só podem participar de torneios em sites localizados no próprio território italiano, como o PokerStars.it, e ficaram proibidos de disputar jogos nos sites regulares. Pelo menos, eles ainda podem ter acesso ao poker...

Fiquei confuso: a Europa não era um continente conhecido por sua mentalidade aberta e mais avançada? O que está acontecendo? Tomara que os outros pólos de poker (Alemanha, Holanda, França, Inglaterra, Espanha, países da Escandinávia etc.) não sigam estes dois exemplos.

Passado x Presente
Quem é melhor? Johnny Moss ou Peter Eastgate? Stu Ungar ou Daniel Negreanu? Doyle Brunson ou Tom Dwan?

A briga sadia entre passado e presente sempre acontece no poker. O problema é que essas questões devem ficar sem resposta. Sempre fico pensando, mas acho impossível (devido ao crescimento do poker) criarmos uma base de comparação justa, que consiga quantificar conquistas e vitórias.

No beisebol, em que as regras e principais campeonatos não mudam há décadas e as estatísticas são parte predominante do esporte, figuras lendárias do século passado têm seus números colocados lado a lado com as feras do presente. Isso ajuda a preservação dos ídolos do esporte.

Será que a impossibilidade de se fazer isso com o nosso jogo pode dificultar a preservação da memória do poker? Tenho medo que as grandes lendas do esporte sejam esquecidas ou tenham sua importância reduzida. Ou que os novos campeões não sejam levados a sério por suas conquistas. Acho que nosso papel é acompanhar de perto as novidades do mundo do poker, mas sempre de olho no passado. Não vamos conseguir respostas, mas vamos ajudar a manter viva a história do jogo.




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