EDIÇÃO 24 » COLUNA INTERNACIONAL

Segundo Desafio Anual Brunson Beer Pong

Um jogo de habilidade de verdade


Todd Brunson

Há algumas semanas, disputei o torneio Shooting Star em San Jose. Houve uma mão sofrível, em que perdi com A Q em um flop de 9-4-2 com duas cartas de ouros versus um par de valetes. Isso não me quebrou, mas quase. Eu ia parar por aqui, mas depois de refletir mais, achei que minha mão final merece ser relatada.

Eu estava no small blind depois de ter perdido o último pote de 150.000+, e tinha apenas cerca de 4.500 restantes. Isso não era muito, levando em conta que os blinds eram de 600-1.200 com antes de 200. Eu não precisava de uma mão muito boa para empurrar aqui, então fiquei agradavelmente surpreso ao olhar para baixo e ver A-J.

O jogador under the gun entrou de limp, então isso colocou ainda mais dinheiro morto no pote. Fui all-in, e o jogador no big blind fez o mesmo, com cerca de 50.000, dando a mim certa proteção ao forçar o limper a desistir. Eu tinha certeza de que estava com a melhor mão, e não podia esperar para ver o que ele tinha, para descobrir o que eu precisava derrotar.

Não acreditei quando ele mostrou Q-8 offsuit. Ele estava me dando um presente – ótimo! O flop foi ainda mais bonito: A-T-6. Ele precisava de um runner-runner. Oba! Com mais de 12.000, eu estaria de volta ao torneio.

O turn trouxe o primeiro runner, um 7. Agora ele tinha uma queda para a gaveta. Eu não deveria me preocupar tanto aqui, mas sabia o que estava por vir. Matt Savage estava lá, anunciando a mão com um microfone. Ele inicialmente ficou em êxtase ao anunciar que meu oponente precisava de um 9 para ganhar o pote, e ficou ainda mais feliz quando ele conseguiu...

Alguém pode, por favor, me explicar por que eu ainda jogo poker? Preciso me afastar dos jogos com muita sorte envolvida. Além disso, acho que preciso de uma bebida. E o que poderia ser melhor que a combinação dos dois? Um jogo de habilidade de verdade que envolva bebida — beer pong (pingue-pongue com cerveja)! Fui para Las Vegas para ser o anfitrião do Segundo Desafio Anual Brunson de Beer Pong, no Hogs and Heifers no centro de Las Vegas.

Caso você não esteja familiarizado com o jogo, eu explico. É relativamente simples. Ele é jogado em uma mesa de 2,5m. Cada time tem dez copos que estão parcialmente cheios de cerveja na extremidade da mesa. Você deve ficar atrás de sua extremidade da mesa e tentar acertar uma bola de pingue-pongue em um dos copos do seu time adversário.

Caso acerte, eles têm que beber a cerveja daquele copo, que é então removido do jogo. O objetivo do jogo é ficar com pelo menos um copo restante enquanto o outro time fica sem nenhum. Bem simples, certo?
Há algumas sutilezas no jogo. Uma é que, caso você rebata a bola e ela entre em um copo vazio do inimigo, eles devem beber dois copos. Você pode, contudo, rebater se a bola quicar na mesa. Mas, se você tocar a bola de seu inimigo no ar antes de ela ter batido na mesa, você perde um copo.

Outro detalhe é a redenção do copo final. Se ambos os seus oponentes acertarem seu último copo, game over. Se apenas um deles acertar, você tem uma chance de permanecer vivo. Você e seu companheiro de time têm cada um uma chance no(s) copo(s) deles e, caso acertem, seu copo continua no jogo.

Outra sutileza é que, se ambos os membros do time acertarem os copos de seu inimigo, podem jogar de novo. Portanto, é possível que um time possa jogar apenas uma vez antes de perder. Caso um time domine a mesa, os jogadores do outro ainda têm possibilidade de redenção.

Ano passado foi a primeira vez que eu joguei, e meu companheiro de time e eu ficamos em segundo lugar. Na verdade, nós deveríamos ter ganhado. É um formato melhor de três. O primeiro jogo nós ganhamos por oito copos! O segundo, perdemos por um (essa foi a partida mais emocionante que eu já vi. Cada time conseguiu umas sete tentativas de redenção para continuar vivo no jogo!) Na final, meu parceiro desmaiou após a primeira rodada, e eu tive que jogar sozinho contra dois. Mesmo assim, perdi por apenas dois copos.

Cerca de uma hora mais tarde, meu parceiro acordou e nós desafiamos os vencedores para uma revanche. Nós ganhamos feio, três jogos seguidos. Se meu parceiro tivesse conseguido se manter acordado por pelo menos 10 minutos...

Esse ano, fui com um cara que eu sabia que segurava sua cerveja, Brett Jungblut, também conhecido como Gank. Ele perdeu nas semifinais do ano passado, para o time que acabou vencendo o meu e ficado com o primeiro lugar. Nós nem nos importamos com treino, pois estávamos muito autoconfiantes.

Levando em conta que no torneio do ano passado foi a primeira vez que eu joguei, e que eu tinha jogado duas vezes desde então, talvez devêssemos ter saído algumas noite e praticado. Eu até tentei me encontrar com Gank antes, mas nossas agendas conflitavam. Isso foi definitivamente um erro.

Nenhum de nós teve ritmo durante todo o torneio. Ganhamos nossa primeira partida por apenas um copo, no que deveria ter sido um massacre. Na segunda rodada, tiramos os vencedores do ano passado. Gank e eu ambos queríamos vingança, e conseguimos, mas, de novo, apenas por um copo.

Nós vencemos nossos jogos seguintes sem muito esforço. Durante nosso intervalo, comecei a observar o “time favorito”, que estava destruindo todos os times contra os quais jogavam por pelo menos cinco copos. Eles pareciam invencíveis. Um dos membros do time devia ter jogado 90% das vezes enquanto eu assistia.

Nós ganhamos nosso jogo final, e estávamos na decisão. Agora, apenas tínhamos que esperar para ver quem ganharia do outro lado. Eu estava rezando para que não fosse o time que eu temia, mas como ninguém os vencia, claro que foi.

No primeiro jogo, perdemos por um copo. Parecia que eles tinham nos derrotado por uma margem pior, mas de alguma forma ficamos perto. No segundo, ganhamos por um copo. Tudo dependia do último jogo.
Eles tentaram ultrapassar a mesa e acertar copos duas vezes, e em ambas funcionou. Isso se dá quando alguém joga normalmente e o outro ultrapassa a mesa com a jogada, ao mesmo tempo. É difícil de se defender contra isso, por duas razões. Primeiro porque, se for feito corretamente, é difícil de prever. A outra razão é porque, se você tentar interceptar a bola alta e acertar a outra (ou ela bater em você), você automaticamente perde um copo.

Eles ficaram à frente com essas táticas, mas de alguma forma nós tivemos fôlego para mais uma vez ficarmos por um copo. Eles acertaram nosso copo, e as coisas ficaram preocupantes. Gank errou sua tentativa de revanche, e tudo dependia de mim. A multidão ficou em silêncio absoluto (e havia umas 100 pessoas na plateia), mas não nossos oponentes. Eles gritavam e xingavam e nos provocavam.

Não, eles não foram punidos. Isso faz parte do jogo, falar palavrão. Eu na verdade ganhei um troféu por ser o que mais fala m****. É um troféu legal, sobre uma grande pilha de cocô de cachorro.

No final, consegui vencer e nos manter vivos, e a multidão foi ao delírio! Mas foi um alívio breve. Na rodada seguinte nós perdemos, e eu fiquei em segundo lugar pelo segundo ano consecutivo.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×