EDIÇÃO 23 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Três Opiniões

Algo diferente


Matt Matros

Eu lido com fatos, números e análises com base em lógica. Mostro a jogadores de poker como usar a matemática para o bem em vez de para o mal. Dou treinamento particular, como instrutor do stoxpoker.com, e tenho feito isso na CardPlayer há vários anos. Mas depois de mais de 60 colunas, a maioria das quais envolveu matemática de um modo ou de outro, acho que é hora de eu tentar algo diferente. Aqui eu apresento três opiniões, com as quais todo mundo deve se sentir livre para discordar. Nenhum número, nenhuma análise estatística, apenas algumas reflexões que fiz. No entanto, eu ainda me reservo ao direto de usar a lógica.

Opinião nº 1: Os jogadores de poker de hoje são muito melhores que os jogadores de poker de 10 anos atrás, e significativamente melhores do que os jogadores de cinco anos atrás. Se os recordes de salto à distância forem quebrados, nós podemos dizer que os saltadores estão ficando melhores. Se os golfistas continuarem a quebrar o recorde do curso de Bethpage Black, podemos afirmar que os golfistas estão ficando melhores. Nós não podemos afirmar com certeza se os jogadores de poker estão ficando melhores, pois não há como medir isso. Mas eu acredito que os de hoje são mais habilidosos do que jamais foram.

Em 1999, quando Noel Furlong ganhou a World Series of Poker, havia 393 competidores, com quase nenhum que já tivesse jogado poker na internet. A WSOP era o único torneio do ano com um buy-in de cinco dígitos, e até mesmo eventos prestigiados como o Torneio dos Campeões tinha um buy-in de meros $2.000. Hoje, existem torneios com buy-in de cinco dígitos todos os meses, o Evento Principal da WSOP cresceu 15 vezes e o poker online é uma indústria multibilionária. O número de mãos distribuídas por ano supera os números do passado. Os jogadores de poker adquiriram possivelmente mais experiência nos últimos 10 anos do que todos os jogadores antes de 1999 aprenderam em toda a história do jogo.

Basta olhar até onde o poker chegou nos últimos anos. Quando eu cheguei à mesa final do WPT Championship em 2004, meu interesse na teoria do jogo era tão singular que os produtores deram destaque a minha entrevista. Muitas pessoas nunca tinham ouvido falar no assunto. Hoje, todo mundo já ouviu falar em teoria do jogo, e a maioria dos grandes jogadores estão cientes de seus princípios básicos. Acredito que haja pelo menos cem pessoas jogando poker hoje que poderiam ter sido o melhor jogador do mundo 10 anos atrás.

Mas, por mais que os jogadores sejam bons hoje em dia...

Opinião nº 2: 80% dos jogadores de poker não são tão bons quanto imaginam ser. No Main Event da WSOP do ano passado, $600 saíram do bolso de cada jogador para pagar taxas de entrada e gratificações para os funcionários do torneio. Isso significa que o Harrah’s e sua equipe ganharam mais de $4 milhões por sediar o Evento Principal de 2008, e quase tudo saiu dos bolsos de pessoas que acharam que estavam fazendo um bom investimento. Sim, eu sei que muitas pessoas ganharam suas entradas através dos satélites. Isso significa apenas que a contribuição de $600 para o Harrah’s do vencedor de um satélite veio de muitas pessoas que achavam que tinham feito um bom investimento, em vez de só de uma. Eu também sei que algumas pessoas entram no Main Event “apenas pela experiência”. Jogar eventos de grande buy-in pela experiência é bom – eu mesmo fiz isso no início de minha carreira. Mas diante da etiqueta de preço envolvida, a maioria das pessoas provavelmente no fundo acha que é um modesto favorito na multidão, mesmo que esteja jogando pela experiência. Eu sei porque eu achava isso. É muito difícil justificar dar dez mil apenas por experiência. É bastante provável que milhares de participantes do Evento Principal do ano passado tenham feito maus investimentos sem perceberem.

Outra evidência menos concreta dessa opinião vem de observar o estilo do típico jogador de torneios. Quantas vezes você já viu um jogador dar fold em um torneio, mesmo quando ele acha que tem a melhor mão, porque está preocupado com a sorte de seu oponente, e quer “esperar por uma oportunidade melhor”? Essa estratégia faria sentido apenas se o jogador fosse bem melhor que seus oponentes. Mas como muitas pessoas tentam essa mesma abordagem, isso prova que a maioria delas a está aplicando incorretamente. Afinal, nem todo mundo pode estar esperando por uma oportunidade melhor!

Se todo mundo acha que é tão bom no poker, minha próxima opinião como sequência lógica é...

Opinião No.º 3: Os programas de TV sobre poker deveriam mostrar mais poker. Os torneios de poker podem durar dezenas de horas para terminar, mas é claro que não é comercialmente viável mostrar tanta ação. Mas o assunto que todo mundo conversa nos dias e semanas depois de um grande torneio de poker televisionado são as mãos em si. É claro que o fator entretenimento pode ser realçado se houver uma personalidade interessante na mesa (“ele me pagou com um valete!”), mas o que é fundamentalmente divertido numa transmissão de poker é ver as pessoas jogando poker. Os telespectadores adoram pensar em como teriam jogado determinada mão, e a maioria deles provavelmente acha que, com a prática, pode jogar tão bem quanto as pessoas que veem na TV. Tomemos o High Stakes Poker. O programa mostra mais mãos de poker do que a maioria dos outros, e ainda consegue mostrar todas as discussões da mesa que compõem um bom roteiro.

Se você mostrar mais mãos, os telespectadores vão compreender mais o jogo e vão se interessar mais em torneios futuros. Isso, por sua vez, faz com que um telespectador se torne mais propenso a assistir mesmo que ele não conheça nenhum dos jogadores (e, em tempos como esse, nunca é seguro supor que vai haver um profissional conhecido na mesa). Finalmente, telespectadores versados são mais propensos a se tornarem fiéis e assistirem a torneios de poker ano após ano.

Uma pergunta da moda que eu ouvi foi: “É golfe ou xadrez?”. Houve uma época nesse país em que nem o golfe nem o xadrez estavam no radar dos EUA. Então algumas personalidades fizeram o jogo explodir em popularidade (embora tais explosões tenham ocorrido em épocas diferentes). O golfe estabeleceu uma base de fãs que se importam com os resultados dos torneios ano após ano. O golfe agora é permanente nos esportes norte-americanos. O xadrez, por sua vez, voltou ao ostracismo depois do desaparecimento de Bobby Fischer. Então, o poker é golfe ou xadrez? Se os programas de TV sobre poker se concentrarem mais no jogo e em toda sua beleza, acho que o poker tem chance de obter êxito, do mesmo modo que o golfe. Porém, se os programas continuarem a focalizar as personalidades que podem ou não estar presentes no próximo grande torneio, o poker pode, infelizmente, ter o mesmo destino do xadrez.

Essas são apenas opiniões minhas. Da próxima vez, prometo voltar com minha coluna usual baseada em fatos.




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