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Card Player PRO: Juntando as Peças do Quebra-Cabeça


Chris McCabe

Jogo: no-limit hold’em six-max de 10¢-25¢
Oponente: Um jogador desconhecido e agressivo
Estoques: $25 (100 big blinds)
Minhas Cartas: 9 8
Minha Posição: Button

Sou instrutor da CardPlayer Pro para shorthanded cash games de low-limits, e minhas colunas para a CardPlayer vão se concentrar em aplicar conceitos de estratégia profissional a seus jogos de low-limit online.

Quando praticantes ocasionais veem profissionais jogar, a questão que escuto com mais frequência é: “Como você sabia que ele estava blefando?!” Bem, como veremos nesta coluna, aprender a ler mãos adequadamente é como juntar as peças de um quebra-cabeça — e quando as peças não se encaixam, algo está errado.

Esta mão em particular ocorreu durante uma sessão de treinamento.

Meu oponente e eu estávamos jogando juntos havia 15 minutos, e minha impressão inicial era que a de que eu estava diante de um jogador agressivo, mas não muito “cuidadoso”. Ele certamente era capaz de blefar e apostar com grandes mãos, mas não dava muita atenção ao que suas apostas representavam.

Nessa mesa de no-limit hold’em de 10¢-25¢, a mesa rodou em fold até meu agressivo oponente no cutoff, e ele aumentou o pote para $1 — um aumento padrão de quatro vezes o big blind. Eu optei por pagar do button com 98, uma mão que joga muito bem pós-flop e pode flopar muitos draws poderosos. O resto da mesa desistiu, e nós ficamos heads-up.

O flop veio 964, me dando top pair com um queda para straight na última carta: em geral, um flop muito bom para a minha mão.

Meu oponente pediu mesa, e eu decidi apostar, para proteger minha mão de overcards e draws, e para extrair valor caso ele tivesse um par mais fraco. Sem pensar muito, ele pagou.

Nesse momento, eu tinha praticamente recebido duas “peças do quebra-cabeça” de informação que me forneceram uma indicação da força da mão dele, que eu classifiquei como um par marginal ou um draw fraco.

Peça nº 1: A decisão dele de pedir mesa no flop. Tendo em vista minha leitura de que ele é um jogador agressivo, há várias mãos que eu posso remover da gama dele quando ele dá check — notadamente draws fortes e pares altos. Como a maioria dos jogadores agressivos gosta de acelerar com suas mãos grandes, eu espero que ele aposte com algo como AK ou KQ (flush draw e overcards), e também esperaria que ele apostasse com uma mão como J-J, Q-Q, K-K ou A-A, para se proteger de um bordo com queda para flush. O fato de ele não ter apostado me leva a crer que não tenha nenhuma dessas grandes mãos.

Peça nº 2: A decisão dele de não fazer um check-raise no flop. Tendo em vista que ele não deu check-raise nesse bordo, acredito que eu também possa remover mãos como trincas, dois pares e draws combinados da gama dele. Jogadores raramente dão check-call com essas mãos e arriscam ser dominados.

Com base apenas no flop, achei que a mão dele fosse algo como um par marginal, um draw fraco ou simplesmente nada.

O turn trouxe o J, e meu oponente iniciou apostando $3,25. Obviamente, não fiquei muito feliz ao ver esse valete, pois era uma overcard para meu par de noves. Contudo, ao mesmo tempo, ela não é uma carta tão perigosa. Tendo em vista minha leitura da gama dele no flop, o valete não melhoraria a mão dele na maioria das vezes. Nenhum par marginal ou draw fraco é ajudado por um valete, e essa é uma boa carta de blefe para ele fazer de conta que se beneficiou. Tendo em vista que agora havia dois flush draws no bordo e alguns possíveis straight draws, imagino que as chances de ele semiblefar aqui são muito altas. Paguei.

O river trouxe o K e, sem hesitação, ele apostou $10,50. Meu top pair no flop agora tinha decaído para um terceiro par, e estou diante de uma aposta forte em um bordo perigoso. Contudo, preciso juntar as peças do quebra-cabeça e ver se aquele rei realmente é uma carta perigosa.

Lembre-se de minha leitura no flop: ele provavelmente tem um draw fraco ou um par marginal. O valete do turn provavelmente não ajudou sua mão, mas parecia uma boa carta para o blefe. Agora, quando o rei aparece no river e ele aposta alto, a história que ele está contando não é verossímil. Caso ele tivesse uma mão como J-T ou Q-J, creio que ele apostaria bem menos ou pedisse mesa, pois é muito difícil imaginar um cenário em que eu pagasse uma aposta grande com uma mão pior. Além disso, não deve haver muitas mãos K-X na gama dele que chegam até o river, tendo em vista a ação. Em geral, parece que ele está apostando alto para me fazer largar.

Depois de juntar tudo isso em minha mente, parei durante alguns segundos e paguei. Meu oponente mostrou A5, um flush draw que não bateu, e eu levei o pote.

Usar um pouco de raciocínio dedutivo me permite levar um ótimo pote contra um jogador agressivo que tentou contar uma história que não fazia sentido.

Pratique juntar as peças em suas próprias mãos de poker e você ficará impressionado com a frequência com que vai descobrir quando seu oponente tem uma mão boa ou não.




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