EDIÇÃO 21 » FIQUE POR DENTRO

Mesa Redonda: Dilemas Com Pares Altos


Bryan Devonshire

Nesta nova coluna da Card Player, Bryan Devonshire e um time de profissionais bem conhecidos vão dar suas opiniões sobre muitas mãos diferentes — de no-limit hold’em a badugi — que foram jogadas recentemente no mundo do poker high stakes.

Esta mão exemplifica como jogar com um par alto fora de posição em uma situação difícil. Quando essa condição se apresenta, é importante usar lógica dedutiva para atribuir uma gama de mãos a nosso oponente. Essa ocorreu no início (segundo nível com blinds em 20-40) de um torneio de $150 do Full Tilt ($65k garantidos).

Torneio de $150 do Full Tilt ($65.000 Garantidos)
Geralmente, ao dar raise pré-flop, eu aumento de 2,5 a 3 vezes o big blind, mais um big blind para cada limper, além de um big blind para compensar a posição ruim.

Pré-flop
Primeiramente, eu não sei nada sobre esse jogador. Não tenho leitura alguma, então nessa situação, quando alguém entra de limp de posição inicial, isso geralmente significa um par baixo. Contudo, quando o aumento vem dos blinds e o limper inicial tem posição pós-flop, a gama aumenta consideravelmente.

Flop
O flop é bastante favorável para nós. Não há chances de ele ter acertado uma trinca baixa, e se enfrentarmos resistência considerável, podemos sair dessa mão com bastante facilidade. Também somos grandes favoritos contra qualquer mão sem um 10, e podemos esperar conseguir valor com qualquer dama; T-T ou Q-Q é improvável, pois não houve raise pré-flop. Quero manter o pote pequeno de modo a perder menos quando estiver atrás, ter mais espaço para aplicar moves nas streets caras e minha mão parecer mais fraca, tornando mais provável que eu consiga valor com um blefe ou uma mão pior. Eu aposto menos da metade do pote, e ele paga.

Depois de cada nova informação, devemos diminuir a gama de nosso oponente. Antes do flop, achávamos que ele tinha de 2-2 a J-J (com os pares maiores se tornando mais e mais improváveis por causa do limp-call pré-flop), além de quaisquer mãos normais com as quais geralmente se dá limp em vez de raise. Na prática, elas incluem todos os suited connectors de J-T a A-T, K-J, Q-J e K-Q. Claro que você vai se surpreender às vezes, mas essas são gamas suficientemente razoáveis, pois são o que os jogadores normalmente têm nessas situações.

Turn
Depois do call no flop, podemos limitar a gama dele facilmente para A-Q, K-Q, Q-J, Q-T, A-T, K-T, J-T, J-9, K-J ou algum float estranho com qualquer coisa em seu range que não acertou o flop. Então, ao chegar no turn, queremos obter mais valor das mãos Q-X e perder o mínimo das mãos T-X. Eu acho que tomaremos raise de qualquer mão que nos vença no turn, e podemos dar fold com tranquilidade. Apostamos menos que metade do pote de novo, e o vilão paga novamente.

Agora fiquei feliz com minha mão. Com o bordo ficando perigoso, eu acredito que o vilão teria aumentado com qualquer mão que nos derrotasse no flop ou no turn. Com base na ação, é possível presumir com segurança que temos a melhor mão, e podemos limitar a gama dele para A-Q, K-Q, Q-J ou K-J.

River
O river é uma carta ruim para nós, lógico. Teria sido muito mais fácil conseguir valor de uma mão do tipo Q-X com uma carta inútil no river. Contudo, quando pensamos sobre o que o vilão poderia ter que nos derrotasse agora, com a maneira como a mão foi jogada, nenhuma daquelas mãos faz sentido. Nós ainda derrotamos A-Q, K-Q e Q-J. Perdemos para Q-9 agora, mas alguém com essas cartas chegaria a esse river? Talvez, mas é pouco provável. Se ele tivesse feito slowplay com uma mão grande até aqui, tudo bem, pois ele poderia ter perdido muito mais ao longo do caminho para uma mão melhor.

Não há razão para apostar nesse river, muito embora achemos que estamos à frente da gama dele – talvez em um cash game, mas não em um torneio com estoques menores. Essa é uma situação muito melhor para pedir mesa, mantendo o pote controlado, induzindo blefes e nos dando mais uma chance de adquirir informações sobre nosso vilão.

Nosso oponente aposta 1.600 em um pote de 1.700 no river, uma quantidade realmente grande (mais de metade de seu estoque remanescente), o que parece ser um superblefe. Com base em como chegamos ao turn, nada faz sentido para ele ter apostado, e esse tamanho de aposta parece fraco. Geralmente, em torneios, grandes apostas significam grandes mãos, mas, nessa situação, parece que o sujeito acelerado está querendo compensar alguma coisa. Algo é obviamente suspeito nessa aposta, e agora temos que decidir se ele está tentando conseguir valor com uma mão grande ou está transformando seu par alto em um blefe. Como o bordo era muito perigoso, eu deduzi que era suficientemente provável que ele estivesse transformando uma mão pronta em um blefe. Paguei e derrotei o K-Q off dele.

Análises dos Profissionais

Eu geralmente gosto de aumentar um pouco mais pré-flop, em geral cerca de 240 nessa situação. Também tendo a não digitar o valor de minha aposta, como 201, temendo poder induzir meus oponentes aleatórios a desistir. Eu também sou propenso a apostar mais nesse flop, pois ele tem um par pequeno e pode pagar. Um draw vai pagar com certeza. Uma dama ou um dez vai pagar com certeza. Ou não tem nada e vai largar com certeza, a não ser que decida enlouquecer. De qualquer forma, ele provavelmente vai querer chegar até o showdown nesse caso. Em basicamente todas as mãos que jogo, tento tomar minhas decisões o mais cedo possível. No turn, eu faria um check-raise basicamente 100% das vezes, para tentar induzir um blefe quando eu estivesse na frente e economizar dinheiro quando estivesse perdendo. Embora eu às vezes deixe um draw ir adiante dando uma carta grátis, acho que deixá-lo apostar pelo valor com uma mão pior ou blefar vale muito à pena nesse cenário. Isso também nos coloca numa situação difícil se apostarmos no turn e ele aumentar, pois vamos ter que colocar todo nosso estoque no river quando possivelmente estivermos perdendo. Se ele pedisse mesa depois de mim no turn, eu apostaria pelo valor basicamente todos os rivers. Se fizermos check-call no turn, eu provavelmente faria check-call em qualquer river, pois temos A-A, e isso derrota muitas mãos. É simples assim. Como foi jogado, acho que você deve dar check-call no river.
Jonathan Little


Acredito que a melhor maneira de controlar o tamanho do pote, se é isso que você quer fazer no river, é apostar.
Eu acho que a mão dele é K-Q, T-8 suited, T-9 suited, J-T suited, Q-J suited, K-T suited, A-T suited, A-Q, K-K (ambas pouco prováveis), J-J ou 9-9 (bem menos provável). Acho que ele pode ter simplesmente pagado com todas essas mãos o tempo todo, em parte para fazer uma armadilha e em parte para controlar o pote. Não acho que você vá errar se apostar cerca de metade do pote nesse river, pois quase nenhuma das mãos que você derrota vai desistir, e apenas as que lhe destruiriam iriam dar raise. É possível conseguir que muitas mãos que lhe derrotem apenas paguem, o que é um bom resultado, pois você determinou que vai perder nessas variações.
Eric “Sheets” Haber


Sabendo quão perigoso o bordo ficou, há muito mais mãos na gama dele que derrotamos e que ele transforma em blefe, do que há mãos que derrotem A-A. O par virado no bordo é obviamente importante, pois se ele tivesse Q-J ou uma sequência, provavelmente apostaria menos para conseguir valor com mãos do tipo A-Q ou K-Q. É bem óbvio que ele está tentando fazer com que A-A ou K-K desistam. É possível que ele tenha descoberto que, como ele pagou duas apostas pós-flop, se você estiver blefando, ainda faria isso diante desse river. Portanto, é pouco provável que ele tenha outra coisa senão Q-T ou um completo blefe (como K-Q é 100% blefe nesse bordo), que é um call bastante padrão baseado apenas no tamanho da aposta no river. Se ele realmente tivesse Q-T, J-T ou algo melhor que A-A, é provável que ele tentasse extrair o máximo valor aqui. Eu definitivamente acho que podemos concluir com segurança que, a não ser que o vilão seja superlouco, ele está blefando em uma grande percentagem das vezes com uma aposta desse tamanho e fazendo uma aposta pelo valor muito pequena aqui (se houver valor). A maioria dos jogadores com Q-T que chegassem a esse river iriam largar diante de uma aposta de pelo menos metade do pote.
Jon “Sketchy1” Eaton

É interessante o quão diversas são as três opiniões que recebemos. E isso é o que vai fazer desta coluna a maior diversão. Eu lhes dou um pouco de análise de mãos, mas o que realmente estou tentando fazer é lhes desafiar a refletir teorias, não situações, para que vocês se tornem pensadores mais críticos. O poker é dinâmico, não estático, e os melhores jogadores estão constantemente alterando seus jogos de acordo com as situações específicas em que se encontram.
Paz, e boa sorte.




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