EDIÇÃO 19 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

O Famoso Coin Flip

Um pouco ilusório


John Vorhaus

Vamos analisar o famoso coin flip no confronto entre um par e duas cartas mais altas em no-limit hold’em. A maioria dos jogadores e mesmo comentaristas de TV chamam, digamos, 8-8 versus A-K de coin flip. Embora eu não seja muito exigente quanto a números precisos — na maioria das situações, acredito que uma estimativa seja mais útil do que as odds exatas — eu acho uma ilusão dizer que essa é uma proposição verdadeiramente meio a meio, e que aqueles que querem apostar iriam ficar felizes em escolher um dos dois lados da ação. De fato, o par é normalmente pelo menos 52% favorito em relação a 48% de quaisquer duas overcards. Às vezes, como é o caso de Q-Q versus A-K de naipes diferentes, a vantagem é ainda maior: 57%-43%. Embora isso seja vizinho do coin flip (dependendo do que você considere como “vizinhança”), essa não é uma proximidade que você vai achar lucrativa se estiver constantemente do lado errado das odds.

Isso significa que você sempre deve fazer um grande move quando tiver par na mão, sabendo que possui uma vantagem considerável diante de cartas mais altas? Obviamente não, já que overcards não constituem no único tipo de mãos que você vai enfrentar. Também pode haver overpairs, e se você se deparar com um par maior, será um perdedor em 4-para-1 e precisará subir uma montanha para puxar o pote.

Mas é interessante ter em seu arsenal a habilidade de realizar grandes apostas com pares, então faça duas coisas para minimizar sua exposição a maus resultados contra overpairs. Primeiro, é claro, evite fazer apostas fortes com pares menores. Mesmo um par de oitos pode se deparar com seis pares maiores: um par de dois enfrenta 12. Quanto menos possibilidades você deixar no baralho, maiores são suas chances de alguém pagar com as overcards que você procura (ou melhor, com um par mais baixo) e não com os pares mais altos que você teme. Segundo, faça suas grandes jogadas com pares de posição final, porque há menos mãos restantes a falar e, portanto, menos chances de se deparar com um par melhor. Falar no final também aumenta a probabilidade de você ganhar sem uma batalha, e isso dá às suas grandes jogadas com pares muita equidade extra.

Quando eu jogo com pares mais baixos, encaro-os como com um draw, na esperança de flopar uma trinca e pegar todas as fichas de alguém. Só porque 4-4 é teoricamente favorito diante de um hipotético A-K ou A-Q, isso não dá a mim (ou a você) uma desculpa para enlouquecer. Mesmo assim, vemos todos os tipos de jogadores, em especial os novatos, jogando com muito exagero essas mãos — indo all-in do UTG com pares pequenos e esperando que o poder mágico do coin flip os ajude a vencer. Isso é perigoso em cash games, em que você pode pelo menos recarregar se der errado. Em torneios, então, é suicídio, a não ser que você esteja confiante de que todo mundo vai largar — mas quando se está tentando roubar o pote, caso em que não importa se suas cartas são altas ou baixas, com par ou não, vermelhas, negras, azuis, prateadas ou verdes.

Pares, portanto, se dão melhor com grandes apostas quando não estão não são pequenos e nem estão entre os primeiros a falar. Caso contrário, jogue com eles até acertar uma trinca ou nem sequer jogue (nota: alguns jogadores acham ridículo o conselho de largar um par. Esses são conhecidos, coloquialmente, como perdedores).



Agora vamos analisar o outro lado da moeda para ver como é o desempenho das duas cartas mais altas.
Uma vantagem das overcards é que elas raramente são derrotadas como pares podem ser. A única vez que uma mão como A-K corre risco, por exemplo, é quando enfrenta A-A ou K-K, hipótese em que A-K perde de sete a nove vezes a cada 10, dependendo da distribuição dos naipes. Mas é improvável que seu oponente tenha uma dessas mãos, em especial quando você mesmo segura um ás ou um rei e um ás. Portanto, quando se aposta alto com A-K, a pior coisa mais provável que pode acontecer é ser levemente não-favorito contra pares menores. Contra A-X ou duas cartas mais baixas sem par, é claro, você é um grande favorito.

Esse fato lhe dá um pouco de espaço para ser criativo quando segura A-K. Digamos que esteja jogando em uma mesa de no-limit hold’em com blinds de $2-$5, e três jogadores tenham entrado de limp antes de a ação chegar até você. Seu estoque é de $100. Se for all-in e uma pessoa pagar, você estará apostando $100 para ganhar cerca de $120. O dinheiro morto lhe dá odds suficientes para quando alguém pagar com um par de damas ou menor, além da equidade extra de quando ninguém se importa em contestar.

Obviamente, você precisa conhecer seus inimigos. Nos jogos insanos de no-limit com buy-in baixo de hoje em dia, as pessoas fazem todo tipo de jogadas — eu não quero chamá-las de estúpidas, então vou denominá-las “imaginativas”. Se dois oponentes pagarem nessa situação, você fica um pouco pior que 3-2 favorito para ganhar. Com o pote lhe dando 2-para-1 de retorno em seu investimento, você ainda está do lado das odds — mas mesmo assim vai perder duas vezes a cada cinco! Não é divertido perder, especialmente se a agonia da derrota for capaz de lhe deixar tiltado e fazer com que você tenha uma hemorragia na carteira.

Portanto, conheça seus inimigos. É preciso saber que seu grande aumento vai ter um ou nenhum pagador (lembrando que, se todos derem fold, você não precisará da sorte). Fatalmente, também é necessário conhecer-se: você pode fazer jogadas de grande risco e grande benefício, sofrer resultados adversos e mesmo assim ficar concentrado em seu jogo? Se puder, vá em frente e jogue A-K com vigor, confiante que a mão raramente se dá mal no início. Se não puder, fiquei mais tight quanto a suas mãos iniciais e procure oportunidades de jogar com mãos puramente premim ou de fazer armadilhas quando o custo for baixo e o ganho potencial for alto. Acima de tudo, não aceite cegamente todo coin flip que vier em sua direção. Procure maneiras melhores de investir seu dinheiro.




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