EDIÇÃO 19 » COLUNA NACIONAL

Não coloque o seu oponente em uma mão!


Christian Kruel

O título deste artigo pode parecer uma contradição, já que frequentemente ouvimos perguntas do tipo “em que mão você colocou o seu oponente quando deu call naquele all-in na mesa final?”. Porém, é exatamente isto que vamos tentar passar para vocês: jamais ponha seu oponente numa única mão. Por quê? Vamos lá...

Em um de meus últimos artigos (que também podem ser acessados através da Universidade do Poker), falei sobre a velocidade com que as coisas mudam no poker online, e da necessidade de estarmos sempre atentos às novidades da internet. Se você seguiu o meu conselho, certamente já deve ter ouvido alguém falar sobre hand ranges, ou gama de mãos. Vamos tentar entender um pouco melhor esse conceito.

Suponha que esteja no Under The Gun (UTG) e receba um par de ases. O que você faz? Normalmente, a resposta será um raise de três vezes o big blind. E, se em vez de AA, você tivesse um par de reis, damas, valetes, ou até mesmo ás e rei? Provavelmente a resposta seria a mesma. E se fosse par de dez, ou ás e dama do mesmo naipe? Mesma coisa... O que podemos concluir disso tudo? Vê-se que um raise de três vezes o big blind vindo desse jogador, no UTG, pode significar AA, KK, QQ, JJ, TT ou AK, ou ainda AQs, TT+, AQs+ e AKo, fazendo uso da linguagem do poker online.

Saber que o raise de seu oponente pode significar uma gama limitada de mãos vai lhe dar uma precisão maior ao traçar uma estratégia para jogar a suas mão da melhor maneira possível – maximizando os seus lucros e minimizando os seus prejuízos. Vejamos um exemplo.

Estamos no início de um torneio, e todos na mesa estão com stacks parecidos (mais de 50 big blinds). Você é o segundo a falar e recebe um par de valetes. O UTG, que vinha jogando relativamente loose, abre raise de três vezes o big blind. Qual é a ação supostamente mais indicada? Em geral, respondemos no mesmo instante que a melhor jogada é o raise, já que o oponente loose pode abrir raise com uma mão não muito boa, e um call seu, fora de posição, pode gerar outros calls na sequência, deixando seu par de valetes vulnerável depois do flop. Porém, se analisarmos friamente a situação, veremos que não é bem assim.

Se você vai trabalhar com ranges, a primeira coisa que recomendo é fazer o download do programa Poker Stove (www.pokerstove.com). Com esse software instalado em sua máquina, é possível fazer os cálculos que mostrarei adiante, que incluem índices como “range contra range” e “range contra mão”.

Voltando ao nosso exemplo, podemos admitir que nosso oponente loose abra raise no UTG com as seguintes mãos: 66+, ATs+, KTs+, QTs+, JTs, ATo+, KTo+, QTo+, JTo. Contra esse range, seu par de valetes possui 63% de equidade, o que dá a você excelente vantagem. Isso significa que se deve aumentar a aposta? Nem sempre. Vejamos por que.

1- Estamos ainda no primeiro nível de blind, muito folgados em fichas. Nesse momento, o controle do pote é um fator fundamental para o sucesso em um torneio.
2- Na sua posição, par de valetes é uma mão vulnerável pós-flop.
3- Oito jogadores ainda falarão depois de você.
4- Obviamente, você quer jogar a mão.

Aí eu lhe pergunto: o que você pretende quando aumenta uma aposta? Geralmente, nosso objetivo fundamental deveria ser procurar o call de uma mão pior e o fold de uma melhor. Tendo isso em mente, faço outro questionamento: você acha que alguma mão dentro do range do nosso oponente, que seja pior que o nosso par de valetes, pagaria esse raise? Talvez o ás e rei, talvez o par de dez, mas é uma possibilidade remota por ser início de torneio.

Essa situação remete a outro conceito que chamamos de aposta pelo valor. Ao fazer um re-aumento com o par de valetes, você provoca uma situação em que a próxima pessoa a entrar na mão – seja ela um terceiro oponente ou o jogador no UTG – tenha um range de aposta muito mais fechado, e cuja pior mão talvez seja justamente o seu par de valetes. Em outras palavras, com essa aposta você está forçando o fold de mãos piores que a sua e o call de melhores. Grosso modo, poderíamos dizer então que um raise com o par de valetes nessa situação apenas transformaria a quarta melhor mão pré-flop do Texas Hold’em num blefe puro. Dê apenas call, deixe seu oponente apostar a parte fraca do range dele pós-flop e, caso várias pessoas resolvam ver o flop, não se envolva em confusão.

O ideal é você começar com o range inicial pré-flop e ir encurtando a gama de mãos à medida que as outras streets vão sendo jogadas. Com isso, você consegue chegar até o river com o menor número possível de mãos prováveis, o que lhe permite tomar decisões melhores e jogar um poker de nível mais elevado. Nos próximos artigos, falaremos mais sobre esse assunto.




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