EDIÇÃO 18 » COLUNA INTERNACIONAL

Obama versus McCain

Em um heads-up de poker


Todd Brunson

Se Barack Obama e John McCain tivessem brigado em um heads-up de poker em vez de uma eleição presidencial, Obama teria ganhado mesmo assim? Eu acho que teria sido mais divertido – e possivelmente mais eficiente também – deixá-los decidir quem seria o próximo líder dos EUA dessa maneira. Vamos medir as forças e fraquezas deles e tentar decidir quem teria ganhado.

Comecemos com o básico, e não há nada mais básico que imagem na mesa. Obama se parece muito com Phil Ivey. Em uma mesa de poker, isso é uma coisa boa. McCain? Bem, ele se parece muito com Berry Johnston (eu sei que vocês jovens devem estar se perguntando: Berry o quê?) Isso pode ter sido uma coisa boa na época de Berry, mas se deu nos idos de 1880. Vantagem para Obama.

Paciência. Obama fez seu discurso de agradecimento antes de um terço dos estados terem contado seus votos. McCain passou cinco anos e meio em um campo vietnamita de prisioneiros de guerra. Você pode imaginar como era ser censurado duramente por um interrogador vietnamita, principalmente se ele era como um primo de Scotty Nguyen. “Diga o que você sabe, cara, ou será seu fim”. Ou “Onde está a informação, cara? Quanto tempo iremos esperar? Basta!”

Muito pior pode ter sido se o interrogador falava como Minh Ly ou Chau Giang. Mesmo que você quisesse responder às perguntas dele, não poderia, porque não entenderia uma palavra que estava sendo dito. Eles teriam que mandar Daniel Negreanu traduzir para você. Depois de cinco anos e meio disso, McCain deve ter a paciência de um monge, e Deus o abençoe. Essa é uma grande vantagem na mesa de poker. Vantagem para McCain.

Tells. Você viu as reações de McCain nas eleições enquanto Obama falava durante os debates? Meu Deus, eu já vi Phil Hellmuth agir com mais sutileza depois de sofrer uma bad beat. Obama, por outro lado, foi capaz de manter uma expressão séria e permanecer firme quando o pegavam mentindo. Ele afirmou que sempre ia à igreja, mas jamais tinha ouvido nenhuma das coisas anti-americanas que seu pastor (Jeremiah Wright) dizia. Esses sermões eram dados inclusive no lobby da igreja. Hmm, OK, Barack. Ele mentiu sobre ir regularmente à igreja e ouviu esses comentários ou estava dormindo durante a maior parte de cada sermão (e jamais discutiu nenhum dos sermões com amigos ou familiares?). De qualquer modo, vantagem para Obama.

Agressividade (não há nada mais importante no poker). Obama dizia repetidamente o quanto respeitava McCain (coisa de ‘maricas’). McCain? Ele se referia a Obama como “aquele ali” no meio de um debate. E também parecia pronto para levar Obama lá pra fora e resolver no braço, ou até mesmo dar-lhe um tapa ali mesmo no cenário. Vantagem para McCain.

Seleção de mãos (não se pode ganhar no poker sem isso). Obama escolheu Biden (diploma de bacharel em história e ciência política pela University of Delaware, 1965; diploma de bacharel em direito pela Syracuse University, 1968). McCain escolheu Palin (trocou de universidade várias vezes antes de receber seu diploma de bacharel em comunicação pela University of Idaho em 1987). Isso é suficiente, vantagem para Obama.

Torcida (nenhuma superestrela do poker está completa sem seus próprios seguidores). Os dois caras mais próximos de McCain? George W. Bush e Dick Cheney. Vejamos, esses caras capturaram a única influência estável do Oriente Médio (Saddam Hussein), deixaram o público americano ser violentado pelos grandes negócios e minha maior crítica é uma que ninguém parece mencionar: George W. Bush tinha um dos maiores conselheiros possivelmente disponíveis só para ele — o mais jovem piloto americano a servir em combate, um dos cabeças da CIA há muito tempo, além de ter sido vice-presidente e presidente — seu pai.

Ele fez o impossível para não ser fotografado com seu pai depois que assumiu a presidência. Quem poderia entender melhor a confusão de ser presidente e dar ótimos conselhos do que um cara que já havia estado lá? Esse cara é tão inseguro que não pode suportar viver na sombra do pai? Eu jamais me permitiria ficar numa situação dessas... mas espere, esqueça. Vamos falar do próximo cara.

Obama: os dois maiores seguidores em sua posse são Oprah e Jesse Jackson. Vamos começar com Oprah. Embora eu a respeite muito por ser uma magnata da mídia/milionária-que-venceu-por-méritos-próprios, em minha opinião, a única razão de ela ter metido o nariz na arena política foi porque ela tem o mesmo tom de pele de Obama. Se você acha que isso não é verdade, pergunte-se porque ela não endossou nenhuma outra campanha política nos últimos mais de 20 anos em que ela tem estado presente. Será que Obama é o primeiro em todo esse período que tem as mesmas convicções políticas que ela? Por que ele é “o escolhido”?

Agora vamos falar de Jesse Jackson. Para aqueles que não sabem quem é Jesse Jackson, ele é um “reverendo” que teve um filho fora do casamento com sua amante enquanto era casado desde 1962. Jackson é também um “líder dos direitos civis” que foi pego múltiplas vezes fazendo referências étnicas (sim, eu sei que é irônico eu estar criticando alguém por fazer comentários raciais. Mas meus comentários são brincadeiras, não injúrias, e eu não ganho a vida viajando o globo pregando a tolerância racial).

Os dois caras que disputavam o emprego mais importante da nação norte-americana poderiam ter melhores companhias. Eu diria que aqui eu tirava cara ou coroa, o que os deixa empatados.




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