EDIÇÃO 18 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

A Punição para a Previsibilidade

Varie seu jogo


Barry Tanenbaum

Enquanto escrevo isso, estou navegando. Mais especificamente, no Oceano Pacífico, voltando do Havaí de duas semanas de férias em um cruzeiro de duas semanas da Card Player Cruises. Cruzeiros de poker têm muitas características maravilhosas. O aspecto que eu quero enfatizar aqui é como você joga contra os mesmos adversários dia após dia. Há uma gama de modalidades oferecidas, mas para qualquer jogo ou limite, o mesmo pequeno grupo de jogadores participa todo dia.

Esse fato coloca ainda maior ênfase na variação de seu jogo, de modo que você não se torne fácil de ser lido. Nem todos os oponentes são habilidosos nesse aspecto e ocasionalmente o estilo sólido deles, embora seja admirável enquanto princípio norteador, se torna prejudicial. Eis uma mão que eu joguei que demonstra essa conclusão e tem outras lições interessantes também:

Eu estava under the gun em uma mesa de limit hold’em de $10-$20 com sete participantes, segurando KQ. Essa não é uma de minhas mãos favoritas e, se a mesa estivesse completa, eu teria largado imediatamente. Nós estávamos um pouco shorthanded, contudo, e eu achei que tinha um bom controle da mesa. Imaginei que um aumento eliminaria a concorrência consideravelmente, talvez até os blinds. Aumentei.

Dos seis jogadores remanescentes, cinco pagaram! Onde estava meu controle da mesa? Eu agora estava fora de posição contra metade dos oponentes, com uma mão fraca e um multipote. O plano A tinha falhado miseravelmente.

Nós vimos o flop de 433. Eu não poderia ter me beneficiado menos. Não apenas eu não tinha nada, como não havia sequer uma queda na última carta. Porém, o agressivo pré-flop era eu, e quem sabe isso valesse alguma coisa. Talvez todos tivessem errado o flop também. Ambos os blinds pediram mesa. Eu devo dar check ou apostar?

Decidi que o plano B era simplesmente largar. Eu não tinha mão, não tinha draws e estava diante de muitos oponentes que poderiam ter qualquer coisa. Assim, pedi mesa, planejando desistir.

Glen, o jogador à minha esquerda, apostou. Incrivelmente, o resto deu fold como um efeito dominó. Voltou para mim.

Era hora de reavaliar. Eu ainda não tinha nenhuma mão, é claro, mas o pote me dava odds de 13-1, e eu era o último a falar naquela rodada de apostas. A grande questão era: se eu conseguisse um rei ou uma dama, isso seria bom? Eu precisava determinar as mãos prováveis de Glen.

Felizmente, para mim, ele era um jogador previsível e passivo. Se tivesse A-A, K-K ou Q-Q, teria reaumentado pré-flop. Curiosamente, essas eram as únicas mãos com as quais ele agiria de forma agressiva. Isso significava que ele teria pagado pré-flop com A-K e A-Q, mas eu não achava que ele teria apostado no flop com nenhuma dessas mãos; nem tampouco teria apostado no flop com um flush draw. Ele precisava ter algum tipo de mão boa.

Ele podia ter uma mão como A-3? Não, pois embora apostasse com essa mão no flop, ele não teria pagado meu aumento pré-flop com ela. Quanto mais eu refletia, mais concluía que ele precisava ter um par menor que QQ. Se isso estivesse certo, eu certamente recebi o preço justo para tentar um draw. Mudando para o plano C, eu paguei.

O turn foi um decididamente inútil 2. Eu pedi mesa e Glen apostou. E agora?

Pensei sobre as mãos que eu poderia fingir com um raise, mas Glen não se intimidava facilmente quando tinha uma mão e certamente teria me pagado. Eu poderia representar um ás e apostar no river se um 5 surgisse? Bem, poderia, mas ele pagaria. Concluí que tinha que acertar uma mão de verdade para ganhar esse pote, embora eu fosse tentar um blefe desesperado caso um ás surgisse, na esperança que ele tivesse lido que eu tinha A-K e desse fold.

Olhando novamente para o preço, havia seis big bets pré-flop, mais uma no flop (a aposta dele e meu call) e mais uma que ele tinha acabado de colocar. Eu tinha odds de 8-1. Supondo que minha leitura ainda estivesse correta, eu tinha seis outs nas 46 cartas remanescentes, o que me dava odds de 40-6 ou 6,6-1. Tendo essa vantagem toda mesmo se eu não ganhasse nada, eu paguei.

Por sorte, o river trouxe o K. Eu tinha mais uma decisão para tomar: apostar ou tentar um check-raise. Meu jogo até então tinha gritado A-K. Somando o fato de que Glen não era muito agressivo e teria achado perigosa a carta do river, apostar era óbvio. Apostei, ele pagou e eu ganhei, com ele mostrando um par de noves.

Conclusão: Não há nada de errado com a maneira como Glen jogou essa mão, embora eu tivesse preferido reaumentar (ou desistir) em vez de pagar pré-flop. O problema é que ele jogou sua mão da mesmíssima maneira toda vez, pagando, apostando ou aumentando de forma previsível.

Em meu livro, Advanced Limit Hold’em Strategy, dou muita ênfase a se evitar a previsibilidade e dedico vários capítulos ao assunto. Por causa da previsibilidade de Glen, eu fui capaz de tomar as decisões corretas em minha mão. Ganhando ou perdendo a mão, ele estava em desvantagem por causa de seu jogo de rotina. Caso ele tivesse reaumentado pré-flop, ou se a gama de call pré-flop e pós-flop dele fosse mais diversificada, eu não teria podido jogar como joguei. Eu teria sido forçado a desistir.

Tive sorte de outra maneira. Se qualquer outro jogador tivesse apostado no flop, eu não teria sido o último a apostar naquela rodada de apostas e teria tido que soltar minha mão.

Se você tentar um cruzeiro de poker, e você deve, lembre-se de variar seu jogo de modo a deixar seus oponentes na dúvida. E tente não comer tanto!




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