EDIÇÃO 17 » MISCELÂNEA

Bits e Bets: Sit-and-go fase inicial


Vicenzo Camilotti

Continuando a seqüência iniciada na edição passada, em que apresento exemplos práticos de como utilizar as estatísticas dos adversários coletadas pelos softwares de poker, veremos agora situações de sit-and-go com blinds baixos.

No começo de um SnG os números dos oponentes falam por si. Considerando que você deve jogar de forma bastante cautelosa, são necessários dados precisos para se fazer movimentos agressivos. Mas isso não significa que você fugirá de um confronto toda vez que se deparar com um raise ou reraise do oponente.

O princípio que se deve ter em mente ao jogar um sit-and-go turbo é que, ao se sentar à mesa, o risco de eliminação é vivo e atuante para todos, o tempo inteiro, inclusive para quem estiver  liderando. Isso ocorre porque a relação stack-blinds é muito mais apertada, quando comparada a qualquer torneio multi-table que não seja turbo.

Mesmo com isso em mente, pode-se dizer que correr riscos no início, sem ter números concretos indicando que a chance de acumular fichas rapidamente é muito maior que o infortúnio de ser eliminado, é pedir para ser perdedor no longo prazo.

Vamos a um exemplo prático:

Essa é uma típica mão na qual é fundamental termos as estatísticas do oponente para podermos agir de forma agressiva. Vamos supor que você jogue quase todo dia contra o adversário que deu raise e tenha 4.000 mãos dele cadastradas no banco de dados. Diante disso, sugiro o mesmo procedimento explicado no artigo passado: classificar o oponente em um dos 4 grupos de jogadores  e reagir de acordo os números obtidos.

Vale lembrar que me refiro sempre aos índices VPIP e PF (respectivamente “voluntarily put money in the pot” e “preflop raise”), pois são os mais importantes e devem andar juntos o tempo todo.

VPIP 5% e PF 3% – FOLD
3% de raise pré-flop significa duas cartas sempre superiores ao seu AQo (AKo+, JJ+). Se correr riscos no início do SnG contra um range um pouco inferior já não é bom negócio, que dirá encarar uma gama de mãos superior...

VPIP 35% e PF 25% - RERAISE
É grande a chance de você estar na frente, sem contar que tem vantagem de posição, independente da ação do SB e do BB. Um reraise de 180 fichas é o que eu indicaria, pois estaria arriscando pouco para saber melhor onde está situado, e teria fold equity, podendo facilmente largar diante de uma 4-bet (“re-reraise”) do adversário.

O mais importante nessa situação é ter consciência de que mesmo os oponentes loose-agressive podem ter cartas premiadas na mão. Portanto, em se tratando de longo prazo (e curto também), é melhor respeitar uma 4-bet executada logo no início do torneio.

VPIP 20% e PF 15% – RERAISE OU CALL
Ambos os movimentos têm bons argumentos a favor e contra. Favoravelmente ao reraise, temos o fato de que você pode se situar melhor na mão, sabendo com mais precisão a real força do raise inicial. Contra esse move, a presença de jogadores muitos tight-agressive, que podem ter AA, KK ou QQ, e só vão dar call para tentar eliminá-lo pós-flop. Além disso, nada impede que o call do oponente venha acompanhado de um flop forte (dois pares ou trinca), e tenha servido para você também, que pode ter acertado apenas o top pair.

O call tem a grande vantagem de obedecer ao princípio geral de arriscar o mínimo possível no início do torneio, bem como dificultar, de certa forma, a leitura do adversário (já que, para ele, poderia significar um par baixo, 76s ou KQo, por exemplo). A nítida desvantagem é que você não obriga o oponente a se definir, nem demonstra força antes do flop.

Para aqueles que já estão familiarizados com um padrão mais sofisticado de análise, indo além do VPIP e PF, recomendo dar uma olhada em índices como “fold to continuation bet”, “steal” e ”aggression factor total”, que servem para fazer uma sintonia fina do movimento.

VPIP 40% e PF 3% – FOLD
Assim como no exemplo 1, fold rápido! O que interessa aqui é percentual de raise preflop (3%), que está acima do seu range.

“Mas, Vicenzo, você deu um exemplo extremo de número de mãos cadastradas do oponente. 100 mãos não seria o suficiente?” Para o caso específico de VPIP e PF, sim. São características que a cada amostragem entram nas estatísticas, mas que seriam muito diferentes se você analisasse, por exemplo, o índice 3-bet (reraise). Seriam necessárias muito mais mãos para se ter um número preciso acerca de como o jogador se comporta diante dos raises dos oponentes.

Outro detalhe: preste atenção também na característica de VPIP e PF de acordo com a posição em que é efetuado o movimento. É bastante comum alguém com VPIP 15% e PF 10% mudar para 5 % e 3% no UTG+1, por exemplo. Esse é o principal motivo pelo qual o número total de mãos cadastradas do adversário deve ser o maior possível (leiam-se umas 500 para um parâmetro mais confiável).

Na próxima edição: estratégias para fase intermediária de sit-and-go com base nas estatísticas dos oponentes.




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