EDIÇÃO 14 » MISCELÂNEA

Bits e Bets: Poker Office


Vicenzo Camilotti

Chegou a hora de falar dos softwares mais utilizados. Quando você joga na internet, tem a possibilidade de rever qualquer mão disputada, de saber como estão suas estatísticas ou qual o seu grau de agressividade pré-flop, por exemplo. Também é possível ter acesso a informações ainda mais específicas, como o modo que você jogando seu par de dez no dealer, seu AQs under the gun, sua porcentagem de sucesso no showdown, sua defesa/ataque de pingo, seus reraises e check-raises, bet no flop, turn, river, e mais uma infinidade de dados.

Uma característica interessante da mente humana é que nossa memória é seletiva. Do contrário, seríamos incapazes de manter um equilíbrio emocional, espiritual e físico – trocando em miúdos, a carga seria tão pesada que possivelmente ficaríamos loucos.

Somente com os softwares de poker podemos ter uma visão abrangente de como estamos realmente jogando. Tudo o que acontece nas disputas online é salvo em históricos eletrônicos, as chamadas hand histories.

Temos o hábito de choramingar mais as bad beats do que a nossa carta milagrosa do river, mas o computador não sabe o que é choradeira de perdedor. Ele não camufla seus resultados: ele mostra que você está com índice de raise pré-flop de 12% e pronto. Ele fala que você jogou 35.000 mãos no mês passado, e neste mês, 18. 000. Enfim, ele fala, e você interpreta livremente.

E não fala apenas sobre você. Ele é capaz de dizer quais as tendências dos adversários na mesa, quantas vezes se coloca fichas voluntariamente no pote , qual a porcentagem de raise pré-flop do adversário (respectivamente “VPIP” e “PF” – vide meu artigo na edição n. 7 da CardPlayer Brasil). O oponente é um limper? tight-aggressive?  loose-passive? Rocha? Dá muito reraise? Sempre dá continuation bet? Qual o índice de fold dele no river?

Vivemos um tempo em que informação é tudo, e no poker não é diferente. E, caso você utilize esses imprescindíveis softwares, terá à sua disposição informações sobre seu jogo e sobre seus adversários. Confesso que me causa consternação saber que maioria do jogadores ainda não os utiliza, profissionais inclusos – e não é porque não querem. Várias razões podem ser citadas, dentre elas, o mero desconhecimento do assunto (por incrível que pareça, a existência desses programas está mais restrita ao boca a boca entre jogadores), o receio de utilizar uma ferramenta mais sofisticada (pois qualquer coisa mais complexa do que clicar uma página nova na internet ou ligar a televisão já é complicado demais), o fato de não quererem gastar uma “fortuna” de 80 dólares para adquirir o software (felizmente, parece que a pirataria ainda não chegou a esses programas), e, claro, uma boa dose de arrogância (“não preciso desses softwares para ser vencedor...”).

Mas acredito que o motivo principal pelo qual a maioria dos jogadores – medalhões inclusos – não usa os softwares seja porque dá trabalho aprender algo novo. E não é novidade o que vou dizer agora, mas: é melhor que os famosos fiquem atentos, pois o nível técnico do poker está passando por um acelerado processo de evolução, algo de que Darwin se orgulharia em ver. E vale lembrar que muitos dos famosos que vemos na TV, disputando a Série Mundial em transmissões que mais parecem filmes, são muito menos vencedores do que imaginamos – me arrisco até a dizer que alguns deles estão mesmo quebrados.

Os jogadores que estão chegando já conseguem coletar muito mais informações e conhecimento do que há míseros quatro anos atrás, imagine quando o público total se estabelecer... Quem não se conscientiza da óbvia seleção natural, estaciona. O lado bom disso é que, por mais que surjam novos jogadores, a maioria dos que já fazem parte do mundo do poker estão constantemente melhorando – seja amador, semi-profissional  ou profissional. E pode acreditar: quem se utiliza minimamente dos softwares está em vantagem.


Feita essa recapitulação da importância do aprendizado de coisas novas para a vida e para o poker, vamos falar especificamente do Poker Office. Ao contrário das colunas anteriores, prefiro escrever este artigo de forma diferente, menos “manual de instruções”, já que a complexidade – e põe complexidade nisso – do software é bem maior. Além disso, no próprio programa há um tutorial com todas as informações necessárias ao usuário (infelizmente, sem imagens).

Logo que larguei o gamão e passei a me dedicar exclusivamente ao poker, em 2004, o grande manda-chuva dos softwares era o Poker Tracker, que ainda é o mais conhecido e usado. Lembro que fiquei muito impressionado quando puder ver as informações sobre como eu estava jogando os sit-and-go´s de $22. Corrigi erros grosseiros puramente através de demonstrativos numéricos. Eu jogava com “índice de agressividade” (um cálculo complexo sobre suas apostas preflop-flop-turn-river )de 1,0 – e em sit and go isso equivale à derrota certa. Aumentei para 3-3,5 e pensei: “software milagroso”.

Mas eu gostaria de ter acesso também às estatísticas dos oponentes na tela do jogo, algo como um “raio-x” de todos os oponentes disponíveis durante a partida, na tela onde o jogo acontecia. O problema é que para isso, o Poker Tracker precisava de um Heads-Up Display (HUD), termo usado para qualquer programa de estatística na mesa.

MAIS USADO NAO SIGNIFICA MELHOR
Foi aí que meu amigo Albert Silver, um geniozinho de programas de computador, me apresentou o Poker Office. O programa era muito menos pesado para a máquina do que o Tracker. Neste, conforme se aumentava o banco de dados, o seu manuseio ficava inviável. Era preciso compactar as mãos toda semana, mas com o Poker Office esse tormento acabou.

 E mais, as estatísticas dos adversários apareciam diretamente na tela do torneio, sem a necessidade de um programa auxiliar rodando simultaneamente. Não tive dúvidas quando vi isso tudo, e no mesmo instante passei a usar o Poker Office. Era como um Tracker mais leve, com todas as opções de análise de dados, sem precisar utilizar um decodificador.

Aconselho dispor as estatísticas em duas linhas, como no diagrama à esquerda (zoom em vermelho). Na primeira, coloquei “Número de Mãos”, “Vpip”, “Pf” e “Agression Factor Total Preflop”. Na segunda, “Aggression Factor Flop”, “Turn”, “River”, “Folded BB to Steal” e “Showdowns When Saw Flop”. São estatísticas que você facilmente adiciona e remove, e que selecionei especialmente para torneios sit and go (vide diagrama à direita, zoom em verde). Em Multi-Table Tournaments e Cash Games as prioridades obviamente são diferentes, e fica ao gosto do usuário selecioná-las ou não.

Para me manter atualizado, eu leio tudo o que posso no fórum da 2+2 (www.2+2.com) , na sessão softwares (conteúdo em inglês). E é tudo mesmo. Nem um livro a respeito foi lançado. Artigos em revistas online? Esqueça. Em sites como CardRunners  até é possível encontrá-lo em funcionamento, mas nada de explicações sobre ajustes. Sou um otimista de plantão, e acho que em breve, com conhecimento e informação, tudo evoluirá.

Mas no caso do Poker Office, apesar de ser muito melhor que o Tracker (enfim teremos terceira versão do Poker Tracker, espero que sejam corrigidos os erros das outras versões), não houve a devida evolução dos seus programadores, e aguarda-se um upgrade de verdade há muito tempo.

Acredito que nada mudará tão cedo. Esse é um dos motivos pelos quais o Poker Office é tão pouco falado atualmente na 2+2. Outro detalhe é que o programa em destaque atualmente (merecidíssimo), o espetacular Hold´em Manager está roubando todas as atençoes. Esse é o programa que utilizo, e de que falarei no próximo artigo. Torço para que este seja bem divulgado, dando uma chacoalhada nos criadores do Poker Office e do Poker Tracker, bem como para que outros programas surjam, quem sabe gratuitos.  Esse tema do “software livre” também será um dos que discutiremos mais adiante.




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