EDIÇÃO 13 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Jogando Contra um Maníaco

Como minimizar as perdas


Marc Karam

Em cash games de limites baixos ou médios, não é incomum se deparar com um genuíno maníaco — alguém que aumenta com quaisquer duas cartas, blefa de maneira insana e parece não ter respeito pelo dinheiro. Quando você joga em limites mais altos, esse tipo de oponente se torna bem mais raro. Portanto, eu fiquei bastante surpreso quando me encontrei jogando heads-up online contra um genuíno maníaco em uma mesa de no-limit hold’em de $100-$200 recentemente. Era uma sessão insana com grandes oscilações, mas eu creio que consegui minimizar minhas perdas e maximizar meus lucros. Nesta coluna, quero analisar uma difícil mão que joguei durante aquela sessão, e lhes mostrar meu raciocínio sobre como o estilo de jogo de meu oponente influenciou minhas decisões.

Eis a situação/mão:

Eu estou no button com $20.000 e meu oponente está no big blind com um pouco mais de $60.000. Estamos heads-up e eu recebo J 10. Eu falo primeiro e faço tudo $800. Meu oponente paga e nós vemos o flop Q 9 6. Meu oponente pede mesa e eu aposto $1.200. Ele paga. O turn é o 8 e meu oponente inicia apostando $3.200, e eu apenas pago. O river traz o K e meu oponente toma a iniciativa novamente, dessa vez apostando $7.200, e, mais uma vez, eu só pago. Ele mostra 5 2, acerta um flush e puxa o pote.

Eu acredito que, levando em conta o estilo de jogo de meu oponente, eu perdi o mínimo na mão. Eis minha linha de raciocínio em cada street:

Pré-flop: Eu tenho posição, estou heads-up, com cartas altas conexas. Aqui, na maioria das vezes, eu faço um aumento padrão contra a maior parte dos oponentes. Seu pagamento simples me diz que ele provavelmente não tem um monstro, nem mesmo um par. Tendo em vista a imagem dele, eu deduzo que ele tem duas cartas aleatórias. Na verdade, como ele havia me mostrado propensão a reaumentar com qualquer tipo de mão com cartas semi-conexas, cartas de figuras ou qualquer par, eu concluo que ele pode muito bem segurar qualquer lixo.

Flop: O pedido de mesa dele no flop indica que ele provavelmente não se beneficiou. A verdade sobre maníacos genuínos é que eles sempre apostam. Raramente fazem slowplay, então é improvável que ele esteja querendo armar contra mim fazendo um check-raise. O flop me deu um draw razoável, mas, diante das duas cartas de paus no bordo, não quero que meu oponente veja uma carta grátis. Geralmente, apostar com um draw lhe dá duas maneiras de ganhar a mão: ou seu oponente desiste ou você acerta o draw e mostra o melhor jogo. Nesse caso, eu não achei que apostar fosse fazer com que meu oponente desistisse. Ele é louco o suficiente para pagar com quase qualquer coisa, e esperar para desistir no turn. Portanto, na verdade eu estou apostando pelo valor. Se e quando eu formar, minha mão estará bem disfarçada, e eu provavelmente posso induzir um blefe ou dois desse cara em streets posteriores.

Turn: O turn é uma carta perigosa porque me dá o nut straight e também coloca fornece uma possibilidade de flush. Eu esperava que ele liderasse as apostas não importando que carta surgisse. Portanto, essa aposta não me surpreende, mas tampouco me dá muitas informações. Basicamente, ele tem o flush ou está blefando. Muitos jogadores aumentariam nessa situação para conseguir alguma informação. O problema em se aumentar contra um maníaco é que isso raramente lhe dá muita informação, já que ele paga ou até reaumenta com mãos bastante marginais. A última coisa que eu quero nesse cenário é um reaumento. É importante forçar os maníacos a lhe mostrar as mãos deles. Além disso, se meu oponente estiver blefando aqui, quero dar a ele a chance de atirar de novo no river. Finalmente, tendo em vista minha conclusão de que ele provavelmente tem dois lixos, eu imagino que, se ele montou um flush, foi possivelmente um bem pequeno e meu flush draw com o J ainda pode bater, então eu opto por pagar.

River: O river aqui é difícil. Meu pagamento no turn deve tê-lo assustado um pouco – certamente alertaria um oponente mais direto. Mas, para um maníaco, o pagamento provavelmente aparenta fraqueza, como se eu tivesse agido para induzir outro blefe, se ele estivesse blefando. Portanto, agora surge um dilema pseudomatemático. Incluindo a aposta dele, o pote contém $17.600, e me custa $7.200 para pagar. Eu tenho odds de quase 2,5-1 sobre meu dinheiro. A questão se torna: “Quais são as odds se ele estiver blefando?” Em minha mente, para cada vez que ele me derrotar nessa situação, haverá pelo menos três vezes em que minha mão será boa. Eu concluí isso baseado puramente na maneira como observei meu oponente jogar. Definitivamente, ele é louco o suficiente para blefar em pelo menos 75% das vezes. Eu pago, e perco. Mas acredito que tenha sido a decisão correta, pois, ao longo do tempo, essa mesma jogada deve resultar em uma expectativa positiva.

O problema com maníacos é que eles blefam tanto que você geralmente tem que pagar as apostas deles em situações complicadas. É preciso forçá-los a lhe mostrar uma mão melhor; caso contrário, perderá dinheiro ao permitir que eles passem por cima de você. A chave é se colocar em uma boa posição para pagar tentando manter os potes pequenos quando você tiver uma mão vulnerável. Se conseguir controlar o tamanho do pote, pode pagar com mais freqüência, induzindo mais blefes deles ao longo do tempo. Nessa mão em particular, apenas pagar no turn me permitiu mostrar minha seqüência gastando o mínimo possível. Um aumento no turn teria sido catastrófico. Assim, muito embora eu tenha perdido para esse oponente mais do que teria perdido para um jogador menos imprevisível, eu definitivamente acredito que perdi o mínimo, considerando as circunstâncias.




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