EDIÇÃO 13 » COLUNA INTERNACIONAL

Estado de Espírito Também Faz Parte do Jogo

Varie seu jogo com base no pensamento de seu oponente


Roy Cooke

Quando se joga em um nível no qual seus oponentes compreendem os fundamentos do poker, a maior diferença na habilidade de jogo é ler os adversários com precisão e executar as jogadas corretas com base em tais leituras. Não se trata apenas de ler as mãos ou gama de cartas de seu oponente, mas também os pensamentos dele e como eventos passados moldaram seu raciocínio para as decisões que ele irá tomar na situação atual.

Eu estava eu uma mesa loose-passive de limit hold’em de $30-$60 no Bellagio. Vários jogadores entraram de limp, eu aumentei do button com A T, ambos os blinds pagaram e seis de nós vimos o flop. O dealer virou KQ6, e a mesa rorou em check. Com quedas para nut-straight e nut-flush, atirei uma aposta que foi paga por vários jogadores. O turn veio K. Depois de todo mundo pedir mesa até mim, eu apostei, achando que tinha certa equidade de fold se ninguém tivesse um rei; além disso, minha mão ainda tinha valor significativo, caso alguém pagasse. Apenas o small blind, um jogador que tinha disputado a sessão muito passivamente, pagou. O river foi o 8, o small blind pediu mesa e eu fiz o mesmo depois dele, achando que ele pagaria com qualquer par ou melhor e desistiria com uma mão pior. Ele revelou J9, uma queda para flush menor e para gaveta, e ambas não bateram. Alegre, recolhi o pote sem nem um par.

Na mão imediatamente seguinte, eu vi que tinha dois valetes e aumentei contra um limper que estava em posição inicial. O Sr. Passivo, small blind na mão anterior, apenas pagou meu aumento, do button. Ambos os blinds deram call e, em cinco, vimos o flop, que veio Q 6 4. Todos pediram mesa até mim, eu apostei e logo tomei um raise do Sr. Passivo. A mesa rodou em fold.

Eu não gosto de me deparar com aumentos de jogadores passivos quando estou com um underpair. É um cenário difícil na qual eu preciso jogar um bom poker, ler bem meu oponente e chegar a uma conclusão com base no tamanho do pote e na probabilidade de minha mão ser boa no river.

Nessa situação específica, me perguntei se havia alguma razão que levasse meu oponente a aumentar com uma mão que não contivesse uma dama, já que ele previamente não havia demonstrado nenhuma propensão a aumentar com menos do que um top pair com um bom kicker.

Eu não precisei procurar muito em meus arquivos mentais. O Sr. Passivo parecia irritado com o fato de eu ter vencido a mão anterior sem um par. Achei que ele poderia estar blefando, pensando que eu aposto com mãos fracas, ou aumentando com uma mão fraca, pensando que eu tinha uma ainda mais fraca. Eu decidi dar check-call, induzir apostas da parte dele e ir até o showdown. Fazendo isso, eu adquiria apostas extras dele se minha mão fosse boa e me defendia de ser forçado a largar, e não perdia apostas extras caso minha mão fosse inferior. Sim, isso podia me custar o pote, se eu não o obrigasse a desistir de uma mão inferior que poderia melhorar e me derrotar, mas eu não achava que fosse favorito, e considerei pequenas as chances de ele desistir de sua mão, tendo em vista o estado emocional em que se encontrava, e que tinha uma expectativa geral maior com check-calls.

O turn foi o 9 e o river, o 3. Eu pedi mesa ambas as vezes e paguei, e ele me mostrou 7-7. Eu revelei meus J-J e levei dois potes seguidos!

Essa mão mostra como variar seu jogo com base no pensamento de seu oponente. Eu jamais teria pagado o aumento desse jogador em particular apenas com um underpair se não tivesse raciocinado assim. Como ele apostava apenas com mãos premium, e não com draws, pagar com um underpair que tinha pouca probabilidade de melhorar em geral seria incorreto. Mas, já que eu senti o desgosto dele por eu ter levado o pote anterior sem um par, seria razoável que ele mudasse seu raciocínio com base nesse estado emocional e tivesse uma nova abordagem.

Freqüentemente eu digo que o número de variáveis a serem consideradas quando se toma uma decisão no poker são tantas a ponto de serem praticamente infinitas. Como nesse exemplo, o histórico de seu jogo contra alguém (nessa sessão ou em anteriores) afeta como a mão vai ser jogada? Alguma coisa o deixou tiltado? Ele acabou de ter uma mão derrotada, ganhou um pote ou se recuperou? Ele está distraído com a garçonete ou o jogo na televisão? A esposa dele acabou de chegar para vê-lo jogar? E assim por diante, ad infinitum. Todo elemento cultural, bioquímico ou circunstancial de cada um de seus oponentes e de si mesmo faz parte de cada decisão. Obviamente, algumas dessas variáveis pesam mais que outras. E de algumas delas você pode ter ciência, enquanto de outras não. Mas é preciso fazer o melhor que se pode com os dados disponíveis no momento de decidir.

Quando analiso uma jogada, eu me pergunto: “Existe alguma razão que faça esse jogador crer que uma jogada fora do padrão possa funcionar aqui?” Ou: “Existe algum motivo para achar que ele desviaria de seu jogo padrão?” Embora nem sempre seja possível ter certeza de que estou correto e – provável e geralmente – esteja mais propenso a errar, em minha análise de tais variáveis, tais pensamentos me dão equidade suficiente para fazer da análise parte de meu jogo vencedor.

E embora eu possa parecer idiota quando erro, pareço brilhante quando acerto… bem, pelo menos é o que eu acho!




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