EDIÇÃO 12 » FIQUE POR DENTRO

Filosofia do Poker: Uma Boa História


David Apostolico

Pense nas melhores histórias que você conhece totalmente não relacionadas ao poker. Eu não estou falando de livros ou de coisas que você testemunhou. Estou me referindo ao folclore e à lenda: o tipo de histórias que são passadas geração após geração e que, não importa o quão fantásticas ou apócrifas elas pareçam, são aceitas como verdadeiras. Você deve ter algumas relativas à sua própria família. Caso contrário, qualquer passagem da Bíblia serve.

Não importa qual seja sua crença, eu acho que todos somos capazes de reconhecer o impacto que as histórias religiosas têm milhares de anos depois dos fatos. O que todas essas histórias têm em comum? Cada uma delas é uma boa história individual repetida diversas vezes. Isso lhes dá o poder de permanecer e as permite ecoar.

Mas o que isso tem a ver com o poker? Bem, cada mão de poker é como uma pequena história. Um bom blefe ou um slowplay deve ser plausível para poder ser efetiva. Existe muita literatura escrita sobre como blefar, e eu não repetirei isso aqui. Contudo, existe mais nessa história do que o que acontece em mãos selecionadas.

Toda história precisa de alguns elementos para poder ter algum crédito. Primeiro e mais importante, ela deve ser fidedigna ou acreditável. Nenhuma história seria levada a sério sem um contexto. Não espere conseguir êxito em um blefe durante sua primeira mão na mesa. Blefes tomam tempo e dependem de sua reputação. Eis a parte crítica: enquanto um blefe executado na hora certa deve ser uma história crível, suas chances de sucesso dependem das histórias contadas antes. Isto é, se você convenceu a mesa de que é um jogador tight contando essa história repetidas vezes, isso é o que irá ressoar. Sua reputação precede seu jogo e é aceita como senso comum. A boa notícia é que você não precisa de milhares de anos para que essa história se torne popular. Alguns folds podem ser suficientes.

Além disso, uma boa história precisa de um público receptivo. Nem todo mundo gosta de ficção científica. Alguns gostam de mistério, outros de suspense e, é claro, existem sempre os apaixonados por romances. Não importa que história você queira contar, certifique-se de que conhece seu público. Geralmente se diz que, contra maus jogadores, é preciso jogar melhor que eles. Não tente fazer o que Mike Caro chama de “jogadas de efeito”. A lógica por trás desse raciocínio é que esses jogadores fracos não prestam atenção às histórias, então não perca seu tempo desenvolvendo um enredo.

Porém, muitos jogadores — especialmente nos limites mais altos — prestam atenção. Esse é seu público. Você deve direcionar sua história a eles e torná-la o mais envolvente e acreditável possível. Evite buracos em sua história que possam levar à descrença ou à perda de seu público. É por isso que, em geral, nunca é sábio mostrar suas cartas se você não precisar, a não ser que esteja absolutamente convencido de que, fazendo isso, sua história será beneficiada.

E é quase impossível ter certeza absoluta. Eis por que: sua versão da história é apenas metade dela. Como os leitores (ou, nesse caso, os adversários) interpretam-na é a outra metade. Quantas vezes você leu um livro ou viu um filme e teve uma visão diferente da de um amigo que também leu o mesmo livro ou assistiu ao mesmo filme? Quando você mostrar essas cartas, pode achar que está dizendo uma coisa, mas isso talvez seja interpretado de maneira totalmente diferente. Jogadores mais astutos irão perguntar por que você está mostrando suas cartas e questionar a autenticidade da história. O enredo começa a apresentar falhas. Conhecimento prévio não é necessário para que uma história seja verossímil. É a repetição de uma boa história várias e várias vezes que a torna uma lenda.

David Apostolico é autor de inúmeros livros de poker, incluindo Tournament Poker and The Art of War e Poker Strategies for a Winning Edge in Business. Você pode contatá-lo no endereço eletrônico thepokerwriter@aol.com.




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