EDIÇÃO 12 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Empurrar é Divertido!

Os fatores estratégicos importantes por trás disso


Rolf Slotboom

Trata-se de um fenômeno recente. Em quase todo torneio de no-limit hold’em você vê pessoas fazendo apostas muito altas ou aumentos ou re-aumentos all-in — geralmente com mãos que são medíocres, na melhor das hipóteses. Apesar do fato de arriscarem tantas fichas com cartas que não parecem sustentar isso, na maioria das vezes essas pessoas que adoram “empurrar” não são idiotas, absolutamente — e elas também não estão apostando pelo prazer de apostar. Com muita freqüência, têm uma razão estratégica clara para fazer o que fazem, e tenho autoridade para saber disso — pela simples razão de que eu sou um exemplo típico desse comportamento.

Para algumas pessoas, essa prática parece bastante estúpida. Por exemplo, quando meu big blind sofre um aumento e eu decido voltar all-in com uma mão como 86, alguém paga e eu tenho que mostrar minha péssima mão, há sempre alguém rindo ou gargalhando desse famoso “especialista” que arriscou sua vida no torneio com um mero 8-high. Ainda assim, eu uso essa estratégia como parte essencial de meu arsenal no poker. Então, quais são as razões por trás disso?

Bem, em termos simples, os fatores seguintes precisam coexistir para empurrar ou empurrar “com eficácia” (colocando pré-flop 55% a 70% das fichas — o que significa que você está comprometido, e que o resto de seu dinheiro irá sempre para o pote depois do flop) ser uma estratégia viável:

• Estar na fase final de um torneio, com blinds e antes significativos.

• O dinheiro ter se tornado um pouco escasso, ou seja, a estratégia comum de fazer um aumento pré-flop padrão e depois desistir (em regra) em vez de re-aumentar se tornou muito cara; perder um ou dois potes desse modo afetaria demais seu estoque.

• Ainda assim, o dinheiro não pode ser tão ralo a ponto de sua aposta ou aumento quase sempre ser paga (por exemplo, por alguém que tenha um estoque maior).

• Ter fold equity. Existe muito dinheiro no pote por causa dos blinds, antes e quaisquer pagamentos ou aumentos que seus oponentes tenham feito, o que faz com que levar apenas esse dinheiro do pote seja uma meta viável. Se você decidir empurrar seu estoque aqui e achar que há boas chances de ninguém pagar, isso é fold equity: uma situação em que a qualidade de suas cartas não é a razão mais importante para fazer a jogada (se você tivesse feito um pequeno aumento que não lhe comprometesse com o pote ainda, um de seus oponentes poderia ter usado a oportunidade para ir de all-in, colocando você em teste e achando que ele tem fold equity. Para evitar que isso aconteça, um aumento inicial grande e que lhe comprometa com o pote é muito melhor nesse estágio do torneio do que um aumento menor e padrão).

• Estar enfrentando apenas alguns jogadores, que não investiram na mão ou ainda não jogaram. Quanto menos oponentes tiver que intimidar, melhor — posto que é provável que as chances de qualquer um deles ter uma mão suficientemente grande para pagar diminui.

• Seus oponentes são tight, respeitam seu jogo e não são do tipo que pagam apostas altas, ou são mais determinados a subir degraus na corrida pelos prêmios do que a ganhar o evento.

Quando comecei a jogar profissionalmente em 1998, uma estratégia comum em torneios entre os bons jogadores era abrir com um aumento para roubar os blinds e antes, pois a maioria dos oponentes não era sofisticada o suficiente para revidar com qualquer mão; eles quase sempre esperavam por uma grande mão para revidar.  Resultado: os jogadores agressivos ganhavam muitos potes sem disputa e podiam facilmente descartar mãos como A-10 ou A-J se houvesse um re-aumento, pois acabariam empatando na melhor das hipóteses ou geralmente estariam ligeiramente por baixo. Mas, em anos recentes, os jogadores, especialmente os mais jovens, aprenderam o valor da agressividade sem escrúpulos. Ao testar seus oponentes com todas as suas fichas, esses garotos ganham muitos potes (relativamente grandes) sem disputa quando fazem o adversário desistir, pois seus oponentes temem enfrentá-los, sabendo que cada pote poderia lhes custar todo o estoque. Isso possibilita que eles ganhem ainda mais potes sem disputa — e em torneios de poker, com blinds e antes altos, essa é uma situação excelente.

Portanto, é claro que a abordagem de empurrar tem bastante mérito na reta final de um torneio. Sim, é extremamente arriscada e tende ao desastre com freqüência, mas, quando executada no momento certo e contra os jogadores certos (e, é claro, se tivermos sorte uma vez ou outra quando alguém pagar), podemos intimidar e assustar as pessoas e ganhar o título sem precisar mostrar muitas mãos.

Quando comecei a jogar torneios e ainda tinha uma imagem muito tight de meus anos de cash games, eu usava a abordagem de “quaisquer-duas-cartas-servem” se achasse que a situação era ideal para fazer uma aposta ou aumento exagerado ou mesmo empurrar all-in, especialmente se estivesse diante de alguém que iniciou aumentando e que fosse tight o suficiente para descartar A-Q se eu fosse agressivo. Eu não precisava de uma mão para ser atrevido se achasse que ele não tinha uma grande mão nessa rodada. Eu fazia isso com desenvoltura ainda maior com uma mão quase-sem-força-no-showdown como 54 ou 87, assim como com qualquer outra mão.

Obviamente, quando você começa a usar essa tática de empurrar com maior freqüência, seus oponentes começam a perceber. Afinal, eles leram Kill Phil e, se suspeitarem que você está usando a tática desse livro, irão pagar até mesmo seus maiores aumentos e re-aumentos com mãos marginais. Se eu notar que um jogador que tem esse raciocínio está no big blind, eu mudo minha abordagem de empurrar da seguinte maneira:

• Eu começo dando overbet com minhas mãos fortes. Em vez de fazer um típico aumento de três vezes o valor do big blind com A-K, eu abro aumentando 10 ou mesmo 12 vezes o big blind (isso presume que meu estoque seja menor do que 20 big blinds numa situação em que há antes. Com 25 big blinds ou mais e/ou quando não há antes, não é preciso apertar o botão do pânico tão cedo. Você pode ainda empurrar ocasionalmente quando outra pessoa abriu aumentando, mas, se ninguém abriu antes de você, um aumento enorme assim seria um risco muito grande para um ganho muito pequeno). Se o big blind tiver um ás mais fraco do que o meu ou mesmo uma mão fraca como K-Q, ele provavelmente apostará todo seu estoque, achando que eu posso estar tentando afastá-lo dessa mão sem nada.

• Eu não jogarei mais de forma agressiva com minhas mãos marginais. Irei apenas descartá-las ou — quando em posição — posso pagar ou aumentar o mínimo, mas sem exagero. Afinal, não vale a pena tentar representar força por meio de grandes raises quando seu oponente acha que isso é sinal de fraqueza e não de força.

Se você levar em consideração todos esses fatores, e utilizar a técnica de empurrar (a) esporadicamente, (b) quando sua imagem for tight, (c) quando o jogador que abriu aumentando não tiver necessariamente uma grande mão e (d) ele não for o tipo de jogador que se impõe com mãos como A-10, A-J e mesmo A-Q, simplesmente “empurrar” pode ser uma estratégia incrivelmente boa.

Obviamente, se for pego e for eliminado de um grande torneio indo de all-in pré-flop com algo como um mero 7 ou 8-high, você definitivamente parece idiota e se sente idiota. Mas isso não significa necessariamente que você jogou de forma idiota — pois sua abordagem poderia ter sido correta, tendo em vista as circunstâncias do jogo, a estrutura dos prêmios e as tendências de seus oponentes.

Rolf tem jogado cash games profissionalmente desde 1998. Ele é autor do bem sucedido livro Secrets of Professional Pot-Limit Omaha e co-autor de Hold’em on the Come. Ele é criador e apresentador da seqüência de quatro DVDs Rolf Slotboom’s Winning Plays. É o primeiro Campeão Alemão e mantém seu próprio website em www.rolfslotboom.com




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×