EDIÇÃO 100 » COLUNA NACIONAL

Ano Dourado - Parte I


Felipe Mojave
A luta de um jogador de poker profissional é definida assim: manter a lucratividade e melhorar seus próprios resultados. Nos dois últimos artigos do ano, vou contar um pouco sobre o meu desempenho no poker ao vivo em 2015 e por que essa frase encaixou como uma luva para mim, mas sempre com o intuito de ressaltar pontos importantes para quem já joga ou tem vontade de rodar o circuito mundial.
O início de 2015 foi muito bom. Fiz Dia 5 no PCA (PokerStars Caribbean Adventure), um dos torneios mais importantes do ano e, provavelmente, o com nível técnico mais elevado. Acredito que foi o torneio que melhor joguei em toda minha carreira. Tomei as melhores decisões e evolui bastante. Saí de lá outro jogador. Em 2009, já tinha conseguido uma 22ª posição entre 1.500 jogadores. Neste ano, fui o 18º de 816. 
 
Depois de um torneio, independente da sua colocação, o que importa é saber que você jogou bem.
Nesse PCA, eu perdi uma mão logo no início do torneio e fiquei short. Avancei com poucas fichas e quando consegui aumentar meu stack, fiz uma bobagem na última mão do dia e passei short novamente. Mas aprendi muito com ela — e, no longo prazo, posso dizer que foi um “erro lucrativo”.
 
No final do Dia 3, em que eu tinha conseguido imprimir o meu ritmo de jogo, o que é muito difícil, já que o PCA é o major mais difícil da temporada, tive uma decisão extremamente complicada. Era a primeira entre as três últimas mãos do dia: se eu desse o call e estivesse errado, me iria para o Dia 4 com apenas 17 big blinds. Definitivamente, eu não queria passar por aquilo outra vez. A ideia era avançar com um stack confortável, superior a 40 big blinds. Passou todo aquele filme do dia anterior pela minha cabeça, mas acabei dando um dos call mais lindo da minha carreira, com Q-high. Mais feliz do que o call certeiro, fiquei muito emocionado com a minha própria evolução como jogador.
 
Já no Dia 4 fiz um excelente torneio e avancei para o Dia 5 sem dificuldades, apesar de ter tido a chance de me tornar o chip leader depois de perder dois flips. No Dia 5,  fiz tudo o que podia, mas fui eliminado em uma mão “sick”, como dizemos no jargão do poker. Em um duelo de small blind x big blind, eu acabei acertando um full, mas meu oponente tinha uma quadra. Depois de ter estudado, visto e revisto a mão, tenho certeza que a decisão foi muito boa e alinhada com o racional de angariar fichas e controlar o jogo. No final, o resultado espetacular, um dos mais gratificantes da minha carreira.
 
Chegando a Las Vegas, no meio do ano, mais uma vez tive chances de faturar o bracelete de ouro da World Series of Poker (WSOP). Fui eliminado na 10ª colocação no evento $3k PL Omaha 6-Max. Independente de ter ganhado o evento ou não, mais uma vez a sensação foi de dever cumprido. O sonho do bracelete foi adiado para 2016, mas ainda faltava o Main Event. 
 
No maior torneio de poker do mundo, joguei melhor do que nunca. E é justamente assim que sabemos que estamos em constante evolução, em um nível bastante alto: sair de um torneio achando que fez o melhor torneio na carreira e, no torneio seguinte, se sair ainda melhor. Foi o meu 8º Main Event da WSOP e o meu primeiro ITM. 
 
Como no PCA, avancei outra vez até o Dia 5. Foi uma maratona muito revigorante e de aprendizado sem igual. Aconteceram mãos incríveis, entre elas, um fold com AK, em que o adversário me colocou em all-in no bordo Q82 Q 6. Sim, eu completei o nut flush e tive que dar fold. Meu oponente não mostrou e ninguém ficou sabendo o que ele tinha. Um mês depois, encontrei com ele no European Poker Tour (EPT) de Barcelona. Conversamos bastante sobre a mão e ele disse que tinha full. Verdade? Nunca saberei. Tendo ou não tendo, sei que minha análise foi minuciosa e fiquei bem satisfeito com minha decisão. Dei fold e fiquei com 240.000 fichas, exatos 24 big blinds. Era um stack mais do que confortável para mim. 
 
Logo após a mão, fui movido logo para a mesa principal da TV. Apesar da mão anterior ter sido uma perda enorme, cheguei bastante confiante na “feature table”. Como de se esperar, grandes jogadores estavam sentados por lá, inclusive, à minha esquerda, ninguém menos que Daniel Negreanu. Mas isso vai ficar para a coluna do mês que vem.
 



NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×