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Pelos Campos do Patriarca

Doyle Brunson, o rosto de uma geração do poker



31/03/2012
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Os deuses do poker são caprichosos. Eles fizeram um dos maiores nomes do esporte nascer em uma cidade tão pequena que dificilmente alguém teria a coragem de organizar um torneiozinho sequer por lá. Em Longworth, onde sol arde e a terra queima, o que cerca os seus habitantes é a imensidão. E só. Nesse cenário, veio ao mundo o “patriarca” do poker moderno, a lenda viva, Doyle Brunson.

Desde a infância, Doyle sempre esteve ligado aos esportes, principalmente o basquete. Quando todos os alunos iam para casa, ele ficava no ginásio, treinando. Filho do administrador da quadra, enquanto o garoto não praticasse o suficiente, ficaria “preso” no local.


Jovem promissor, Doyle foi cobiçado por várias equipes da NBA, inclusive a grande força da época, o Minneapolis Lakers.

E o suor derramado no ginásio empoeirado rendeu grandes frutos. Quando Doyle chegou ao ensino médio, o filho do dono da quadra foi eleito para seleção do estado. Olheiros de todo o Texas vinham observar aquele garoto de pernas compridas e impulsão impressionante.

O moleque Doyle tinha a velocidade de um puro-sangue, fazendo com que também os treinadores do atletismo parassem para observar aquele jovem de futuro promissor nos esportes. Após concluir o colegial, as cartas das faculdades que queriam tê-lo se amontoavam na porta da sua casa. Dentre todas as opções, sua escolha surpreendeu. Com chances de estudar em grandes centros no país, ele optou pela universidade mais próxima da sua cidade, a Hardin-Simmons University.

Mesmo escondido do mundo, Doyle insistia em chamar atenção. Em Minnesota, o estado dos dez mil lagos, dirigentes do Minneapolis Lakers começavam a cogitar uma viagem para o norte do Texas. O motivo dessa incursão com ares épicos? Doyle Brunson.

Os Lakers eram a principal potência da recém criada liga americana de basquete, a NBA. Em oito temporadas, o time dourado e azul já havia conquistado cinco títulos. Porém, uma contusão acabou afastando Doyle das quadras. O joelho derrubou o gigante de Longworth.

Impossibilitado de fazer qualquer atividade física, ele intensificou os treinamentos em uma modalidade diferente, um esporte da mente, o poker. O estudante aprendera o jogo ainda no colégio, durante os intervalos dos treinos de basquete. Com o tempo, Doyle aprimorou sua técnica, mas jamais imaginou que um dia se tornaria uma lenda dos feltros.


Doyle Brunson inspirou o personagem L.C Cheevar, interpretado por Robert Duvall no filme Bem-Vindo ao Jogo.

Após a faculdade, ele pensava em seguir carreira no poker, mas a pressão de levar uma “vida normal” fez com que ele corresse atrás de um emprego. Apesar de ter um diploma em administração, Doyle começou como vendedor de materiais para escritório. E esse seria o seu primeiro e último trampo convencional.

Após quinze dias de labuta, Doyle percebeu que uma rodada de poker entre colegas de trabalho era mais lucrativa que o seu salário de um mês inteiro. Havia chegado o momento de se dedicar ao jogo.

No início dos anos cinquenta, o poker ainda vivia na ilegalidade. O século XVIII permanecia na cultura do jogo de cartas mais popular da América. No Texas, os jogadores ainda sentavam à mesa armados. Defendiam o seu dinheiro na bala. Assaltos eram rotineiros, e se você não quisesse perder o que havia acabado de ganhar, era preciso coragem para atirar. As sessões duravam dias, e os jogadores só tinham tempo para dormir.

Foi em meio a esse velho oeste que Doyle conheceu duas figuras míticas do poker, e que o acompanhariam para o resto da vida: “Sailor” Roberts e “Amarillo Slim”.  Juntos, aqueles três formaram uma trinca que não temia “quadras” ou qualquer adversário mais forte. Por todo o sul dos Estados Unidos, eles causavam estragos nos cacifes alheios. Isolados do mundo, passavam noites discutindo o jogo, e a parceria se tornou fundamental para carreira dos três. Depois de muito sucesso, a turma concordou que era hora de encarar o deserto. “Bem-vindo a Vegas”, era o que o letreiro luminoso mostrava aos aventureiros.

Só que a viagem não foi como o grupo esperava. Na bagagem de volta, um choque de realidade e uma triste decepção. Os três perderam tudo o que tinham, e o trio foi desfeito. Mesmo assim, Doyle resolveu sentar praça em Las Vegas. E com a mesma velocidade dos seus tempos de colegial, sua carreira decolou.

Ele foi o primeiro jogador de poker a conquistar um milhão de dólares em torneios. Em 1974, conquistou o bicampeonato do Main Event da WSOP, feito igualado por apenas outros três jogadores na história do esporte.


Doyle e Todd Brunson são a única dupla de pai e filho a ter um bracelete de ouro da World Series Of Poker.


Recentemente, em 2005, ele conseguiu o décimo bracelete de ouro na World Series, e com ele a certeza de que a qualidade do seu jogo resistia ao tempo. Doyle “Texas Dolly” Brunson sobreviveu às eras do poker.

Membro do Hall of Fame desde 1988, o patriarca do poker moderno escreveu o livro que, para muitos, é a bíblia do jogo, o “Super System”. Hoje, aos 78 anos, Doyle ainda participa dos torneios da WSOP, e é um frequentador assíduo da Bobby’s Room do Bellagio, uma das mesas mais caras e célebres de Las Vegas.

Com uma história tão fascinante e uma carreira de tanto sucesso, Doyle Brunson é a prova viva de quão caprichosos são os deuses do poker.


Diego Scorvo

Especialista em esportes desconhecidos, encontrou no poker um porto seguro. Converse com ele cinco minutos, e ele vai citar umas cinquenta pessoas. Vinte delas não existem, dez você não conhece e o resto ele falou o nome errado.


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